domingo, 13 de outubro de 2019

Pensamentos Intrusivos: Cuidado com estes Vilões da Depressão




Autora: Ana Carolina de Queiroz Cabral

Os pensamentos repetitivos estão sempre presentes, especialmente quando se fala dos comprometimentos mentais. Também chamados de "Rumination" ou pensamentos de ruminação, estes tipos de pensamento se caracterizam pelo pensar constante em um assunto, embora sem compromisso com a coerência, contestação e, principalmente, com a racionalidade. No entanto, como são muito repetitivos, muitas vezes não são identificados, e podem confundir quem os formula, e estes se percebem seguindo raciocínios embasados não em pensamentos coerentes e lógicos mas, ao contrário, embasados em pensamentos até mesmo ilógicos e desconexos. 

O presente artigo, no entanto, apresenta uma orientação mais direcionada à depressão. Esta escolha se justifica na ideia de que a depressão é, em alguns processos mentais, uma comorbidade, o que promove sua alta prevalência na população. Assim, tratando sobre a presença dos pensamentos intrusivos nos processos depressivos, é provável realizar a leitura de seus desdobramentos em diversos outros comprometimentos e transtornos mentais

A depressão está entre os transtornos mentais mais populares da atualidade, menos por sua expressão, e mais pelo incômodo que acomete àqueles que dela sofrem. 

É comum, nos processos depressivos, o relato da percepção de: 

  • .dificuldade para tomar decisões; 
  • dificuldade de concentração na realização de atividades, ainda que corriqueiras; 
  • sentimento contínuo da culpa e da inferioridade; 
  • pensamentos constantes da morte ou do suicídio; 
  • mudança nas atividades e na maneira de resposta; 
  • frequente a perda de energia e o sentimento da preguiça; 
  • alteração do apetite: ora não comendo ou comendo demasiado; 
  • alteração do sono: ora escassez ora demasiado; 
  • sentimento de tristeza sem uma razão aparente; e também 
  • negativismo. 
A depressão enquanto transtorno mental, apresenta a negatividade como uma de suas mais expressivas características. O negativismo se manifesta na maneira de pensar, sentir, e (re)agir frente uma situação. No entanto, o que fundamenta e sustenta o negativismo, muitas vezes, é um tipo de pensamento muito peculiar: os pensamentos intrusivos repetitivos. 

Vale aqui um breve recorte para explicar o trecho "…o que fundamenta e sustenta o negativismo, muitas vezes é um tipo de pensamento…". Trata-se de uma explanação sucinta da abordagem psicológica utilizada para esta fundamentação. De acordo com a abordagem cognitivo comportamental, a razão, e assim, os pensamentos, ideias, percepções, lembranças etc embasam nossos posicionamentos, ou seja, nossas emoções e sentimentos. Logo, se olharmos quaisquer manifestações do comportamento humano, sejam estes manifestos na forma de sentimentos, ações ou mesmo de ideias, podemos entendê- los como resultado da elaboração racional que foi realizada e embasou este fenômeno. 

Quando se pensa na relevante presença dos pensamentos intrusivos nos processos depressivos, se realça a repetida manifestação deste tipo de pensamento. Estes, por sua vez são irrelevantes, numerosos, excessivos, frequentes, sua natureza é desagradável, e podem ocorrer nas diversas situações do dia a dia. Geralmente apresentam ideias ilógicas, e geram incômodo por sua inconsistência, incongruência e repetição. Sua permanência pode ser a longo prazo ou provisória, e causa sentimentos tais como a tristeza e a perda de interesse na vida real, e tem a capacidade para comprimir o humor e a eficiência de uma pessoa até mesmo nas suas atividades laborais. 

Uma vez que a depressão tem como sintoma o comprometimento da concentração, a incidência de pensamentos intrusivos é muito frequente, e contribui oferecendo a ilusão de se manter o foco em um assunto particular e restrito, sem que as ideias estejam coerentes e conexas necessariamente. No entanto, estes pensamentos reforçam ideias que, uma vez mal fundamentadas, geram pensamentos disfuncionais da realidade vivida e, por fim, reforçam ideias e geram sentimentos e comportamentos que alienam ainda mais o indivíduo dentro do seu processo depressivo. Em suma, se um pensamento distorcido da realidade não for confrontado com dados de realidade, ele se mantém em uma linha de raciocínio disfuncional e, como uma cadeia, gera uma lógica disfuncional. 

Assim também ocorre quando alguém parte de uma ideia que, ao invés de ser confrontada com dados de realidade, é reforçada pelo negativismo depressivo através de pensamentos intrusivos repetitivos. 

Os pensamentos intrusivos podem se manifestar de diversas maneiras, e faz-se importante o monitoramento dos pensamentos. Para isso, o trabalho de identificação destes pensamentos e suas manifestações são fundamentais para promover a reestruturação cognitiva. Abaixo estão alguns exemplos de pensamentos intrusivos comuns na depressão: 

  • Oneself de avaliação nos extremos; isto é, preto e branco e não cinzento;
  • Selecionar somente os aspectos negativos dos eventos todas as vezes;
  • Ideia fixa de que se uma experiência terrível específica ocorreu, todas as próximas experiências terminarão da mesma forma;
  • Pensamento demasiado acompanhado da busca de aspectos negativos em uma situação positiva;
  • Foco no julgamento alheio;
  • Previsão de futuro negativo;
  • Generalização e
  • Suposições e conclusões irrealistas da realidade. 
Superando pensamentos intrusivos da depressão 

Apesar de não ser recomendado negligenciar pensamentos depressivos, também é sabido que estes mesmos pensamentos estão contaminados e precisam ser cuidados, como que filtrados. Este é o real desafio. Logo, a primeira tarefa, depois de identificá-los, é tratá-los, reestruturando-os, em termos do senso comum, adequando-os com a realidade presente. Este está longe de ser um processo fácil e necessita de muito cuidado e profissionalismo. Este é o cerne do trabalho psicoterapêutico. Alguns cuidados práticos podem auxiliar, e estão listados abaixo, mas não substituem o trabalho orientado por um profissional da psicologia para efetivamente trabalhar o processo de reestruturação cognitiva segura e efetiva. 

Estes cuidados, costumo dizer, são cuidados entre sessões de terapia. São eles: 

  • Faça uma anotação do pensamento que mais se repete. Não importa o número de vezes que o faça. Lembre-se de que ele precisa ser tratado, cuidado;
  • Em um momento mais tranquilo releia o pensamento. Tente aplicar os advérbios SEMPRE e NUNCA. Eles mostram o exagero contido neste pensamento;
  • Faça exercícios de respiração contínuos, especialmente nos dias e momentos de crise acompanhados de pensamentos intrusivos. Como eles estão associados a presença de grande ansiedade, até por também serem grandes gatilhos ansiosos, a respiração pode auxiliar você para identificar a real fragilidade lógica desses pensamentos;
  • Nos momentos de crise, busque, depois de exercícios de respiração, fazer uso de atividades aparentemente desconexas com o assunto. Geralmente isso ajuda a confrontar a realidade e interromper os ciclos de repetição dos pensamentos. É como se você os atrapalhasse. (como o exercício, a fala com amigos, e a suspensão ao redor);
  • Aceitar estes pensamentos como sendo um sintoma, e não uma realidade também minimizará sua frequência. 
Outro aspecto de extrema importância é considerar que esses pensamentos não surgiram agora, mas esse processo de raciocínio foi formulado por anos, e por isso não são breves listas que revelarão o processo de adequação

A partir da identificação, monitoramento, aceitação e reestruturação cognitiva dos pensamentos intrusivos repetitivos é possível cuidar apropriadamente de quaisquer transtornos mentais, bem como da depressão e seu tão singular e frequente negativismo. A proposta do artigo em questão foi, sem dúvida, conscientizar e mobilizar sobre a importância deste olhar sobre algo tão inerente ao pensar, mas que proporciona prejuízos tão relevantes. 

Fontes 


*ANA CAROLINA DE QUEIROZ CABRAL

-Psicóloga formada pela UNIMEP; 
-Mestre em psicologia pela PUCCAMP leciona tanto na graduação como na pós graduação desde 2007 ; 
- Estudiosa da terapia racional emotiva (REBT); 
-Foco de trabalho junto aos alunos e pacientes: funcionamento psíquico do ser humano; 
-Foco de estudo: 
  - A relação mãe e filho e os seus desdobramentos psíquicos, especialmente no que tange ao stress e ao sentimento de raiva; 
 -Professora e supervisora de Terapia Comportamental Cognitiva; 
- Atualmente atua no atendimento individual e em grupo de seus pacientes há mais de 13 anos, independente das mais variadas demandas, seguindo como base teórica a Teoria Racional Emotiva de Albert Ellis.
Nota do Editor:

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