sábado, 7 de maio de 2016

A era do conhecimento e o novo paradigma da educação



Recentemente dois fatos ocorridos me chamaram a atenção. Um primeiro foi em uma turma de ensino médio, alguns alunos questionaram a razão de existir da escola. Todos concordavam que a maioria dos conteúdos ministrados pelas diversas disciplinas, estão disponibilizados na internet e de uma forma muito mais acessível, rápida e com melhor apresentação. Tudo poderia ser feito em casa e com mais eficiência. Esta questão me tomou. Outro fato foram as manifestações nas redes sociais de inúmeros alunos e ex-alunos com relação ao cenário político atual. Opiniões diversas. Juízos e críticas sobre os fatos e posicionamento acerca dos mesmos.

Estes fatos tomaram minha reflexão e fez que eu buscasse certa justificativa e entendesse melhor este problema. Compartilho aqui, algumas conclusões.

O conhecimento, ao longo da história, sempre foi sinônimo de poder. O filósofo Francis Bacon, nos primórdios da idade moderna, emite a famosa epígrafe: “Saber é poder!”. O domínio do conhecimento sempre esteve nas mãos de instituições e pessoas privilegiadas. Do antigo Egito até as prestigiadas universidades contemporâneas, o poder do saber esteve em algumas mãos. O conteúdo somado ao longo da história é transmitido pelo sábio àquele que carece de sabedoria, o aluno. O ensino tradicional é ensinar, transmitir o conteúdo e cobrar se ele foi retido.

No entanto, nos últimos 20 anos ocorreram mudanças na disponibilização do conteúdo. Com o surgimento e a propagação da internet, tudo passou a ser acessível a todos. Qualquer sujeito, independente de sua classe ou formação cultural, tem a possibilidade de acessar todo e qualquer tipo de ensinamentos acumulados. Os dados estão aí. E com a propagação das redes sociais, agora o sujeito não só acessa o conteúdo, mas pode gerar, criticar e retransmitir. A internet democratizou o acesso e a elaboração de conhecimento, e sua transmissão não é uma exclusividade de alguns. O poder que antes era restrito as instituições de ensino e as grandes mídias, agora é possível a qualquer sujeito possuidor de um dispositivo móvel com acesso a internet. Proliferam infinidades de “bloggers”, “vloggers”, “youtubers”, paginas no Facebook, perfis no Twitter e Instagram que compartilham dos mais diversos temas. Tudo é assunto, possível de ser ensinado, transmitido e comentado. 

A sociedade, que com a propagação da internet havia se tornado a sociedade da informação, com o uso das redes sociais se torna a sociedade do conhecimento. Não cabe ao sujeito simplesmente acessar aos bancos de dados, mas também a emissão de pontos de vista. Cada qual deve ter a habilidade de acessar, analisar e compartilhar. O sujeito consome um conteúdo virtual e não mais é passivo da produção. Ele comenta, dá “like”, crítica ou elogia.

Aqui nasce o descompasso com a educação.

A educação tradicional nos parece não estar preparada para esta nova demanda. Paulatinamente se instaura a necessidade da mudança no paradigma educacional: a educação tem que ser capaz desenvolver um sujeito que faz a interpretação dos dados. O mundo em que vivemos precisa de líderes, gente que relaciona as diversas informações recebidas, as sintetiza e encontra novos caminhos. Os conteúdos já estão aí, é preciso saber utilizá-los.

Todavia, os profissionais de educação, bem como os estudantes, estão no meio deste processo de atualização. Os caminhos para este tipo de pedagogia ainda não estão bem definidos, e por vezes, a geração que detém o domínio do processo formativo não se encontra completamente familiarizado com as exigências e recursos do mundo atual. Este novo modelo ainda não está bem claro, mas está por vir.

Deste modo, surge certa apreensão com relação à educação no futuro, mas também certa esperança. Apreensão pelo risco de que se formem dois tipos de modelos educacionais: um reservado a uma pequena elite crítica, capaz de absorver e sintetizar o mundo ao seu redor, e um outro para a grande massa, repetidora e escrava dos “memes”, que continuará a ter esta enorme potência ao alcance dos dedos, mas sem as habilidades necessárias para usufruir. Mas também, certa esperança com a possibilidade de uma mudança na sociedade que passa pela educação, e gere um cidadão crítico, capaz de processar as abundantes informações que lhe cercam. Um sonho, mas que tem potencial de se tornar real! O certo é que a escola jamais acabará. Ela deve adequar-se a novos modelos e métodos. Dos futuros professores, cada vez mais, será mais exigido. Mas, este aumento de qualidade terá seu reflexo na melhoria da sociedade.

Por FÁBIO DA FONSECA JUNIOR



















- Formado em Filosofia
- Professor da rede pública e privada de ensino de filosofia e sociologia

3 comentários:

  1. Se olharmos de perto ou nem de tão perto assim, veremos que nossos jovens estão usando a Internet esta que esta sendo considerada a mais nova ferramenta de conhecimento, de maneira a desaprender .
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    A leitura , a busca por conhecimento, o desejo de aprendizagem é para poucos. Muito poucos. Observem as redes sociais onde zilhões de mensagens trafegam no dia a dia e que é possível se estabelecer parâmetros onde a certeza absoluta do devaneio e das ações politicamente corretas não atingem nossa juventude.
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    Os propulsores do conhecimento e o saber passam pela necessidade e pela busca constante de saídas para que as coisas evoluam. Isso essa geração que estamos a lhes dar tudo de graça pois não queremos que passem pelas mesmas dificuldades que passamos, que lhes tiramos a NECESSIDADE de pensar e CONQUISTAR e assim a visão que a Internet pode ser uma ferramenta de fomento ao conhecimento pode ser uma utopia.
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    É óbvio que podemos fazer uma REVOLUÇÃO no ensino e na aprendizagem. Mas falta a nossos alunos algo que os incentivem a buscar o conhecimento.
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    Um país onde um semi analfabeto se vangloria de ter chegado lá e onde dizer nóis vai,nóis podi, nóis somus NÓS VAMOS CHEGAR AONDE? NÓS PODEMOS FAZER O QUE? NÓS SOMOS O QUE?
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    Vejam a linguagem da rede...

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  2. Temos muitos desafios pela frente nas questões educacionais,é fato que poder acessar informações está longe de saber processar e transformar conteúdos educacionais em comportamento,o cérebro como um computador,não consegue só com as informações se auto programar,essa é a complexidade que teremos que enfrentar,parabéns prof.

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  3. Temos muitos desafios pela frente nas questões educacionais,é fato que poder acessar informações está longe de saber processar e transformar conteúdos educacionais em comportamento,o cérebro como um computador,não consegue só com as informações se auto programar,essa é a complexidade que teremos que enfrentar,parabéns prof.

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