sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

As Gerações Humanas no Curso do Tempo




EDIÇÃO ESPECIAL DE FESTAS

Prestes a completar no próximo ano 10 anos de existência e 3000 postagens, o Blog do Werneck publica  hoje uma Edição Especial de Festas,  desejando a todos os seus leitores um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.
(a) Raphael Werneck - Administrador

Autora: Mônica Maria Ventura Santiago(*)

"A única coisa que não muda é que tudo muda"

"No fluxo perpétuo do Universo, nada é e tudo se torna."

Pensamentos de Heráclito de Éfeso – 540 a.C.

Na História da Civilização com todo o seu conjunto de características próprias à vida social coletiva e cultural, passados os processos do conhecimento, que nunca se esgotam, dos valores, dos costumes, das tradições e do desenvolvimento individual e coletivo, alcança-se o estado de aprimoramento donde surgem os tipos de sociedades desde as antigas até as modernas, que por mais distantes no tempo e diferenciadas entre si, guardam em comum a sede pelo senso do dever e da justiça.


As Civilizações antigas, tais a Helênica dos povos que povoaram a Grécia, a Egípcia, a Mesopotâmia ou a Romana, como as modernas desde a Civilização Ocidental, ou a Hindu, a Japonesa, a de Confúcio na China, ou a Eslava-Ortodoxa, ou a Islâmica, ou a Latino-Americana e ainda a Africana, todas, indubitavelmente, enfrentaram em seus processos de construção, guerras e períodos de relativa paz, revoluções e contrarrevoluções, revoltas, inconfidências, deslealdades, degredos, até atingirem o seu apogeu com realizações intelectuais, diferenciação social, divisão de trabalho e urbanização, concentração de poder político e econômico para depois arruinarem-se, qual ocorreu com as Civilizações antigas, até o desaparecimento. Contudo, o que todas elas almejaram e ainda almejam em comum são os valores norteadores da justiça, do respeito ao dever e à liberdade que permitirão o direito a que fazem jus seus concidadãos.

Nestes dias difíceis que exigem mudanças de atitudes nas vivências individuais quanto coletivamente, quando são concitadas paixões que instigam violências, perseguições e crueldades. Quando o Direito como a Ciência das normas obrigatórias que disciplinam as relações das criaturas em sociedade, formam jurisprudências de interpretações individualistas. Quando parece que se perdeu o sentido daquilo que é probo, de caráter íntegro, daquilo que é justo e honrado, faz-se necessária uma avaliação com bases no bom senso e na razão crítica.

O termo "razão crítica" utilizado no contexto explanado está no sentido clássico de avaliação que a faculdade de examinar nos confere. Refere-se a juízo crítico, a discernimento e a critério como o princípio que nos permite distinguir o erro da verdade, e não no sentido popular da censura ou maledicência.

A avaliação com razão crítica torna-se indispensável para o aprimoramento da inteligência quanto para apreender o conhecimento, como para o desenvolvimento da cultura, o que, certamente, evita enormes dissabores.

As gerações humanas morrem e desaparecem no fluir dos tempos, mas, o espírito de seus feitos permanece. Destarte, encontram-se nos anais da História as mais intrigantes perfídias, deslealdades, traições, porque vaidades e ambições, como as vãs ilusões de presunção, frivolidades, futilidades e tolices, levam muitas criaturas enganadas em si mesmas, a atitudes e comportamentos equivocados que, incontestavelmente, as levarão a quedas doridas tanto quanto ferirão outrem, alvos de seus feitos insanos.

Passados mais de dois mil anos, ainda é possível refletir no cenário daquela época, os marcos que assinalaram, no tempo e no espaço, a epítese em cuja intensidade se desenrolaram os dramas e incidentes das intrigas que culminaram, entre tantas outras histórias, naquela que nos assombra até hoje, quando a cabeça do Precursor, o Profeta João, o Batista, foi apresentada numa bandeja de prata como prêmio ao orgulho ferido de uma mulher, sedenta de sangue e vingança, na festa que transcorria exuberante de luxúria, lascívia, sensualidade, corrupção e libertinagem.

Sim, nos tempos idos do império de Tibério César, quando o romano dominava sobre Israel na Judéia, na Iduméia e em Samaria, os interesses de Roma eram administrados por um procurador romano, o indeciso Pôncio Pilatos, e por uma espécie de governador designado por Tibério, o conhecido ambicioso e inescrupuloso Herodes Ântipas, o tetrarca da Galileia.

Herodes Ântipas, filho do velho Rei Herodes, amasiara-se a sua cunhada, Herodíades, mulher do Rei Filipe, tetrarca da Batanéia e da Gaulonítida. Ela abandonara o marido a quem considerava glutão, obeso, e muito acomodado, dir-se-ia, um bufão da corte romana, por quem nutria nojo e ódio. Quanto ao cunhado e amante, Herodes Ântipas, considerava-o belo, ambicioso, forte e cheio de audácia, para mais tarde, decepcionar-se, passando a considerá-lo homem fraco, indeciso, temeroso e supersticioso, porque, em sua ótica de mulher ambiciosa e egoísta, ele não era como o velho pai, o malvado Rei Herodes.

O casal de amantes vivia em pecado escandalizando os súditos, vassalos e toda a corte romana e judaica, entretanto, contavam com a complacência dos saduceus que, ignoravam sem pudores, os deveres de sacerdotes para acobertar, a benefício dos poderosos, as maiores indignidades, tudo em "nome" da lei.

A frustração de Herodíades com o amante, iniciou-se, particularmente, quando a esposa legítima de Ântipas, a princesa de Petra, fugiu para os confins do reino porque sabia-se em perigo já que o marido e a amante poderiam exterminar-lhe a existência que os incomodava, e, partiu então, buscando a proteção de seu pai, o Rei Haret, que acampara com seu séquito de beduínos nos limites da Peréia.

Herodíades acreditava que a princesa deveria ser morta a mando de Ântipas porque enquanto ela estivesse viva, o lugar de esposa legítima jamais poderia ser ocupado pela amante. Isso macerava seu orgulho ferido e ela desejava torturar e matar a princesa com as próprias mãos. Herodíades era mulher sanguinária e muito temida, pois, todo aquele que a desagradasse, era sabido, teria morte certa.

Todavia, nos pensamentos covardes do Rei Herodes Ântipas, havia uma trama e embora ouvindo os apelos insistentes da amante por quem estava perdidamente apaixonado, ele fora conivente com a fuga da princesa porque, deixando-a ir ao encontro do pai, o Rei Haret, isto lhe serviria como providencial pretexto, pois, ao invés de matá-la, ele iria acusá-la perante os sacerdotes do Templo, seus cínicos apoiadores, de abandono do lar. Além de tudo, não era de seu agrado e conveniência matar a princesa, sua esposa, porque ele temia que suas maldades chegassem aos ouvidos de César através dos agentes de Pôncio Pilatos que não lhe era simpático de forma alguma. Ninguém era amigo de ninguém e todos desconfiavam uns dos outros.

Era, pois, contra estas maldades e contra todas as iniquidades que João Batista pregava, clamando:

- "Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira futura? Viveis em mentira e falsidade e com esta mão com que feríeis ao próximo, por ela própria sereis feridos amanhã."

- "Eu sou aquele a quem Isaías anunciou. Vim preparar o caminho do Senhor. Endireitai vossas veredas porque o tempo Dele é chegado".

O tetrarca no fausto de seu palácio herodiano, no alto de seu orgulho, ganância e poder enganosos, pensava de si para consigo:

- "Os reis são os senhores do mundo. Têm em seu poder a vida e a morte. São também senhores da justiça na Terra"

Porém, as palavras do Profeta, a quem ele temia e odiava, gritavam aos seus ouvidos:

- "Enganas-te. De nada somos senhores. Os reis passam e o mundo sobrevive aos reis. Tu és escravo, porque possuído pelo mundo e sujeito a morte como todos. A vida humana é incerta e inconsistente, tetrarca. Só existe uma justiça, não apenas na Terra, mas em todo o Universo: é a Justiça de Deus. Arrepende-te, Ântipas. Abandona a mulher do teu irmão e terás clemência na Justiça Divina".


Por falta de bom senso e juízo crítico ante os clamores de João Batista, Ântipas e Herodíades se tornaram, na História, protótipos dos ouvidos moucos que escolhendo seguir seus instintos primitivos, aprisionaram, torturaram e degolaram o Profeta, mesmo com a certeza de que a Verdade estava no clamor dele.

Yokanaan, o filho de Zacarias e Isabel, o Profeta Precursor da Verdade Messiânica, no entanto, ciente de sua missão, revelava:

- "Após mim vem um varão que foi antes de mim, porque já era primeiro do que eu".

E afirmava para quem quisesse ouvir:

- "Eu não sou o Messias, mas o enviado adiante Dele".


João seguiu impertérrito a sina do aprisionamento até a morte com a consciência de ter cumprido seus deveres porque, para tal, dispunha do poder de atrair e impressionar as gentes, não apenas as simples, mas inclusive, as poderosas. Dizia-se que até a mulher de Pôncio Pilatos, chamada Cláudia Prócula, fora batizada por ele.

A Verdade pré-anunciada por João, o Batista, constituía-se na maior revolução de todos os tempos na face do Planeta porque anunciava O Filho de Deus, O Cristo, que revelaria as Bem-Aventuranças, as Leis Divinas de Amor e Fraternidade, ante um Pai que é toda misericórdia, que é soberanamente Bom e Justo e que “dá a cada um segundo suas próprias obras” – conforme Mateus 16: 27 – significando que cada indivíduo será recompensado em acordo com suas ações, em respeito à Lei do Livre-Arbítrio.

No curso do tempo, quando os acontecimentos parecem suceder-se em movimentos e situações irreversíveis, nove séculos antes de Yokanaan e do Cristo, naquela mesma região da Judéia e às margens do Jordão, vamos encontrar o Profeta Elias, natural de Tisbé, que combateu a raça do Rei Ocabe que era casado com Zezabel e que cultuavam Baal-Zebube.

Como a nos ensinar que na sucessão do tempo, a Humanidade repete movimentos, erros, tradições que se esvaem, mas, cujos valores que sustentam o progresso moral, nunca se perdem porque Deus, Autor e Mantenedor da Vida em toda parte, jamais abandona Seus Filhos, foi anotado no Livro dos Reis, 1 a 8:

- "Ochozias, filho de Ocabe e Zezabel, ora rei de Israel, adoeceu e enviou mensageiros e disse-lhes: - Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ekron, se sararei desta doença. Mas, Elias, a mando do Senhor, vai ao encontro dos mensageiros do rei de Samaria e lhes diz: - Porventura não há Deus em Israel, que vades consultar a Baal-Zebube, deus de Ekron? E por isso assim diz o Senhor: - Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás... E os mensageiros voltaram ao rei e lhes falaram do encontro e do que ouviram. E o rei lhes disse: - Qual era o traje do homem que vos veio ao encontro e vos falou estas palavras? E eles disseram: - Um homem vestido de pelos, e com os lombos cingidos d’um cinto de couro. Então disse ele: É Elias, o tisbita."

Em Malaquias, 3: 1; Cap 4: 5 – Lê-se:

- "Eis que envio meu anjo, que aparelhará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais e o anjo do concerto, a quem vós desejais...Eis que vos envio o Profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor..."

No deserto, a terra árida, e a multidão de homens, mulheres, velhos e crianças, vindos de toda as cidades, os mercadores vindos de Damasco, do Líbano, de Chipre, do Egito, da Etiópia, da Sicília e até da Ásia, e, também os gentios, muitos romanos e os povos da Síria, estavam sedentos e admirados das pregações e promessas de João Batista e se deixavam batizar por Ele enquanto dizia:

- "Em verdade, vos batizo com água. Mas eis que vem, Aquele que é mais poderoso do que eu, a Quem não sou digno de desatar a correia das alparcatas... Ele não vos batizará com água e sim com o Espírito da Verdade..."

Longe da razão crítica e do bom senso, aquela multidão ouvia e não compreendia por que era preciso ter olhos para ver e discernir. O povo tinha apenas bocas sedentas, sede e fome de pão, tinha mãos para aplaudir ou para apedrejar conforme seus próprios interesses.

Finalmente, o MESSIAS!

E, encontra-se anotado em Mateus, 5: 8: - "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus".

Referências:

Bíblia Sagrada – Tradução dos originais grego, hebraico e aramaico mediante a versão dos Monges Beneditinos de Maredsous – Bélgica/1957 – 9ª edição – 2.238 páginas;

Claret Publishing Group – Edição revisada e atualizada com o novo Acordo Ortográfico em 2021.


* MÔNICA MARIA  VENTURA SANTIAGO






















- Advogada graduada pela FADIVALE/GV (1996); 

Latu Sensu em Linguística e Letras Neolatinas pela UFRJ (1992);

-Degree in English by Edwards Language School – London -  Accredited by the British Council, a member of English UK and a Centre for Cambridge Examinations (2000);. 

-Especialidades:  Direito de Família e Sucessões,  Direito Internacional Público e Direito Administrativo;  e

-Escreve artigos sobre Direito; Política; Sociologia e Cidadania.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

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