domingo, 15 de dezembro de 2024

O que tem acontecido com as relações afetivas hoje em dia?

 
                                                                                    
Autora: Franciele Vieira Pereira (*)

Será mesmo que ainda há afeto nas relações ou estão todos tentando se proteger de alguma ameaça iminente? Quem nunca ouviu falar em amor-próprio e só viu na verdade, pessoas fugindo de pessoas e mergulhando no próprio ego?

A trajetória do envolvimento afetivo humano conjugal é um tema complexo e multifacetado, que abrange desde as origens históricas e culturais das relações amorosas até a maneira como essas relações continuam a se desenvolver nos tempos contemporâneos. Para compreender como o envolvimento afetivo conjugal aconteceu e segue acontecendo, é necessário considerar os aspectos biológicos, sociais, culturais e psicológicos que influenciam as dinâmicas entre os indivíduos ao longo do tempo.

As origens do envolvimento afetivo conjugal

O envolvimento afetivo conjugal, enquanto construção cultural, evoluiu com o tempo. Em muitas sociedades antigas, o casamento era visto mais como uma união pragmática do que como uma relação baseada no amor romântico. Casamentos arranjados, por exemplo, eram comuns e visavam a aliança entre famílias, tribos ou estados, mais do que a realização de desejos emocionais individuais. O papel do amor nos relacionamentos conjugais era secundário à sobrevivência econômica e à reprodução.

Com o tempo, a ideia de casamento baseado no amor começou a tomar forma, especialmente com o advento das mudanças sociais e culturais durante o período da Idade Moderna e, principalmente, a partir do século XVIII. Movimentos filosóficos e literários, como o Iluminismo e o Romantismo, contribuíram para a valorização do amor como a base do casamento. A partir desse momento, o casamento passou a ser visto cada vez mais como uma união afetiva, em que os sentimentos de afeto e companheirismo começaram a ocupar o centro das relações conjugais.

A evolução no século XX

No século XX, o conceito de amor romântico se consolidou como um ideal de relacionamento conjugal. Durante este período, o aumento da educação, o acesso a novas formas de comunicação e a crescente emancipação feminina contribuíram para uma redefinição das relações conjugais. As mulheres, antes vistas em muitos contextos como subordinadas ao papel de esposa e mãe, começaram a buscar maior autonomia e independência, o que modificou as dinâmicas de poder dentro dos relacionamentos.

Ao mesmo tempo, a compreensão de sexualidade e de identidade de gênero passou por grandes transformações, o que resultou em uma maior diversidade de formas de relacionamento. Movimentos como o feminismo, a luta pelos direitos LGBTQIA+ e o fortalecimento de ideais de igualdade social e de liberdade individual proporcionaram um novo entendimento sobre o que constitui uma relação conjugal.

No campo das emoções, o amor passou a ser visto não só como uma experiência idealizada, mas também como algo que deve ser cultivado e trabalhado continuamente. A ideia de que o amor verdadeiro exige esforço, comunicação e comprometimento foi se consolidando, especialmente a partir das últimas décadas, quando se passou a dar maior atenção ao emocional e ao psicológico nos relacionamentos.

O envolvimento afetivo conjugal no século XXI

Nos dias atuais, o envolvimento afetivo conjugal continua a evoluir e se adaptar às transformações da sociedade. A modernidade e as mudanças tecnológicas influenciaram as formas de encontro e manutenção dos relacionamentos. A popularização das redes sociais e dos aplicativos de namoro, por exemplo, tem possibilitado novas maneiras de conhecer pessoas e estabelecer vínculos afetivos, ampliando as possibilidades de formação de parcerias.

Além disso, os casamentos e as uniões afetivas contemporâneas têm refletido maior diversidade de formas, com o reconhecimento de diferentes modelos familiares e relacionamentos fora da estrutura tradicional de homem e mulher. O conceito de casamento também se expandiu, com muitos casais desafiando convenções sociais, buscando novas maneiras de se relacionar de forma não convencional ou de repensar o compromisso e a monogamia.

Entretanto, as dificuldades não desapareceram. Questões como o estresse relacionado ao trabalho, a falta de tempo para o parceiro, a pressão social sobre padrões de relacionamentos ideais e as altas taxas de divórcios em alguns países demonstram que o envolvimento afetivo conjugal exige um esforço contínuo. O cuidado mútuo, a comunicação e a adaptação às necessidades do parceiro são elementos essenciais para a manutenção de um vínculo duradouro, mesmo em um contexto de constante transformação.

O envolvimento afetivo no futuro

Embora o futuro do envolvimento afetivo conjugal seja incerto, uma tendência clara é a busca por maior autenticidade e flexibilidade nas relações. A individualização das expectativas e a busca por conexões mais profundas e sinceras parece ser uma prioridade crescente, tanto em relações tradicionais quanto não tradicionais. A valorização de parcerias baseadas na confiança, no respeito e na compreensão mútua indica que, mesmo em tempos de mudanças rápidas e intensas, o vínculo afetivo conjugal continuará sendo um dos pilares das sociedades humanas.

A educação emocional e a psicoterapia também podem desempenhar um papel crucial no fortalecimento dos relacionamentos, ao ensinar estratégias para lidar com conflitos, expectativas e a constante transformação das relações.

A trajetória do envolvimento afetivo conjugal revela um processo de transformação contínua, em que fatores históricos, culturais, sociais e emocionais interagem e moldam a forma como as pessoas se conectam afetivamente. O amor conjugal, antes restrito a convenções e normas rígidas, hoje é visto de maneira mais fluida e plural. No entanto, a necessidade de afetividade, de compreensão mútua e de compromisso permanece no centro dessas relações, indicando que, mesmo com as mudanças, o envolvimento afetivo continua sendo um dos aspectos mais significativos da experiência humana.

O sucesso amoroso nos tempos atuais envolve mais do que simplesmente encontrar um parceiro; trata-se de cultivar relacionamentos saudáveis, respeitosos e satisfatórios em um contexto social e tecnológico que está em constante mudança. As dinâmicas afetivas e as expectativas em relação ao amor também passaram por transformações, tornando o processo de construção de um relacionamento duradouro e feliz mais complexo e exigente. Aqui estão algumas práticas essenciais para alcançar o sucesso amoroso nos tempos atuais:

1. Autoconhecimento e autoestima

Antes de buscar uma parceria amorosa saudável, é fundamental investir no autoconhecimento. Entender seus próprios desejos, valores, crenças, limites e expectativas ajudará a escolher um parceiro compatível e a se envolver de maneira mais sincera. A autoestima também é um fator crucial. Quando você se sente bem consigo mesmo, é capaz de atrair e manter relacionamentos mais equilibrados, sem depender emocionalmente de outra pessoa para sua felicidade.
Dica: Dedique tempo ao autodesenvolvimento, busque terapia ou grupos de apoio, pratique hobbies que aumentem sua confiança e cuide da sua saúde mental e emocional;

2. Comunicação aberta e honesta

A comunicação é a base de qualquer relacionamento bem-sucedido. Nos tempos atuais, onde a vida pode ser muito agitada e as interações digitais muitas vezes substituem conversas face a face, é ainda mais importante ser claro, aberto e honesto sobre suas emoções, necessidades e expectativas. Evitar mal-entendidos e conflitos desnecessários depende de uma comunicação eficaz.
Dica: Pratique a escuta ativa e procure expressar suas necessidades sem críticas ou acusações. Evite suposições e seja transparente sobre o que sente e o que espera do relacionamento;

3. Empatia e respeito mútuo

A empatia, ou a capacidade de se colocar no lugar do outro, é essencial para o sucesso de um relacionamento. Demonstrar interesse genuíno pelo bem-estar do parceiro, respeitar suas diferenças e suas necessidades, e ser capaz de lidar com as diferenças de maneira construtiva são comportamentos essenciais para manter a harmonia.
Dica: Tente entender as perspectivas do seu parceiro antes de reagir. Pratique a paciência e evite julgamentos precipitados. O respeito mútuo é uma das bases para a confiança e a intimidade;

4. Expectativas realistas

Nos tempos atuais, somos constantemente bombardeados por representações idealizadas do amor, seja na mídia, nas redes sociais ou em filmes. Isso pode criar expectativas irreais sobre o relacionamento perfeito. O sucesso amoroso exige uma compreensão de que todos os relacionamentos têm altos e baixos, e que o amor não é algo que "acontece", mas algo que é cultivado e trabalhado.
Dica: Tenha expectativas realistas sobre os relacionamentos. Reconheça que, como qualquer outro aspecto da vida, o amor requer esforço, paciência e compromisso para prosperar;

5. Flexibilidade e adaptação

A sociedade moderna traz uma série de desafios, como carreiras exigentes, mudanças tecnológicas e dinâmicas sociais em constante evolução. Para manter um relacionamento bem-sucedido, é necessário ser flexível e saber se adaptar às mudanças e aos desafios que surgem ao longo do tempo. Isso inclui adaptar-se às mudanças nas necessidades do parceiro, aos ciclos de vida, às responsabilidades e às circunstâncias imprevistas.
Dica: Esteja aberto a fazer ajustes em seu relacionamento quando necessário. O compromisso deve incluir a disposição para crescer junto com o parceiro, acompanhando as transformações que ambos experimentam;

6. Manter a independência e os interesses próprios

Embora a conexão emocional e a interdependência sejam partes importantes de um relacionamento, é essencial manter a sua independência. Relacionamentos saudáveis não se baseiam na ideia de "perder-se" no outro, mas sim em duas pessoas que são plenas por si mesmas e que escolhem se unir para compartilhar suas vidas.
Dica: Reserve tempo para suas próprias paixões, amizades e atividades. Incentive seu parceiro a fazer o mesmo. Isso fortalece a individualidade dentro da relação e evita a codependência;

7. Cuidar da intimidade emocional e física

A intimidade é uma parte central de um relacionamento amoroso. Isso envolve não apenas a conexão física, mas também a emocional. Cultivar momentos de proximidade e intimidade ajuda a manter a relação forte, especialmente nos tempos de dificuldades ou de estresse.
Dica: Dedique tempo para estar com seu parceiro, seja por meio de conversas profundas, encontros românticos ou gestos de carinho. A intimidade é um dos principais fatores para a longevidade e a satisfação no relacionamento;

8. Gerenciar conflitos de forma construtiva

Em qualquer relacionamento, os conflitos são inevitáveis. O importante é como você lida com eles. Evitar brigas destrutivas e buscar soluções juntos pode fortalecer a parceria. Em vez de usar o conflito como uma maneira de atacar o outro, a abordagem saudável envolve discutir as diferenças de maneira respeitosa, buscando um terreno comum e solução para os problemas.
Dica: Evite acusações e julgamentos durante os conflitos. Use a abordagem "eu sinto..." em vez de "você faz...". Isso ajuda a evitar defensividade e permite uma conversa mais produtiva;

9. Paciência e persistência

Nos tempos atuais, onde as opções parecem estar sempre à distância de um clique, é fácil cair na tentação de achar que o "relacionamento perfeito" está apenas esperando em algum lugar. No entanto, manter um relacionamento sólido exige tempo, paciência e esforço. O amor é uma construção diária que envolve tanto momentos felizes quanto dificuldades.
Dica: Tenha paciência com o processo de construção de um relacionamento. Valorize as pequenas vitórias e aprenda com os desafios, sabendo que o crescimento mútuo é uma jornada constante;

10. Estar disposto a buscar ajuda quando necessário

As relações podem enfrentar dificuldades que às vezes são difíceis de superar sozinhos. Buscar apoio externo, como terapia de casal, pode ser uma forma saudável de lidar com desafios mais profundos e garantir que o relacionamento continue sendo uma fonte de bem-estar para ambos.
Dica: Não tenha medo de buscar ajuda quando necessário. Terapias individuais ou de casal podem ajudar a resolver questões que, de outra forma, poderiam prejudicar o relacionamento.

O sucesso amoroso nos tempos atuais exige uma abordagem equilibrada, com autoconhecimento, empatia, respeito e comunicação. Em um mundo cada vez mais dinâmico e digital, os relacionamentos precisam ser cultivados com dedicação, paciência e uma disposição para crescer e se adaptar juntos. Quando ambos os parceiros investem no relacionamento com sinceridade, abertura e compromisso, as chances de sucesso são muito maiores.

*FRANCIELE VIEIRA PEREIRA













-Graduada em Psicologia pela União Metropolitana de Educação e Cultura - Unime (2016);
-Pós graduada em Docência do Ensino Superior pela Associação Educacional Leonardo da Vinci - Uniasselvi (2019);
- MBA em Gestão Pública  pela Associação Educacional Leonardo da Vinci - Uniasselvi (2020);

- Pós graduanda em Neuropsicologia pela Faveni.

 -Psicóloga Clínica, criança e adulto

- Neuropsicologia e Psicomotricista.


Nota do Editor:

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