domingo, 25 de agosto de 2024

Vc exerce a paternidade altruísta?


Autora: Keity Teixeira Fonseca Valim(*)


O ditado popular que tanto ouvimos de que o fruto não cai longe do pé, será o início da discussão desse texto que busca ser breve na minha explanação, mas que não se esgotará diante das informações aqui colocadas e que causarão (assim espero...rs) mais reflexões.

O intuito desse texto é transcorrer sobre a busca de identidade de pais e filhos, porém num cenário diferente do habitual, que é diante da paternidade atípica. A vontade de escrever sobre esse tema veio a partir da leitura do livro "Longe da Árvore", do autor Andrew Solomon.

Na verdade, o texto trará também a reflexão sobre a criação de filhos e o quanto a diversidade dos filhos impactam na vida dos pais.

No início do texto o autor afirma que amar os nossos filhos é um exercício de imaginação, pois na verdade, enquanto pais, amamos a fantasia da nossa imortalidade em características que nossos filhos trazem. D.W. Winnicott disse: "Não existe bebê." Ou seja, quando alguém descreve um bebê também está descrevendo alguém mais. Instigamos nossos filhos a nos imitar e desejamos, profundamente, que eles vivam de acordo com o que nosso sistema de valores.

Solomon expõe em seu livro a identidade vertical, que são compartilhadas de pai para filho, como a linguagem e a etnia. Quando alguém tem uma característica inata ou adquirida que é estranha aos pais, falamos da identidade horizontal. Ser gay, a psicopatia, o autismo e a deficiência intelectual são exemplos de identidade horizontal. Alguns pais consideram a identidade horizontal do seu filho como uma afronta, como por exemplo, o filho ser gay.

A diferença marcante de uma criança em relação ao resto da família exige conhecimento, competência e ações. Essa diferença pode ser chamada de doença ou identidade. Para o autor, muitas condições são tanto doença como identidade, sendo esses termos colocados como opostos, algo que para o autor é errado. Doença e identidade são aspectos compatíveis de uma condição. Com essas colocações que faço uma pergunta: "ser autista é uma doença ou uma característica de identidade?"

Algo unanime entre os pais, independente da condição de seus filhos, é considerarem que eles são surpreendentes. A conquista de uma paternidade altruísta ocorre quando olhamos nos olhos dos nossos filhos e nos vemos nele e ao mesmo tempo vemos algo estranho e, mesmo assim, nos conectamos intensamente.

Enquanto pais, diante de uma identidade excepcional, precisamos exercitar a solidariedade horizontal em conjunto com a empatia.

Os aspectos negativos gerados pela identidade excepcional são conhecidos de todos, por isso irei mencionar os aspectos positivos diante da criação de filhos com condições horizontais, são elas:

- 94% dos pais dizem estar se dando bem na criação dos filhos como a maioria das famílias;

- As condições de seus filhos os aproximam dos seus cônjuges e de outros membros da família e amigos;

- aumento da empatia;

-gerou crescimento pessoal; e

- nada menos que 100% dos pais mencionaram aumentou sua compaixão pelos outros devido a sua experiência.

O autor Erving Goffman, na sua obra Estigma, sustenta que "a identidade se forma quando as pessoas se orgulham daquilo que as tornou marginal, possibilitando assim alcançar autenticidade pessoal e credibilidade política."

Que possamos exercer cada vez mais uma paternidade altruísta deixando de lado o egocentrismo na criação dos nossos filhos.

* KEITY TEIXEIRA FONSECA VALIM


-Psicóloga Clínica;
-Especialista em Neuropsicologia pelo CEPSIC-ICHC/FMUSP;
-Especialista clínica na abordagem analítica – Unicamp;
-Experiência como coordenadora pedagógica, formação de professores e assessoria educacional; e
contato: keityteixeirafonseca@yahoo.com.br
-De acordo com suas próprias palavras:"Mãe da Valentina (2anos), que desde que chegou ao mundo me mostrou que para eu ser um ser humano mais desenvolvido preciso deixar de lado meu ego. Meu mundo  é mais feliz depois que ela chegou!"

Nota do Editor:

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