domingo, 8 de maio de 2016

Conflitos: problema ou solução?


Ao longo da vida dos seres humanos o enfrentamento de conflitos é recorrente desde os primeiros dias de vida. Conflitamos com a fome, o ar e também com as cólicas nas primeiras semanas de vida. Viver é conflitar continuamente, mas então por que isso ainda é considerado um desafio pela maior parte das pessoas?

Geralmente palavras e sentimentos negativos são relacionados aos conflitos. Por exemplo: medo, perda, fuga, humilhação, mágoa, perda de produtividade, mal estar, terror, raiva, e também dor. Mas efetivamente os conflitos remetem a coisas ruins?

Os conflitos não podem ser considerados dentro de definições fechadas e antagônicas. Um conflito não é bom nem ruim: o que define a sua qualidade e suas consequências é a forma de lidar com eles. De fato, o conflito pode ser um motivador de mudanças. De acordo com Albert Ellis, fundador da Terapia Racional Emotiva, uma das primeiras e clássicas terapias cognitivas, nossos pensamentos são base das nossas emoções e dos nossos comportamentos, atitudes. Segundo esta abordagem, o comportamento e o afeto são largamente determinados pelo modo como o indivíduo estrutura o mundo, como olha para as coisas e como interpreta essas coisas. O pensamento, ou melhor, a cognição ocupa o ponto chave para a compreensão das ações humanas. Portanto, pensamentos adequados e ajustados frente a um conflito proporcionarão ao indivíduo embasamento para sentimentos e ações adequadas, ajustadas e funcionais frente as mais diferenciadas situações. 

Mas, o que se entende por CONFLITO?

Conflitos são não conformidades, e em suas raízes costuma-se identificar:

Valores: diferentes visões de certo/errado, diferentes estilos de vida, religiões, cultura;

Estruturas: desigualdade na divisão de recursos, de poder, de autoridade;

Definições: de papéis, de tempo, de dinheiro, de relações; e 

Informação: falta ou erro, interpretação distorcida, interesses divergentes. 

Ainda, os conflitos podem ser:

1. Interno: quando a pessoa se encontra hesitante ou insegura entre alternativas excludentes ou sentimentos que parecem opostos.

2. Externo: decorrente das divergências de crenças, ações e interesses nas relações interpessoais.

3. Conflito latente: manifesta-se no clima de tensão e insatisfação, intensificando sentimentos de frustração, desconfiança e desarmonia no nível intrapessoal ou interpessoal. Ocorre principalmente devido a pessoa envolvida preferir não manifestar claramente seu desconforto ou desagrado.

4. Conflito manifesto: é visível e palpável, trazendo também sentimentos negativos.

Mas afinal, como é adequado lidar com um conflito? Existem diversas estratégias de confrontamento. Dentre elas, pode-se destacar: 

Evitar: quando a pessoa evita situações ou comportamentos em que o conflito seria resolvido.

Desistir: a pessoa deixa que o outro conduza a situação à sua maneira.

Ser passivo-agressivo: a pessoa não é honesta quanto ao seu desagrado e passa a ser agressiva, mas de forma indireta, podendo ser até irônica.

Tiranizar: o indivíduo consegue o que quer por imposição. 

Entrar em acordo: As partes envolvidas abrem mão de algo para obter equilíbrio entre os desejos.

Buscar soluções conjuntas: Nenhuma das partes abre mão de algo e buscam juntas uma forma em que todos conquistem o que desejam.

Respeitar a outra pessoa: Priorizar o desejo do outro, sem sentir-se lesado ou magoado.

É importante identificar qual é sua maneira mais comum de lidar com conflitos e avaliar sua funcionalidade e adequação à realidade vivenciada. Há pelo menos 7 maneiras para lidar com conflitos, portanto a avaliação das vantagens e desvantagens da maneira escolhida é responsabilidade de cada um, levando em consideração a sociedade na qual se está inserido. Vale ressaltar que muitas vezes a estratégia de evitação é elegida, mas via de regra é considerada uma escolha inadequada por não se basear na realidade, mas em crenças e medos irracionais acerca de si, do outro e do mundo.

Dentre os medos mais recorrentes relatados por pacientes em consultório psicológico, destacam-se: 

Medo de se machucar

Medo da rejeição

Medo de perder um relacionamento

Medo da raiva

Medo de dizer algo errado

Medo de falhar

Medo de magoar alguém

Medo de conseguir o que quer

Medo de intimidade 

A evitação, também chamada de esquiva, é uma estratégia inadequada, pois prevê um ciclo vicioso: ao evitar a situação conflitante, a pessoa experimenta um alívio imediato mas, ao mesmo tempo, inicia o medo da incapacidade de lidar com uma situação parecida no futuro. Ou seja, quem evita não aprende a enfrentar ou solucionar a situação problema que vivencia e, ainda, reforça a ideia de que não possui recursos internos para tal. Como consequência, favorece a repetição desta mesma estratégia de não enfrentamento, e, ainda, o indivíduo costuma experimentar ansiedade pelo futuro, e também uma sensação de frustração que o deprime no presente. 

Ao contrário, ações funcionais incrementam o repertório das estratégias para a solução de problemas e reforçam a mobilização adequada das potencialidades do sujeito. Como resultado, a autoimagem é reforçada, a sensação de bem estar é estabelecida e a pessoa geralmente busca aperfeiçoar as estratégias futuras. 

Logo, pensar e posicionar-se funcionalmente frente aos conflitos é promover saúde. Ao contrário do que se costuma pensar, conflitar não precisa ser ruim, pode ser um delicioso aprendizado. Isto dependerá das estratégias escolhidas para conflitar, mas também da forma como se conceitua o desafio posto. Depende de você!! Mãos a obra!!

Por ANA CAROLINA CABRAL














 - Psicóloga formada pela UNIMEP; 



- Mestre em psicologia pela PUCCAMP leciona tanto na graduação como na pós graduação desde 2007 ; 



- Estudiosa da terapia racional emotiva (REBT); 

- Foco de trabalho junto aos alunos e pacientes: funcionamento psíquico do ser humano; 

- Foco de estudo: 



a relação mãe e filho e os seus desdobramentos psíquicos, especialmente no que tange ao stress e ao sentimento de raiva; 

- Trajetória profissional : 

- Por 6 anos na psicologia das organizações, e mais especificamente, na área de recursos humanos aonde trabalhou nas adaptações do homem no que tange as relações laborais; 

- Após esses anos migrou para a área clínica e mantém –se nesta até hoje; 

- Professora e supervisora de Terapia Comportamental Cognitiva; 

- Atuou por 5 anos como psicóloga hospitalar em uma unidade básica de saúde no município de Campinas e nesta atuação, acolhia as demandas daquela específica população junto ao grupo de profissionais ali também atuantes, realizando, além da psicoterapia individual, muitos projetos e atividades de terapia grupal: grupos de gestantes, para controle do tabagismo, para adolescentes em situação de risco, de crianças e de aconselhamento familiar, além de atuar na contenção de crises; e 

- Atualmente atua no atendimento individual e em grupo de seus pacientes há mais de 13 anos, independente das mais variadas demandas, seguindo como base teórica a Teoria Racional Emotiva de Albert Ellis.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo artigo. Excelente. A vida é um constante conflito, onde buscamos insistentemente por soluções mais adequadas para a homeostase da nossa existência. Grande abraço

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