segunda-feira, 24 de julho de 2023

Miogloss


Autor: E. O. Magalhães (*)

     

Eis que ele surge esvoaçante nos céus fibrosos ópticos de um lindo país destruído pelos costumes de seu povo originário e invasor. O poderoso Miogloss, aquele ser alado que toca os pés no solo infértil do país das baboseiras mal copiadas de algum velho primo rico opressor, viera com uma missão, a qual ele mesmo já esquecera por que era esse o costume do seu povo. Ao sentir a terra suja de óleos aromáticos betuminosos percebe que a cola gruda em seus dedos para não mais sair, então Miogloss agradece ao parente rico por que, se aquilo aconteceu com ele, era por que tinha que acontecer, pois nada é por acaso e nunca será, tudo tem um por quê e um sentido, basta esperar, mesmo que seja bastante ou a vida inteira.

O problema era que Miogloss já esperara demais, desde que nascera, algumas linhas antes e durante toda sua adolescência e vida adulta reunidas em linhas curtas, um personagem de um singelo texto, agora que está vivo, ele deseja solicitar um procedimento eutanásico, mas ainda...não... ainda nada aconteceu, mas ele ainda também espera, por que se está assim tem um motivo, nada acontece por acaso. Verdade seja dita, e ela só pode ser dita pela boca do poderoso Miogloss, por que quem não viveu não sabe e nunca saberá e no país chamado Burril importaram agora a belíssima teoria de que só quem tem lugar que fala, quem não tem, fala também, porque aqui somos todos mal educados mesmo, mas logo se é rechaçado e xingado de nomes que a depender do lado do ouvido que se escutam podem soar como crime ou como reparação histórica. Eis que Miogloss, mesmo no fim da sua vida ainda consegue ver coisas que mais ninguém juraria que veria, ainda não viu pães caindo de nenhum lugar do céu, nem defuntos a renascer, mas no seu lindo país destruído a nova moda vigente o convenceu a votar em semelhante, pois semelhante significa que pensa semelhante, age semelhante e ajuda semelhante, quiçá até se faz passar por semelhante numa regra ultrapassada de imaginar parecência com identidade. Mas em seu país é costume fazer velhas coisas serem vestidas com roupas novas e remendadas. Fez ele exatamente como virara moda e acabou por eleger um semelhante que lhe ferrou o fim da vida adiando sua aposentadoria, ferrou também com o dinheiro na conta poupança e só não lhe tirou a alma por que não tinha uma. Como é possível, agora parece que descobrimos o que os gregos antigos já sabiam desde o primeiro dia da criação, que ser e parecer são coisas bem diferentes.      Miogloss nasceu pobre, cresceu pobre, viveu pobre e agora está prestes a morrer fudido, por que em seu lindo país destruído pelos costumes de seu povo, ninguém mais pode dar bom dia que lhe apontam o dedo achando isso uma ofensa contra a noite, também é verdade que muitos outros consideram isso uma ofensa contra a tarde, sendo o mais prudente  mesmo não desejar nada de bom para ninguém. Parecia que o país Burril ia, mas não foi, e nem vai, por que já tava quase indo para um lugar pior de onde ele nunca saíra, aqui onde tudo se copia mal copiado e deturpado, aqui tudo se traveste de sabedoria fotocopiada de algum rodapé estrangeiro.

Miogloss como bom burrizildo que era, nascido e criado no país do futuro que nunca chega, percebeu que sua hora de morrer se aproximava, e tudo parecia muito com o dia do seu nascimento, do pó pobre veio ao mundo, do pó pobre retornara, nada de novo debaixo do sol, da lua, das nuvens, debaixo dele mesmo só os que pensam planos e os que ainda copiam e repetem papagueando o que as telas coloridinhas mandam repetir. Eram telas pequenas, ficaram médias, depois grandes, enormes, voltaram a ser pequenas novamente, mas continuam sendo telas, telinhas a nos dizer o que fazer, como fazer, como pensar, o que dizer até como respirar. Somos burrizildos mesmo, precisamos até que mastiguem nossa comida e nos ajudem a engolir.

Miogloss nasceu, virou um sistema operacional só para poder mostrar em redes imbecilóides que ele também tem uma nova versão de si mesmo, que é um deles e agora, prestes a falecer ainda não disse a que viera, vai sair caladinho por que não valeria a pena dizer o que não se quer ouvir, mostrar o que não se quer ver….é tudo lindo mesmo...temos belas praias, clima ameno….ótima vista. Dê um like. Adeus!

*ELVIS OLIVEIRA MAGALHÃES










São suas palavras: 
Sou  formado em  Administração de Empresas,  estou cursando Filosofia e sou Escritor por paixão"
Autor dos livros:
  - O Colegial - Romance e
  - Macho Machista 
Ambos disponíveis na Amazon e-book. 

Nota do Editor:

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