domingo, 29 de setembro de 2019

Se Só te Faz Sofrer, Não é Amor

Autora: Fernanda Araújo(*)


"Eu choro todos os dias por causa das coisas que ele me fala." 
"Eu fui chamada de velha, gorda e bipolar." 
"Eu sinto como se não tivesse mais escolha." 
"Eu acho que nunca vou ser feliz."

Essas são frases comuns de pessoas que viveram ou vivem em um relacionamento abusivo. 

Perceber que se vive num relacionamento abusivo não é tão fácil. 

Podem existir muitos significados por trás de um dia a dia sofrido, numa troca que, ao olhar do saudável, parece impossível de aguentar. 

É importante no trabalho psicoterapêutico, o caminho para se tentar entender o que acontece. 

E é necessário que se ofereça ao paciente um enorme apoio para que aos poucos este consiga ir se dando conta e enxergando o que até então parecia ser imperceptível: agressão não é amor. 

Pode até ser, se tratarmos pela via da possibilidade dos processos cruzados de forma inconsciente. Porém, de qualquer forma, não há como se imaginar não adoecer dentro de vínculos tão humilhadores, castradores, assassinos do emocional do outro a quem dizem amar. 

E é preciso ter imensa coragem para olhar para a realidade e admitir para si que está sendo abusado por quem se ama. 

O relacionamento abusivo é aquele que inclui o ato de privar uma das partes do relacionamento, da própria liberdade, como por exemplo limitar o outro sob ciúmes excessivo, cobranças, proibições, acusações e xingamentos. 

Humilhando e denegrindo a outra pessoa. 

Alguns padrões de comportamento podem ajudar a identificar o limite do abuso numa relação: 

Ciúmes excessivo com a família do outro, provocando o afastamento tanto dos familiares como também de amigos, colegas de trabalho, e outros círculos sociais, como contatos das redes virtuais. 
Controle exagerado e uso de acusações e questionamentos sobre onde o outro esteve, com quem esteve, todo o tempo; 
Uso de chantagem para obter controle dos passos do outro ("Se você não fizer...") 

Agressões verbais, xingamentos e inversão de lugar quando a acusação e questionamentos de alguma forma se invertem ("Você é louca, eu não te traio com ninguém"). Sempre há manipulação, inferiorização, muitas vezes em forma de comparações. 

Sensação de solidão e insegurança por parte da vítima, conflitando com o medo e a dificuldade de terminar o relacionamento. 

Pedidos sucessivos de desculpas e promessas sobre mudança no comportamento. 

Oferecimento de presentes como forma a agradar e mostrar que há amor, porém, seguidos das repetições de novas agressões. 

Manipulação para inferir no outro culpa por tudo, castigando indiretamente com ausência de carinho, sexo, conversa. 

Se você que está lendo este artigo se identifica com o que está sendo dito, assim como tantas vítimas em trocas assim, precisam em primeiro lugar compreender algo importante: a culpa nunca foi sua. 

Vítimas não tem responsabilidade em ajudar o agressor. 

Este precisa aceitar que há um problema, e aceitar ajuda médica e psicológica profissional, e de outras pessoas que deem apoio. 

Vítimas geralmente se cobram de um papel que não é seu.

É muito importante aqui também considerar algo: estatísticas indicam que uma grande quantidade de homens que sofrem abuso na infância torna-se abusivo, como meio de aliviar as tensões psíquicas, reproduzindo de alguma forma o que viveram. 

Há que se ter um olhar, então, sem julgamento para ambos, vítima e agressor, pois precisam de ajuda, cada um em sua demanda interna. 

O relacionamento abusivo faz a vítima se sentir fraca, incapaz e totalmente dependente do parceiro. 

E por mais que possa parecer estranho, pode haver aí uma troca, algo que se encaixa, fazendo este relacionamento se manter. É preciso acolher, analisar para poder tratar. 

As vítimas podem sempre procurar ajuda, seja por grupos de apoio nas redes sociais, por profissionais na rede pública, e também tentar o apoio de um amigo ou família. 

O que importa é olhar para a situação real e tratar. Não é fácil, não é imediato, mas é possível. 

*FERNANDA ARAÚJO

-Psicóloga Clínica – CRP 06/143598
-Formada em Psicologia pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU);
-Especialista em Saúde Coletiva com Ênfase em Saúde da Família;
-Atende em consultório particular, na abordagem psicanalítica;
-Atendimento de casais, adultos, adolescentes e crianças
-Local de Atendimento ABCD e Jabaquara / SP
@psicofernandaaraujo
(11) 987172012






Nota do Editor:

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