sábado, 20 de maio de 2023

A Metáfora e a Pesquisa em Educação


 Autora: Marilice Mello(*)

"Metáfora é uma figura de linguagem na qual se faz uso de comparações subjetivas para se referir a algo de forma indireta. A linguagem metafórica enriquece a forma como nos comunicamos com a utilização do duplo sentido para expressarmos nossas ideias". Dicionário Aurélio.

Em 2021, segundo ano de pandemia da Covid-19, iniciei uma pesquisa de Pós- doutoramento na Universidade Estadual da Bahia- UNEB com o projeto INCLUSÃO NA DIVERSIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE.

Por conta da pandemia os encontros entre estudantes e professores da UNEB, tiveram que ser realizados virtualmente. As atividades foram muitas, encontros on-line de formação, aulas no mestrado, encontros nos grupos de pesquisas, lives com professores de outras Universidades e outros. As lives de uma forma geral foram se multiplicando e se tornou um dos recursos mais utilizados, uma alternativa foi reativar o meu canal do YouTube. Foram realizadas conversas com profissionais da área da educação sobre os temas estudados durante a pesquisa, os “Cafés com Pauta” no meu canal do youtube, o qual cresceu exponencialmente e vem crescendo a cada live realizada. Os “Cafés com Pauta” se encontram na playlist do canal, https://youtube.com/c/MariliceMello e é uma forma de contribuir para o aumento do conhecimento de estudantes, professores, profissionais da educação, familiares e interessados em desenvolvimento humano.

Os projetos do "Café com Pauta" se configuram como partilha do conhecimento e se convergem com o conceito de metáfora que de acordo com Fazenda (2015, p. 55) "é na metáfora que o conhecimento e prática de cada um vão sendo costurados, pensados e analisados para se transformar em novas realidades [...] nos permite ter acesso ao nosso próprio ser".  Foi isso o que aconteceu comigo, a cada live realizada um novo conhecimento era tecido e de certa forma transformado.

Tenho uma admiração muito grande pelo girassol, já há muito tempo. Pensando em tudo o que o girassol nos transmite com sua beleza, e em especial os campos de girassol, fui levada ao entendimento de tudo o que aconteceu e que acontece no meu processo de pesquisa e a relação com a minha vida pessoal. Posso dizer que descobrir isso me transformou, passei a entender muitas coisas antes desconhecidas e aceitar muito do que já aconteceu e outras que acontecem diariamente.

Em um texto de autoria desconhecida busco fazer uma conexão com o que pesquiso e a forma com que me relaciono com o conhecimento e as pessoas. "Antes de ser um girassol lindo e reluzente, ele é semente". Semente que na verdade continuo sendo, necessito de infinitas leituras para o entendimento de um assunto pesquisado antes da escrita.

Então ele recebe luz, calor, água e todos os nutrientes necessários para desabrochar. Assim como o girassol eu recebo o conhecimento de tantas outras pessoas por meio de textos e narrativas. Os nutrientes proveem de diferentes formas.

Ele cresce, floresce e sua natureza nos ensina o que devemos fazer todos os dias. O conhecimento nos faz crescer, florescer e nos transformar.

Sim! O girassol ensina uma lição preciosa e, mesmo sem dizer uma palavra sequer, ele revela sua sabedoria natural. Muitas vezes o meu olhar revela aquilo que o outro necessita para aprender e se transformar.

Ele gira de acordo com a inclinação do sol. Ele persegue a luz custe o que custar. Persigo o conhecimento e nem sempre de forma tranquila. Muitas vezes chego a pensar que seja a hora de mudar de foco.


E nos dias nublados, ao invés de se recolher e murchar, o girassol vira para outros girassóis, a fim de compartilhar energia e receber energia de volta. A partilha acontece naturalmente em minha vida, não consigo ser de outra forma, sou mesmo um girassol que sente falta de estar no convívio de pessoas para trocar tudo o que temos na vida, o amor!”

Em minha pesquisa de pós doutoramento vislumbrei a minha metáfora que na verdade me acompanha a muito tempo sem que eu tivesse percebido.

O exercício foi grande, posso dizer com certeza que meu autoconhecimento se deu por meio da metáfora do girassol.

Contudo podemos dizer que o processo de descoberta da metáfora está relacionado à vivência da entrega, um dos princípios interdisciplinares de Fazenda (2002). Esse processo também está amparado pela escuta sensível que, conforme Barbier (2007), é necessário sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para compreender as atitudes e os comportamentos, os sistemas de ideias, de valores, de símbolos e de mitos, e também sua própria existência.

Busco aqui mostrar como foi a construção da metáfora desta pesquisa, ou seja, a representatividade dos conceitos teóricos com o girassol.

Ao iniciar a escrita do relatório de pesquisa com o tema: INCLUSÃO NA DIVERSIDADE: A CONTRIBUIÇÃO DA INTERDISCIPLINARIDADE E ESPIRITUALIDADE e repensar tudo o que fiz naquele período de julho de 2021 à dezembro de 2022 considero ser uma oportunidade única para reconstruir e descobrir um universo de ações realizadas que não poderia imaginar ser tão grande se não houvesse a obrigatoriedade de registro no relatório. Revisitar as ações realizadas me ajudou a descobrir a metáfora de pesquisa.

Assim sendo, temos por objetivo mostrar um lado criativo, sensível e, porque não, poético da pesquisa. Procuramos usar a vivência simbólica como um caminho de transformação das pessoas, fazer a interrelação dos conceitos inclusão, diversidade, interdisciplinaridade e espiritualidade tida nesta pesquisa.

A inclusão se dá no momento em que num campo de plantação de girassóis, onde uma flor está ao lado de outra, e todas com o mesmo propósito de contribuir com a beleza da plantação, juntos se tornam mais belas. A relação de coletividade tida nesse campo em que todos cuidam uns dos outros.

Segundo Mantoan, (2005, pg 76): Inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção.

A humanidade evolui com a diversidade, porém é necessário respeitar as diferenças. Entendemos que o respeito à diversidade é uma forma de inclusão e de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, não deve haver discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade, opinião e outros. Mas para que isso aconteça se faz necessária a nossa transformação pessoal, nossa aceitação de nós mesmos e dos outros, nossa tolerância para com o diferente.

O ensinamento dos girassóis em relação a diversidade é no sentido de que eles, mesmo tendo a mesma cor - todos amarelos, são todos diferentes e assim confirmam a diversidade existente na humanidade, somos todos diferentes. É importante lembrar como a Natureza permite que cada um cresça no seu tempo, respeitando o processo.

A interdisciplinaridade está presente no momento em que um girassol se vira para outros girassóis a fim de compartilhar energia e luz. A partilha do conhecimento está relacionada a partilha de energia e luz, principalmente em dias nublados.

A palavra interdisciplinaridade em seu sentido morfológico nos remete a pensar da seguinte maneira: é o movimento interno que a disciplina causa em mim e me faz aprender um novo conceito.

Por outro lado, Fazenda apresenta cinco princípios da interdisciplinaridade; Coerência, humildade, respeito, espera e desapego. Esses princípios, quando praticados, irão contribuir diretamente com a inclusão, revestir-se de intencionalidade e comunicar experiências; ser interdisciplinar é saber perguntar e pesquisar a resposta para assim acontecer a aprendizagem.

Destacamos aqui o conceito de espiritualidade tido na pesquisa, que está relacionado com as virtudes do espírito humano: amor, compaixão, tolerância, paciência, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia. Estas qualidades interiores, que trazem ao seu cultivador transformação e felicidade tanto para si mesmo quanto para os outros, podem estar relacionadas com a fé religiosa ou não: podem ser desenvolvidas em alto grau sem estarem atreladas a qualquer sistema religioso ou metafísico. (Beneduzzi, 2017). A espiritualidade se relaciona com o despertar da beleza, do amor e da alegria em ver um campo de girassóis. Ele é resiliente, segue a luz custe o que custar, a busca do conhecimento e também a busca do bem de si e do outro.

Considerações finais

A interdisciplinaridade tem como um de seus princípios a transformação por meio do autoconhecimento e isso posso dizer que é um processo que vem ganhando forças.

Descobrir minha metáfora de pesquisa me fez entender muito do que se passou em minha caminhada, assim como aceitar os desafios. Ser resiliente é a minha maior conquista, e com isso me preparo a cada dia para pesquisas mais ousadas.

Descobrir minha metáfora de pesquisa, não foi uma tarefa fácil, porém foi libertadora, trouxe-me uma aceitação para além da pesquisa, aceitação de mim mesma, considero ser um autoconhecimento que estava adormecido.

A Descoberta  

Quando descobrimos algo ficamos felizes!

Especialmente quando juntamos nossas ideias...

Quando descobri minha metáfora de pesquisa fiquei muitíssimo feliz

Sentindo que iria partilha-la com alguém...

Tenta descobrir

Quem é este Alguém...

Partilhar o conhecimento nos faz pessoas melhores.

Descobrir isso me transformou, me fez aceitar o meu passado e ensinou a viver o agora.

Viver a eternidade do Agora é estar espiritualmente acordado...

Minha metáfora de pesquisa é uma flor que muito nos ensina,

ela busca constantemente a luz do sol

O sinal da Beleza que habita o Universo

Em dias nublados busca a luz da outra flor que está do seu lado

Buscando uma grande lição que Jesus nos deixou:

"Sejam Um como Eu e o Pai o somos"

Sua cor é intensa e alegra onde está.

Concluindo com a profunda verdade que nos diz da Alegria que vem da Beleza, encontrando-se no Amor,

até sempre!

RUY e MARILICE

 








REFERÊNCIA

BENEDUZI, T. M. Considerações sobre espiritualidade, religiosidade e religião. Revista INTERESPE, no 8, pp.01-117, jun.2017;

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNP (CP) n.1, de 18 de fevereiro de 2002.Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_02.pdf>. Acesso em: 24 nov.2012;

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade. Grupo de Estudos e pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI). Educação: Currículo – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade ,  v. 1, n.  6 – especial (abril. 2015), São Paulo: PUCSP, 2015; e

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2001.;FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 2011.;MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.


*MARILICE  PEREIRA RUIZ DO AMARAL MELLO
























-Graduação em Pedagogia com habilitação Pré-Escolar pela Universidade Metodista de Piracicaba (1984);

-Mestrado em educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (2001);

-Doutorado em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUCSP (2013);

-Pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada em Pessoas com TEA. (2019);

-Pós - Doutoranda da UNEB- Campus VI- Caetité-BA, no Programa de Pós-graduação e em Ensino, Linguagem e Sociedade (PPGELS); e

-Membro dos grupos de pesquisa: GEPI – Grupo de Estudos e Pesquisas em Interdisciplinaridade (PUC/SP), INTERESPI- Grupo de Pesquisas em Espiritualidade e Interdisciplinaridade (PUC/SP) e PPGELS- UNEB- Campus VI- Caetité-BA.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário