segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Não aprendi dizer adeus


 Autora: Beca Casal (*)

Caro leitor, quando foi que você precisou dizer o derradeiro adeus a alguém ou algum lugar pela última vez? 

Talvez, assim como eu, você tenha tido que se despedir de muitas pessoas, lugares e coisas nos últimos anos. Eu sei... Eu sei! A pandemia acelerou o encerramento de ciclos, desnudou as nossas insatisfações sobre a vida o universo e tudo o mais, escancarou problemas que vínhamos varrendo para debaixo do tapete, abriu os nossos olhos para a incoerência de nossas próprias escolhas e estilo de vida... e muitas despedidas se sucederam a todos que perdemos, tudo o que vivemos e, principalmente, tudo o que tememos durante esse período.

Não me cabe aqui elencar todas as perdas que vivi nos últimos anos – não queremos transformar essa reflexão em uma competição da desgraça – mas, a perda da minha avó em meio a um longo processo de mudança de cidade me fez refletir sobre as repetidas vezes em que precisamos dizer adeus no espaço de uma vida. Parece que são infinitas.

Imersa nessa reflexão sobre quantos adeus ainda terei que enfrentar daqui para a frente, percebi que a vida parece ser como a plataforma de uma estação, exatamente como cantado pela Maria Rita. E quanto mais primaveras completamos, mais extensa a lista de despedidas que tivemos que encarar.

Caso ainda não tenha feito sentido para você, reflita um pouco: quantas vezes você mudou de casa, de escola, de trabalho? Quantos bichinhos de estimação você teve? Quantos relacionamentos você já terminou? Quantas pessoas você já sepultou?

Eu sei que toquei em um assunto delicado. A morte é um tabu em nossa sociedade. É mórbido falar sobre ela. Pesado. Deprimente. Às vezes revoltante também. Quem a morte pensa que é para arrancar as pessoas que amamos dos nossos braços, das nossas vidas, da nossa convivência?

A partida, por outro lado, não se trata apenas sobre a morte. É mais constante. Corriqueira. A partida pode acontecer no horário do almoço, quando você decide terminar um relacionamento. Ou em uma quinta-feira, quando alguém pega um avião para outro país sem data para voltar. Pode acontecer no final do expediente em uma terça-feira, quando você assina a demissão do seu trabalho. Em um domingo à noite, no horário de visita da clínica veterinária...

De forma programada, ou completamente inesperada, os caminhos do nosso dia a dia se tornam estranhos, as pessoas que amamos partem e temos de aprender a viver com sua ausência, os miados que te acordam de manhã se transformam em silêncio, relacionamentos acabam, amizades acabam, faculdade acaba, escola acaba, trabalho acaba... e a gente segue acordando, caminhando, vivendo... conhecendo outras pessoas, beijando outras bocas, iniciando outros projetos, mudando de carreira, etc., etc., etc...

Às vezes esse tipo de pensamento me assombra. Pensar que os lugares e as pessoas que amo deixarão de fazer parte dos meus dias... Como continuar a viver sabendo que um dia eles não estarão mais presentes?

Sim, eu sei. Faz parte da vida e não podemos deixar que o medo da partida ofusque a nossa alegria e os bons momentos que vivemos.

A nós, que ficamos (ou partimos), nos resta respirar fundo, acolher e lidar com os nossos sentimentos e continuar a estrada em busca de novos começos, novas histórias e novas companhias, sem nunca nos esquecer o que deixamos para trás, os momentos que vivemos com aqueles que amamos, quem somos e de onde viemos. Afinal, todo fim é um novo começo..

*BECA CASAL









Segundo suas próprias palavras:
"É escritora independente, poetisa e social media, formada em Tecnologia em Processos Gerenciais pela UFMS e natural de Campo Grande/MS;
 É mãe, irmã e filha. 
Sonhadora, acredita que as coisas acontecem quando devem acontecer. 
Publicou 3 livros de poesia pela Amazon."

Nota do Editor:

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