domingo, 12 de março de 2023

Mitos, crenças e tabus em torno da sexualidade dos casais


 Autora: Fernanda Araújo (*)



Neste artigo quero trazer algumas reflexões sobre os mitos e tabus envolvendo a vida sexual dos casais.

Durante a leitura, observe os mitos que são mais frequentes, os que te chamam mais atenção.

Pode ser que você chegue a pensar: "meu Deus, as pessoas pensam verdadeiramente isso?". Ou então: "isso é um mito? achei que era verdade".

Analise como esses mitos afetaram e podem estar afetando a sua vida.

Alguns mitos geram um "peso", expectativas e cobranças sobre o que é uma vida sexual ideal. Incluem mensagens ou imagens fantasiosas e até irreais sobre como seria uma vida sexual fascinante.

Trazem uma ideia idealizada da vida sexual dos casais e geram uma série de desconfortos, conflitos e sofrimento. E nem sempre os casais terão conhecimento suficiente, experiência e preparo para lidar bem com os conflitos reais que se apresentarão na vida íntima.

Por isso, como terapeuta de casais percebo que é crucial falarmos sobre os tabus que envolvem a vida sexual de um casal.

"DEPOIS QUE SE CASAR, O SEXO ACABARÁ"

O fato de o sexo acabar quando os casais se casam não está relacionado a um documento assinado que formalizou a união dos parceiros, mas sim à dinâmica que se estabeleceu entre eles, que deve incluir o cuidado, atitudes, empenho e disposição para manterem uma relação harmônica em todos os sentidos.

É certo que o casamento engloba responsabilidades, mas o casal deve trabalhar para ir além do comodismo. Casais que já estão juntos há muito tempo experimentam diferentes fases e momentos no caminho de dividir a vida.

A fase da paixão não se sustenta, e dá lugar, com o tempo, a aspectos diferentes de afeto, carinho e um amor mais calmo e puro. A sexualidade com qualidade é reflexo de uma construção no dia a dia.

Os casais que seguem bem já se conhecem mais, já se exploraram muitas vezes, sabem os gostos do outro, se aceitam como são, tem uma troca equilibrada e são esses fatores que deixam o sexo cada vez melhor, mais profundo.

"SE NÃO SINTO DESEJO SEXUAL, É PORQUE NÃO AMO MAIS O PARCEIRO"

Não necessariamente. O fato de se ter mais ou menos "apetite" não significa que alguém não ame o seu companheiro, e sim que nem todas as pessoas são iguais. No ritmo sexual não poderia ser diferente. O casal haverá de encontrar junto, a medida que equilibre e satisfaça cada um.

Quando um dos parceiros tem mais libido, geralmente será o que procura mais, que propõe mais variações nas formas de se relacionarem na cama, e pode com o tempo sentir que só há esforço de sua parte, acreditando que o outro não lhe gosta muito.

O casal deve conversar de forma transparente, e assim encontrar uma forma equilibrada de estar junto. A vida sexual é para os dois e é muito saudável.

"SEXO SÓ É BOM QUANDO AMBOS TÊM ORGASMO"

Fazer sexo não é só chegar ao orgasmo. Pensa-se sempre que se os parceiros não chegaram ao clímax, então a relação sexual "não contou".7

Por muitas vezes, condições como cansaço, preocupação, alterações hormonais e estados emocionais pontuais poderão influenciar na chegada ao orgasmo.

Mas o casal deve considerar que beijos, carícias, toques e estímulos também podem ser experimentados com muito prazer, mesmo que alguém não chegue ao orgasmo.

"A FREQUÊNCIA DAS RELAÇÕES SEXUAIS DITA QUANTO TEMPO O CASAL  FICARÁ JUNTO"

Para alguns, poder manter relações sexuais todos os dias pode ser essencial. Para outros, não.

De qualquer forma, cada casal funciona de uma maneira e nem todos se “conectam” do mesmo jeito.

Cada relacionamento pode ser um mundo à parte e não cabe a ninguém definir regras e protocolos sobre a melhor forma de se viver uma vida sexual em casal.

Ninguém pode ditar quanta paixão deve haver entre os lençóis de duas pessoas. As relações devem ser desfrutadas cada uma à sua maneira. Momentos inesquecíveis podem ser vividos totalmente em privacidade. Cada casal a seu modo.

"SEXO SEM PENETRAÇÃO NÃO É SEXO DE VERDADE"

Sexo é muito mais do que só a penetração. Aqui se cria uma crença que dificulta a aceitação e o desenvolvimento de uma vida feliz com alguém. Casais podem sim compartilhar momentos de imenso prazer, de diversas formas que não incluem a penetração. Uma vida sexual pode ser muito feliz quando vivida com liberdade.

"A PRÁTICA DA AUTOMASTURBAÇÃO INDICA QUE A VIDA SEXUAL NÃO ESTÁ SENDO SUFICIENTE"

A masturbação faz parte do processo de satisfação sexual individual e inclui conhecer o próprio corpo. Não há nada de mal nisso, desde que não se estabeleça um padrão de excesso, que poderia estar indicando uma compulsão sexual. A vida sexual começa por cada um conhecendo a si e como funciona seu corpo.

Há a crença de que se o parceiro se masturbar, é porque o outro não lhe está satisfazendo. O que não é verdade. Não somos a metade da laranja do outro. Somos para a vida dele, complemento. 

 "TERAPIA SEXUAL É UM BATE-PAPO SOBRE SEXO"

 A terapia sexual é baseada em um conjunto de práticas que auxiliam o indivíduo a solucionar dificuldades sexuais. É feita uma análise aprofundada sobre a sua história de vida, crenças, conflitos e relacionamentos. A partir disso, trabalha-se para ressignificar e melhorar a vida sexual do paciente. Na terapia sexual, ninguém é julgado ou exposto. Apenas acolhido para que tenha seus medos trabalhados. Seus traumas identificados. Seus receios e dúvidas esclarecidos. Mulheres, homens, transgêneros, travestis, homossexuais, heterossexuais, pessoas não binárias, todos são bem-vindos à terapia sexual.

"SE OS PARCEIROS SE AMAM, SABERÃO COMO SATISFAZER AO OUTRO SEXUALMENTE"

Não necessariamente se conhecerá totalmente as preferências de um parceiro. É preciso que seja dito, mostrado, conversado, sem receio. A comunicação do casal sobre o sexo é extremamente necessária. O casal pode fazer combinados e acordos. E que seja num clima tranquilo e descontraído.

"ASPECTOS PSICOLÓGICOS NÃO PODEM AFETAR O DESEJO SEXUAL"

A falta de desejo sexual pode ter diversas causas. E pode ser inclusive, multifatorial.

Encontraremos questões fisiológicas, emocionais e psicológicas, crenças e muito mais.

Alguns traumas ou situações vivenciadas podem gerar algum bloqueio que afeta a vida sexual dos indivíduos. É importante buscar uma ajuda psicológica quando não se tem vontade de fazer sexo, quando não se sente prazer, quando não se permite vivenciar a sexualidade.

Em alguns casos encontraremos características de frigidez, onde a pessoa não responde de forma alguma a estímulos sexuais. Não há excitação de jeito nenhum.

Neste caso é recomendado que se procure um especialista. O urologista em casos de disfunção sexual masculina, ou o ginecologista se a questão for feminina.

Se for identificada uma dificuldade no nível emocional, é recomendado que se procure um sexólogo ou psicólogo. Muitas vezes a dificuldade se encontra no nível mental.

"O HOMEM DEVE SATISFAZER A SUA PARCEIRA"

A satisfação em primeiro lugar é individual. A busca e abertura por se sentir satisfeito é de cada um. O parceiro participa e auxilia, mas não é sua total responsabilidade dar conta do prazer do outro. Um homem não deve ser colocado como um "provedor" de prazer.

Uma pessoa melhor resolvida e que se conhece bem, não colocará nas mãos do outro essa responsabilidade. Além disso, sabe identificar um melhor parceiro possível, sem idealizar ou buscar alguém que seja perfeito.

"CONTRACEPÇÃO É RESPONSABILIDADE DA MULHER"

O homem ou mulher precisam estar plenamente conscientes de que a relação sexual não inclui apenas trocas prazerosas. Inclui também seus riscos e um deles diz respeito a uma gravidez. Se o casal não intenta ter filhos, deve se preocupar igualmente com isso. Devem pesquisar, buscar orientação profissional, conversar e encontrar a dois o melhor método.

Vivenciar tais crenças e mitos é algo comum e não deve trazer intimidação. O conhecimento acerca de algo pode libertar.

Em muitos casos, os assuntos mais delicados, que geram conflitos, são abafados, deixados de lado na esperança de que tudo vai se resolver de forma espontânea. A ideia é que falar sobre os problemas vai deixar tudo pior do que já está, quando na verdade é o oposto.

Pesquisar, buscar auxílio, estudar e conhecer, além de conversar com o parceiro, é imprescindível.

E nunca descartar a busca por um especialista, que tem ferramentas para ajudar.

Porque a sexualidade faz parte da vida e deve ser experimentada com leveza e saúde.

* FERNANDA ARAÚJO












Psicóloga Clínica – CRP 06/143598;
-Formada em Psicologia pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU);
-Especialista em Saúde Coletiva com Ênfase em Saúde da Família;
-Atende em consultório particular, na abordagem psicanalítica;
-Atendimento de casais, adultos e adolescentes;
-Local de Atendimento ABCD e Jabaquara / SP;
@psicofernandaaraujo

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

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