Autora: Fabíola Cauduro da Rocha (*)
A menos que você seja completamente avesso ao uso da internet, principalmente no que diz respeito às redes sociais, certamente você já teve que lidar com o avanço dessas redes, e nelas estão inclusas o WhatsApp, Instagram, X (antigo Twitter), Bluesky, TikTok, para citar apenas as mais conhecidas e atualmente utilizadas pelas gerações que vão dos boomers (nascidos entre 1946 e 1964) aos alfas (nascidos a partir de 2010) incluindo também o Facebook, que já teve seu auge de utilização nos idos de 2012 e hoje não tem uma aderência muito grande entre os mais jovens, motivo pelo qual está sendo reformulado para atrair mais usuários jovens, competindo diretamente com plataformas com TikTok.
O que antes era um jeito simples de troca de mensagens instantâneas, postagens de fotos, miniblogs e vídeos de dancinhas, foi se transformando ao longo do tempo em ferramentas de disseminação de informações, geradores e formadores de opiniões, e potentes ferramentas de marketing. Essa transformação se deve ao engajamento. Mas afinal, o que é engajamento?
Engajamento é a grau de participação das pessoas dentro da comunidade e nas mídias sociais, reflete a forma como as pessoas interagem ao conteúdo, ou seja, a quantidade de curtidas, comentários, salvamentos e compartilhamentos.
Para Recuero (2009), as redes sociais, de modo geral, se estabelecem com base em dois principais elementos: a presença de atores sociais e as conexões estabelecidas entre esses atores, e ainda, segundo a autora, possibilitam principalmente uma "rede de contatos na qual jamais houve qualquer tipo de interação recíproca".
Até então tudo parece bem simples, mas se observarmos bem, o uso das redes sociais teve um forte impacto na sociedade atual, que adotou essas mídias como fonte de pesquisa, e com estratégias e métodos utilizados para mimetizar um movimento orgânico, planejado para atingir uma determinada audiência com uma finalidade pré-estabelecida.
Chamamos de engajamento orgânico aquele que acontece de maneira natural, de forma voluntária por parte dos seguidores, que reagem, comentam e acabam engajando o conteúdo entre outros públicos; nesse tipo de engajamento o dono do perfil não precisa investir em posts patrocinados para aumentar o número de seguidores e de interações nas publicações, estratégia muito utilizada para os mais determinados fins. Nesse sentido, Lanier (2018) diz que a principal função das redes sociais é promover engajamento, ou seja, manter o indivíduo cada vez mais conectado.
O uso das redes sociais se tornou uma eficaz estratégia para disseminação de ideias, principalmente pelo seu abrangente conteúdo, que atinge diversos setores da sociedade. Essas estratégias de engajamento buscam constantemente novas tendências de pesquisa aplicáveis ao jornalismo, relações públicas, publicidade e propaganda, cinema, audiovisual, ciência e gestão da informação, e a forma como toda essa produção midiática será exposta e determinada de acordo com o processo da proposta, onde o método ideal seria associar os tipos de mídias que fazem sentido para sua audiência.
Caminhando paralelamente a esse comportamento conduzido pela força midiática das redes sociais, temos uma convergência factível, atrelada ao processo de consumo, diante de um cenário de transformação de valores e incentivo ao consumo, onde um post numa rede social pode alavancar as vendas de um determinado produto, ou determinar a desaprovação de outro.
Da mesma forma como as estratégias de engajamento são planejadas para atingir um determinado público, a política do cancelamento, cultura que foi criada como uma forma de responsabilizar e expor comportamentos considerados inadequados, e que acabou evoluindo para uma forma de bullying e linchamento virtual, capaz de impactar negativamente a saúde mental das pessoas envolvidas, também age de maneira organizada.
O engajamento nas redes sociais é promovido de forma sistêmica, tendo como agentes figuras consideradas importantes no mundo virtual, mesmo que fora deles, sejam pouco conhecidos, como alguns influencers, youtubers e tiktokers, mas não para por aí, figuras públicas e bastante conhecidas como atrizes, políticos, apresentadores, promovem o engajamento de produtos, serviços, ideias, atingindo vários públicos, que reagem de forma positiva ou negativa. Nesse sentido, para Lanier (2018), quando essas conspirações são mais ou menos inofensivas, como a crença em extraterrestres ou na ideia de que a Terra é plana, isso pouco afetar a comunidade. Mas quando a conspiração é que a vacina contra sarampo causa autismo, temos um problema muito mais grave, que impacta diretamente na vida de boa parte das pessoas da comunidade, uma vez que o vírus do sarampo voltou a circular em nossas cidades.
Reagir de forma negativa à um post, também é uma forma eficaz de engajamento, pois gera reações contrárias e quando a intenção é viralizar, quanto mais, melhor.
O grande perigo do engajamento, do consumo das redes sociais é a triagem da qualidade informações, especialmente no que diz respeito à temas relacionados à sociedade, que afetam profundamente a forma como encaramos nosso papel diante do coletivo, frente às escolhas e decisões tomadas, que podem ser impulsionadas positiva ou negativamente através do engajamento que não é orgânico, mas sim promovido e que pode apontar para realidades delirantes, acientíficas, conspiratórias e deliberadamente falsas, apenas para promover um determinado interesse de um grupo de pessoas.
Mais do que uma inocente receita de bolo, nas redes sociais é possível encontrar todo tipo de conteúdo para todo tipo de audiência, que pode ali exercer seu juízo de valor, pois as redes sociais se tornaram uma potente ferramenta de busca, amplamente utilizada por pessoas que acreditam que seus problemas de pesquisas serão solucionados em vídeos de até 30 segundos. Para Modolo (2018), o modo pelo qual acontecimentos, eventos e questões pontuais do cotidiano que ocorreram no ano de 2016 influenciaram, em certa medida, as publicações feitas pelas revistas em suas respectivas páginas no Facebook. Questões como o vírus Zika, a fosfoetanolamina (pílula do câncer) e os reflexos da crise política nos campos acadêmico e científico foram, de uma forma ou de outra, refletidas e refratadas nos posts analisados.
A analogia proposta por Modolo, reflete uma das principais formas de engajamento nas redes sociais, de forma simples, é possível suscitar teorias e pulverizar massivamente informações, sejam elas especulatórias, reais ou falsas.
No que diz respeito à educação, cabe refletir se as redes sociais são inimigas ou aliadas e até que ponto, pois, a acessibilidade possibilita ampliar o compartilhamento de informações de cunho didático, mas também, propiciam a falta de interações pessoais significativas e até mesmo reais, já que estamos diante de uma grande diversidade de plataforma de inteligência artificial, que através de um aplicativo conseguem, inclusive mimetizar o atendimento de um terapeuta, além da distração quase inevitável, de acordo com o tempo de tela de cada estudante.
Outro ponto crucial, é que o ingresso das redes sociais, impacta na aprendizagem trazendo desafios para as instituições de ensino, que cada vez mais buscam estratégias para alinhar os métodos tradicionais com abordagens digitais centradas nos indivíduos, ou seja, há uma busca entre a integração da tecnologia e das redes sociais com a metodologia pedagógica.
É importante ressaltar que os estudantes devem ser orientados a fazer uso das redes sociais de forma crítica, criteriosa, que priorize o compartilhamento de informações verdadeiras, procedentes de fontes confiáveis, utilizadas como uma ferramenta de informação eficaz e colaborativa, para que sejam capazes de gerenciar suas próprias contas de mídia social promovendo um bom engajamento, fazendo uso saudável das redes sociais.
Portanto, quando você dá um like, comenta, compartilha ou reage à uma publicação, gerando engajamento, você está respondendo, na maioria das vezes à uma estratégia bem elaborada para construir uma comunidade ativa e engajada que contribuirá para o sucesso a e crescimento da página nas redes sociais, aumentando seu alcance e validando seu conteúdo.
Referências Bibliográficas
LANIER, J. Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais. São Paulo, SP: 2018. Intrínseca;
MODOLO, Artur Daniel Ramos. Formas responsivas no Facebook: curtir, compartilhar e comentar a divulgação científica em rede social. Tese de Doutorado. 2018. Universidade de São Paulo;
OLIVIERI, Fernando. Como o Facebook quer atrair a Geração Z para enfrentar o TikTok. 2024. Disponível em: https://exame.com/tecnologia/com-o-facebook-quer-atrair-a-geracao-z-para-enfrentar-o-tiktok/. Acesso em: 01 dez 2024; e
RECUERO, R. Redes sociais na internet. 2018. Porto Alegre, RS: Sulina.
*FABÍOLA CAUDURO DA ROCHA
- Graduada em Design Gráfico pela FMU (2015);
- MBA em Gestão de Recursos Humanos pela FMU (2016);
- Pós graduada em Design Educacional e Pedagogia do E-Learning pela Universidade Cruzeiro do Sul (2020);
- Mestra em Educação pela UNISAL (2022) ;
- Trabalha há mais de 15 anos com práticas administrativas e acadêmicas relacionadas ao desenvolvimento pedagógico dos alunos, apoio aos professores e coordenadores, inclusive em cargos de gestão e supervisão como responsável junto ao MEC nos programas FIES e PROUNI e
- Atualmente é docente na nos cursos de comunicação e design gráfico, na Universidade de São Paulo - Unicid, e, também atua como conteudista e autora de artigos.
Nota do Editor:
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