quarta-feira, 18 de novembro de 2020

A Dependência dos Smartphones e o seu Impacto nas Relações de Consumo


 Autora: Jessica Avance(*)

Durante a última década foi possível perceber um evidente crescimento na utilização da tecnologia para diversas áreas da vida cotidiana da sociedade moderna. O uso dos smartphones se tornou tão essencial e comum, quanto ter uma geladeira, forno, ou micro-ondas em casa.

Na última semana, me deparei com a dificuldade de estar sem o telefone, e percebi o quanto estamos conectados e somos dependentes do referido dispositivo. 

Não nos damos conta de que registramos inúmeros momentos importantes na galeria de fotos, armazenamos documentos fundamentais do nosso trabalho nas conversas de WhatsApp, bem como na memória do telefone, e ao nos encontrarmos privados da utilização do smartphone, nossas vidas parecem sair do lugar. 

Recentemente, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou publicações para orientar pais e responsáveis sobre como conciliar a rotina das crianças e jovens adolescentes, com a utilização saudável de smartphones, computadores e tablets. A preocupação da entidade é com a dependência digital, que acomete inúmeras pessoas nessa faixa etária, trazendo prejuízos causados pelo consumo exagerado de mídias, especialmente durante a atual crise do COVID-19.

Pessoalmente, acredito que tal preocupação também deveria abranger os adultos que estão constantemente inseridos nas redes sociais. É muito comum ver momentos em que, os amigos e familiares, reunidos em uma roda, param de se falar, pegam seus celulares e passam alguns minutos olhando para a tela. 

O uso do Instagram como ferramenta de trabalho se tornou muito mais popular do que a utilização de qualquer outra rede social, de forma que hoje, se um negócio não tem instagram com boas fotos e vídeos do produto, ou serviço, não é considerado 100% confiável. 

Não é novidade também que esses dispositivos móveis se fazem necessários no dia a dia das pessoas para fazer coisas simples como consultar o calendário ou coisas mais complexas como uma vídeo-chamada para resolver problemas referentes ao trabalho. Essa necessidade e aumento da utilização do celular pode colaborar para um uso desadaptativo ou uma relação de dependência com este equipamento. 

É verdade que, nos dias atuais dependemos do celular para muitas coisas, e isso é confirmado pelos benefícios e os aspectos positivos do seu uso. O smartphone é uma ferramenta muito importante para a manutenção das relações sociais, a comunicação e a adaptação das exigências da contemporaneidade. Estudos em diversas áreas mostram muitos benefícios do uso de celulares como auxiliar na abordagem da dependência química, diabetes, asma, transtornos alimentares e transtornos de ansiedade; para o acompanhamento para a perda de peso; reeducação alimentar e o incentivo à prática de exercícios físicos.

Em contrapartida, o uso excessivo do dispositivo, pode trazer vários prejuízos para os usuários como: distúrbios do sono; sintomas ansiosos; sintomas depressivos; dificuldade de concentração; dificuldades na faculdade e no trabalho; dores em várias partes do corpo como pescoço, punho, costas e problema visuais; diminuição de atividades físicas, que pode ser entendida como sedentarismo; problemas financeiros; uso perigoso (enquanto dirige ou atravessa a rua); uso proibido (em áreas nas quais esse comportamento não é permitido, como em bancos por exemplo); comportamentos agressivos por meio do aparelho móvel (cyberbullying); e dependência de smartphone. 

Essa relação de dependência, consequente do uso excessivo do aparelho, pode ser chamada de Nomofobia, ou medo inexplicável de estar afastado do celular. A Nomofobia ainda pode ser definida como: ansiedade, desconforto ou mesmo à irritabilidade manifestados em um indivíduo quando o mesmo se encontra longe de seu aparelho celular.

Foi com base nessa dependência tão grande dos aparelhos celulares, que as grandes marcas vêm inovando cada vez mais seu sistema, e, em contrapartida, utilizando estratégias para que os consumidores fiquem cada vez mais dependentes de suas tecnologias.

Como um exemplo, a Apple. O novo Iphone 12, que será lançado essa semana (dia 20 de novembro de 2020), no Brasil, é um smartphone que vem como componente, somente o cabo carregador. Os acessórios que antes faziam parte do pacote da compra, como fone de ouvido e tomada, não estão incluídos. Essa estratégia faz com que os consumidores tenham que despender uma quantia extra, caso queiram adquirir os referido acessórios.

Não é possível dizer que a prática da Apple é ilegal, mas podemos argumentar que é onerosa e injusta com os leais compradores da marca. Muitos, inclusive, ao adquirir o produto, não esperavam pela surpresa de não acompanhar o celular, a própria tomada usada para carregar o aparelho.

Certo é que, mesmo com referida prática no mercado da tecnologia, a sociedade está tão refém das grandes marcas de smartphones que, mesmo se revoltando com a nova configuração de vendas, em breve, comprar um celular que só vem com o cabo, será considerado absolutamente normal.

*JESSICA FERNANDES AVANCE














- Formada em Direito pelo PUC MINAS;

- Pós-Graduada pela Escola Superior da OAB/MG – em  Advocacia Civil;

- Experiência nas questões afetas à Vara Cível; especialmente na área de Direito do consumidor;

-  Sócia proprietária do Escritório Avance Advocacia;

(31) 99983-8551;


Nota do Editor:


Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Um comentário: