sábado, 21 de outubro de 2023

Dá licença, mas eu vou sair do sério!


 Autora: Jacqueline Caixeta (*)




Em tempos de globalização, todo mundo entende de tudo. Todo mundo virou especialista e sabe tudo! Todo mundo tem opiniões formadas e certezas a defender quando o assunto é educação. Ora bolas, me desculpem, mas todo mundo é gente demais dando "pitaco" e querendo dizer o que é certo ou errado, quando nem se sabe direito do que está falando.

Nunca vi um paciente chegar para um médico e dizer como ele deve ou não fazer sua consulta, nem para um dentista, como proceder, para um cozinheiro, em como temperar sua comida ou para motorista, se deve ou não passar tal marcha, enfim, o único profissional que um monte de leigo se acha no direito de dar palpites e interferir na prática, é o professor.

Vocês não imaginam os recadinhos que um professor recebe de um pai leigo em educação, sobre como dar sua aula, em como abordar algum tema, em como avaliar tal conhecimento. Se a criança é pequena então, os pais, dentro das suas verdades, para que os filhos não se frustrem, ou por pura falta de competência para lidar com as limitações cognitivas dos filhos, se acham no direito de dizer aos professores como devem fazer. O que vale é a velha e boa regra de que "meu filho não pode sofrer", ou, "meu filho não pode se frustrar e tal atividade está frustrando ele porque ele não sabe fazer." Ora bolas, se não sabe fazer, procure a escola para descobrir os motivos e busque ajuda para sua filho, ao invés de tentar mudar a maneira de ensinar do professor ou mesmo a proposta avaliativa da escola!

A falta de limite dos pais ao enviarem seus recados para um professor esbarra, não somente na falta de educação deles, mas também em algo muito mais sério, a falta de respeito por uma categoria que se desdobra para que crianças e adolescentes aprendam. O aprendizado passa por várias questões e quando ele não se dá dentro do proposto para uma determinada faixa etária, é porque tem algo acontecendo com essa criança ou adolescente, algo que, provavelmente, vá além da maneira como o professor ensina. É preciso investigar, já que aquela criança teve os mesmos ensinamentos e oportunidades de aprendizados que as demais e só ela não está conseguindo o avanço desejado.

Infelizmente em casos assim, é mais fácil culpar a escola, o professor, sua didática, a metodologia, enfim, sempre o outro, do que querer saber o que está acontecendo com o meu filho. Na educação temos tantas propostas de intervenções que podem ajudar desde que diagnosticado as dificuldades. São tantas oportunidades de aprendizados na educação para os que não aprendem no mesmo ritmo dos demais, no entanto, dá trabalho investigar e culpar o outro é bem mais fácil.

Temos professores com competências absurdas de anos de prática pedagógica que são humilhados e desrespeitados com abordagens de famílias que preferem partir pra cima da escola ao invés de ajudar o filho. Não vamos permitir mais essa queda de braços, chega, estamos cansados de tanto desrespeito! Vamos, enquanto educadores chamar essas famílias, que os filhos aprendem de maneira e tempos diferentes dos demais, e mostrar que tá tudo bem, que eles precisam mesmo de um tempo maior e que temos muitas propostas pedagógicas para socorrer, mas precisamos que se juntem a nós em busca de avaliações específicas para que saibamos exatamente por onde e como começar.

Aos pais de crianças e adolescentes que não aprendem no mesmo tempo que os colegas, quero dizer que estamos juntos nessa. Isso aqui não é e nem pode ser uma guerra, não estamos disputando quem mais errou ou acertou, não aceitaremos mais os palpites sem fundamentação teórica e o que é pior, carregados de ofensas e desrespeito ao nosso trabalho. Estamos cansados de julgamentos, queremos parceria, confiança e respeito.

Dá licença, mas preciso sair do sério com tanta falta de respeito de abordagens grotescas que apontam sempre para o professor como único culpado pelo fracasso escolar de alguém. Educar, na minha concepção, sempre foi um ato de amor e coragem, carregado de ousadia e sonho de um mundo melhor. Neste ato, tão lindo aos meus olhos, não cabe desrespeito, não cabe agressões, não cabe falta de amor e cuidado de quem mais deveria estar junto e misturado no processo, que são os pais.

Não se trata de uma guerra, se trata de uma luta por pessoas melhores para que tenhamos um mundo melhor.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta


*JACQUELINE CAIXETA
















-Especialista em Educação

 Autora do capítulo do livro Educação Semeadora: "A Escola é a mesma, o aluno não! "- Editora Conhecimento.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.


10 comentários:

  1. Você como sempre arrebentando em seus artigos ,parabéns, muito bom.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que gosta. Escrevo para provocar reflexões e mudanças de atitudes. A palavra é a minha única arma na luta por uma educação melhor. Beijos

      Excluir
    2. Obrigada

      Excluir
    3. Muito obrigada. Que bom que gostou. Beijos

      Excluir
  2. Educação virou um tema político! E onde há política, não haverão soluções.
    Somos o povo da facilidade. Nossas frustrações são sempre culpa dos outros. Nós, os remanescentes da geração 60, nos revoltamos com a dureza e a disciplina de nossos pais e demos tudo e que não podíamos a geração 80. Veja no que deu!

    A geração 80 lascou as geração 2000.
    É mais fácil jogar a culpa em alguém. Que seja ao professor raíz

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente é bem assim! Estamos lidando com pais que são frutos disso tudo. Quanto à política, é interessante que a educação fique sempre abaixo do desejado, é bem mais fácil para eles . Escrevo para provar reflexões e mudanças de atitudes. A palavra é a única arma que tenho nessa luta por uma educação melhor. Beijos

      Excluir
    2. Infelizmente a política tem feito muito pouco pela educação. E apenas, nós, educadores, lutamos para que a educação seja um ato político de transformação.

      Excluir
  3. Parabéns Jacqueline, mais vez você brilhou. É exatamente isso, que a escola está sofrendo, desrespeito. Precisamos nos importar e cumprir com nosso juramento no dia de nossa colação de grau. Ter ética e garantir nosso desempenho profissional.

    ResponderExcluir
  4. Respostas
    1. Nós precisamos manter a ética e exigir mais respeito. Beijos

      Excluir