domingo, 25 de maio de 2025

Devagar para enxergar


Autora: Maria Antonia Sant'Ana(*)

Quero começar contando uma história sobre algo que vivi meses atrás e o que aprendi com ela. Você me acompanha?

No início de 2023, eu queria melhorar o meu desempenho físico, emocional e profissional. Fiz inúmeros exames, e eles me mostraram a necessidade de fazer a suplementação de algumas vitaminas, cortar o leite, seguir a dieta da nutricionista, sem contar a necessidade de atividade física três vezes por semana, o que eu já fazia há um ano e meio sem falhar.

Nada disso foi suficiente para eu me sentir com mais energia e disposta a enfrentar os desafios que a vida me apresentava. As recomendações me ajudaram, mas ainda parecia não ser o ideal, porque o que sentia era diferente do que era tido como o esperado ou desejado.

Algum tempo depois, eu recebi o diagnóstico de CIA (comunicação interatrial), um defeito congênito de fechamento do septo interatrial, que é a estrutura que divide a parte do coração entre os lados direito e esquerdo, e tem como sintoma principal o cansaço excessivo.

Depois de receber esse diagnóstico, pude sentir compaixão por mim mesma.

Eu precisava sempre me reabastecer com frases como: "Vai, você precisa conseguir. Precisa dar conta dessa tarefa. Como já está tão cansada às 15h? Ainda tem muito dia pela frente e você não pode simplesmente descansar até amanhã!"

Eu estava tão envolvida com tudo o que eu ouvia e via nas redes sociais e com as pessoas com quem convivia, que nem me dei conta de que o cansaço que eu sentia não era normal. Então, percebi que não importaria o que eu fizesse, meu coração não daria conta do recado, e eu precisei desacelerar.

Desacelerando, percebi que havia um jeito "certo" de viver, que era diferente do que eu conseguia viver. A verdade que eu carregava jamais se assemelharia ao que era desejado pela sociedade, e pude me dar conta de quantas verdades encontrei durante a minha caminhada e, sem refletir sobre elas, porque havia muito a ser produzido, simplesmente as chamei de minhas e cuidei para que recebessem um bom tratamento. Não percebi, porém, que, com isso, e por conta da condição física que me impedia de ter os resultados esperados, eu me proporcionava cobranças excessivas, infundadas e pensamentos entristecedores sobre mim mesma e o meu desempenho.

Algumas dessas verdades eu adquiri vendo meus pais vivendo as suas vidas, outras adquiri observando pessoas que admiro, algumas peguei emprestadas das tantas aulas e conteúdos estudados, outras eu aprendi com o resultado das minhas experiências, sem sequer notar que os meus comportamentos não eram totalmente meus.

Olhando mais profundamente, percebi que muitas coisas que eu jurava serem minhas, na verdade, não eram. Eram emprestadas, roubadas, armazenadas e nomeadas por mim e para mim para construir uma imagem que se assemelhasse a um ideal pregado pela sociedade.

Reconhecer que eu, no meu mais profundo eu, não concordava mais com determinadas verdades foi um convite para me desfazer de mim, deixar pelo caminho o que eu não poderia mais levar comigo, porque, ao invés de me deixar mais forte, me deixava cansada, pois eu precisava carregar, ao invés de integrar. Foram dias complexos e exaustivos, porque, à medida que eu me desfazia de mim mesma e sentia muito por isso, também precisava lidar com o estranhamento daqueles que me são próximos.

É preciso ter um olhar atento a tudo o que vemos e ouvimos, porque há detalhes que não são percebidos sem um exame de imagem, sem que possamos abrir o peito e olhar de perto.

Se não olharmos em profundidade para nossos sinais e sintomas, podemos nos confundir com as verdades propagadas, que podem não corresponder à nossa realidade. Hoje, sabemos, por exemplo, que alguns sinais de falta de vitaminas, minerais, alimentação inadequada, práticas espirituais e atividade física ausentes, podem atrapalhar nossos dias com desânimo, cansaço e dificuldade para dormir e descansar, bem como o amor que sentimos por nós mesmos. Não cuidar dessas áreas e sofrer com as consequências disso pode nos levar a cobranças e pensamentos que geram ansiedade e sofrimento extremo. Consequentemente, nossos resultados ficam aquém do nosso próprio ideal.

Compreender cada nova fase e nos despedir do que não é mais nosso ou do que nunca foi exige cuidado, carinho e atenção. Exige comunicar ao outro, pedir ajuda, entender a estranheza dele e respeitar o tempo dos processos.

Esse é um convite para um cuidado integral. Para olharmos para a nossa prática de atividade física, para a nossa alimentação, para nossas emoções e pensamentos, para a nossa espiritualidade. Olhar para apenas um pilar pode significar deixar outra parte de nós à sombra e negligenciada.

Se você sentir dificuldade em iniciar um caminho autêntico de autocuidado e lidar com as surpresas que podem se fazer presentes durante o processo, entre em contato com um profissional de saúde mental.


Com amor,
Mari Sant'Ana

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