sábado, 21 de novembro de 2020

Hibridismo


Autora: Adriana Soeiro(*)

Após os últimos acontecimentos mundiais, fica difícil imaginar que tudo votará a ser como era antes. Ruim? Acho que não. Pelo menos não para a Educação, por vezes tão resistente às mudanças, os participantes do ambiente escolar lutam para permanecerem em suas zonas de conforto.

Os educadores, principalmente aqueles da Educação básica, vivem compulsoriamente a "Pedagogia do home office", exercendo diversos  papéis simultaneamente: professores , designers instrucionais, youtubers, além dos habituais, mediadores, psicólogos, entre outros. Do dia pra noite, fomos obrigados a nos reinventar e esse é o lado bom. A princípio, uma movimentação desordenada, partimos das ferramentas que tínhamos a mão, atividades xerocadas de sempre, indicação de exercícios da apostila e livro, mas logo percebemos que isso não seria suficiente, uma vez que o isolamento social se intensificava. Logo, passamos a utilizar o whatsApp, telefone Skype, Zoom como facilitadores da comunicação e, posteriormente,  nossa casa passou a ser um valoroso estúdio de gravação. Sem grandes produções, muito menos direção de arte, bastava uma mesa, um notebook ou celular e nossa vontade de fazer o melhor. Foi suficiente? Não posso mensurar esse resultado no momento, mas acredito sim.

Professores, devido à alta carga de trabalho, tendem a se acomodar e replicar de forma pouco elaborada o conteúdo do livro ou material apostilado, no entanto toda essa situação nos obrigou a buscar por estratégias e novos dispositivos para que a aula pudesse acontecer. Os ambientes de aprendizagem foram ampliados e contaram com a participação de outros atores, principalmente a família. Agora, os participantes interagem pelas diversas plataformas virtuais de aprendizagem, gravam vídeos, áudios, produzem material digital, além das atividades escritas.

Quanto aos estudantes, aqueles com postura pouco participativa durante as aulas presenciais foram levados ao desconforto pelas aulas remotas, já que muitas veze foram chamados  abrirem as câmeras e microfones. Problemas? Muitos! Principalmente para aqueles que imaginaram ter estavam em período de férias antecipadas. As tradicionais provas escritas foram substituídas por produções, projetos, atividades baseadas na resolução de problemas, apresentações. Deu tudo certo? Claro que não! Mas a certeza que fica é que essa parceria no processo de aprendizagem vai longe, pois essa "coautoria" mostrou-se importante para o sucesso educacional: pais e alunos auxiliando os professores com as novas tecnologias, docentes compartilhando o saber acadêmico e ajudando os estudantes a perceberem a aplicabilidade do saber.  Todos responsáveis pelo crescimento de seu próprio aprendizado. A  propriedade intelectual da aula é mérito do professor? Muita pretensão acreditar nisso! Principalmente em tempos tecnológicos onde os “saberes” são compartilhados e reinventados. Somos todos autores dessa nova história pedagógica.

Nesse cenário de mudanças e eventuais desgastes, passamos por diversas fases e a atual nos leva à reflexão: Como retornaremos às aulas presenciais? Não somos mais os mesmos: professores, docentes, famílias e escola. Estamos reestruturando os ambientes educacionais para a volta e, certamente, as metodologias ativas estarão presentes, por isso os processos de replanejamento é essencial para a análise e orientação das novas ações.  As avaliações priorizadas serão a diagnóstica e formativa, além disso, há  fortes indícios de que vamos aderir  ao ensino híbrido, uma vez que este  oportuniza a ampliação da sala de aula para outros espaços de aprendizagem.   As salas de aula virtuais são nossas aliadas, bem como os dispositivos diversos dispositivos tecnológicos e a velha inquietação de que a Educação a Distância acabaria com a escola e aula, mostrou agora que foi justamente por meio dela que os processos educacionais puderam continuar.

Sobre as metodologias ativas, trata-se de uma forma de promover o aprendizado sob orientação ou tutoria de um professor, a partir de um problema habilmente colocado. Aprendizagem baseada em projeto é uma abordagem pedagógica de caráter dinâmico, que enfatiza a ação do estudante frente ao conhecimento e tem foco no desenvolvimento de competências e habilidades. Assenta-se sobre a aprendizagem colaborativa e a interdisciplinaridade. Ou seja, constitui uma metodologia de ensino na qual um tema é escolhido para exploração, e, a partir deste, diversos outros são elencados e estudados no sentido de explorar a temática sob uma ou várias óticas disciplinares.

E se você pensa que isso é novo, engana-se!  No Brasil a metodologia de projetos foi proposta inicialmente por John Dewey e chegou ao Brasil nas traduções de Anísio Teixeira na década de 1930, no início do movimento denominado Escola Nova. Num momento em que se busca direcionar o foco para o aluno, as ideias de Dewey continuam atuais, pois consideram aspectos como necessidades e experiências vivenciadas, num contexto de valorização da motivação para aprender e da efetividade do aprender na prática: aplicabilidade da teoria.

A educação híbrida ou blended learning, segundo diversos estudos, permite que as aulas sejam mais interativas, flexíveis e dinâmicas, uma vez que o estudante participa ativamente, numa convergência de múltiplos métodos, pois o alunos tem a liberdade de escolher os recursos tecnológicos, além de participar de uma rede colaborativa de aprendizagem, em que há integração de conteúdos on line.Uma das características do blended learning  é que o docente e seus respectivos alunos poderão utilizar as ferramentas tecnológicas que tiverem disponíveis, portanto, não é necessário que esteja, obrigatoriamente,  vinculado a uma plataforma virtual de aprendizagem, como o AVA Moodle, Classroom por exemplo.  

Existem diversas ferramentas digitais que ajudam o professor a organizar esse espaço de formação, e também participar, utilizando vários dispositivos: tablet, smartphones, computadores;  diversos recursos on line, como grupos de discussão GoConqr; exercícios on line, encontrados em sites ou em  aplicativos como o Quizlet; postagem e acesso a vídeos no Youtube; aplicativos de conversação como Italk e Duolingo;  além dos softwares educacionais e das redes sociais, que podem funcionar como uma sala de aula assíncrona. Portanto, a eficácia da aprendizagem híbrida depende muito da sua implementação específica e do problema específico que se destina a resolver.

Não sejamos hipócritas, sabemos que a Educação está longe de ser "igual para todos". Muitos alunos da rede pública ficaram sem o acesso às aulas remotas por questões tecnológica, mas  também por falta de suporte familiar, então é certo que há um déficit educacional para estudantes do mundo inteiro. O desafio agora é diagnosticar, planejar e implantar estratégias para a retomada às aulas HÍBRIDAS. Bem- vindos ao mundo real!

"Os tempos são líquidos porque, assim como a água, tudo muda muito rapidamente.  Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar".   Zygmunt Bauman

REFERÊNCIA:

Tese de doutorado: Pino, Adriana Soeiro. "Educação a distância: propostas pedagógicas e tendências dos cursos de graduação. / Adriana Soeiro Pino. 2017.

* ADRIANA SOEIRO PINO



 







Graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Guarulhos (1991);
-Mestrado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2012);  e 
-Doutorado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2017). 
-Atualmente é professora de ensino superior da Faculdade FATEC- Unidade Tatuapé -SP , Gestora de EaD  e Diretora do Externato José Bonifácio -SP  ;
-Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação a Distância, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação a Distância, tecnologias, linguagens, aprendizagem na era digital, educação em rede e inglês . 

Nota do Editor:

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