quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Dia do Mediador


 Autora: Águida Barbosa (*)

Em 23 de setembro é comemorado o Dia do Mediador, instituído pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 2019.

A definição de mediação extraída do pensamento de Rubem Braga expressa a sua essência: "O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humanidade está nisso: saber, não com a cabeça, mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos".

Na comemoração do Dia do Mediador, em 2023, é de rigor homenagear a mediadora francesa Jacqueline Morineau, que faleceu neste ano aos 89 anos de idade, justamente no dia nacional da França: 14 de julho.

A homenageada deixou um precioso legado teórico e prático para a mediação. Arqueóloga e pesquisadora em museologia e numismática grega, encantou-se com um trabalho de voluntariado a egressos do sistema prisional, o que a estimulou a elaborar um método de acolhimento e inserção de jovens na sociedade.

A visibilidade alcançada, em decorrência do sucesso dessa experiência, ensejou o convite do Ministério Público de Paris para elaboração de um projeto de formação de mediadores, capazes de atuar na complexa passagem do caos à harmonia.

Ao aceitar o convite ela tratou de fundar o Centro de Mediação e Formação em Mediação – CMFM – com forte vínculo ao programa de Cultura de Paz, da Unesco, atuando como mediadora e formadora de jovens mediadores, na Comunidade Europeia.

Sob esse influxo, participou da construção da mediação na França, a partir do amplo alcance de seu olhar, de formação interdisciplinar, intitulando-a de mediação humanista, por acreditar que, por meio desta prática, há terreno para a transformação do conflito.

Para Morineau o sofrimento não expresso se transforma em violência, criando a desordem, e a mediação constitui um método capaz de proporcionar à sociedade uma ordem, a partir da reflexão acerca da humanidade dos sujeitos de direito, por meio da implantação de uma responsável formação de agentes da paz social, qual seja, o mediador.

Somente com este olhar diversificado Morineau pôde chegar ao seu consagrado conceito de mediação[1]: é preciso ensinar o mediando a dizer EU SINTO, para poder ser receptivo ao sentimento do outro. É uma tarefa difícil, porque corresponde a uma nova alfabetização, por se tratar de uma linguagem que dá lugar ao sentimento, ao lado do pensamento e da ação. Esta é a linguagem ternária que rege o terceiro milênio.

A colaboração da homenageada para a construção do programa que a UNESCO desenvolve para a Cultura de Paz é a de demonstrar que é preciso promover a paz interior, qual seja, a capacidade humana na busca do alinhamento com a consciência cósmica. Enfim todos são partes do universo e este reflete as consciências da essência da humanidade de cada ser humano.

A importância da contribuição de Morineau para a construção da mediação está concentrada na formação de mediadores, afinal, estes agentes da paz, ao despertarem no sujeito de direito em sofrimento a capacidade de expressar o EU SINTO, precisa estar preparado para colher o sentimento e, sem qualquer julgamento, permitir que esta conquista se transforme em instrumento de ritual de passagem.

A homenageada atribui à mediação a qualidade de instrumento de ritual de passagem ao Terceiro Milênio, que está vinculado ao fim ou morte de algo que não existe mais. Ela toma como exemplo as sociedades antigas que davam grande importância para os ritos de passagem, que eram muito bem elaborados, visando à preparação daquele que vivia um luto, para que pudesse se libertar do passado para se projetar numa nova vida.

Enfim, nos tempos atuais, estas ideias plantadas para o desenvolvimento da mediação humanista, que oferece um tempo-espaço privilegiado, encontrando o mediador que, com humildade, escuta com o coração, e não com a razão materialista, para que o mediando possa se despir do sofrimento advindo do conflito, para dizer, com toda a potencialidade do seu ser: EU SINTO.

Eis, portanto, a mediação humanista, legado deixado por Jacqueline Morineau para ser implantada com responsabilidade, tendo por objetivo a transformação do conflito em Cultura de Paz.

REFERÊNCIA

[1] MORINEAU, Jacqueline. L´esprit de la Médiation. Paris: Érés, 2009.

ÁGUIDA  ARRUDA BARBOSA

























-Advogada especializada em Direito de Família;
-Mediadora familiar interdisciplinar;
- Doutora e Mestre pela FADUSP(1972)

Nota do Editor:

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