sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Bolha imobiliária na "Comunidade"!?!?!





Conversa no coletivo entre dois homens:

- Que isso! só R$ 30 mil? Vendi um barraco por R$ 80 mil lá na Caititu...

- Eu também moro na Caititu, mas lá não tem mais risco de retomarem o terreno.

- Eu estou naquela invasão também. Mas lá ainda tá grilado, mas dá pra vender um de dois cômodos por R$ 30 mil.


Pensando bem no absurdo dos vários "Brasis"... se um barraco com apenas contrato de compra e venda grilado, com risco de perder tudo por 30 mil... como vamos reclamar dos apartamentos nos moldes do "minha casa minha vida" por R$ 150 mil em média?


Grilaram o Brasil minha gente. E os gafanhotos do Planalto dizimaram o resto. Fazendo uma breve pesquisa sobre o tema, mercado informal é a regra, infelizmente.

Custos de transmissão de bens, documentação são muito altos para pessoas de baixa renda, então as negociações seguem informais. Em pesquisa realizada por oito universidades brasileiras, lideradas pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).O estudo traçou um retrato do mercado imobiliário nas favelas de oito capitais. O projeto Mercados Informais de Solo Urbano nas Cidades Brasileiras e Acesso dos Pobres ao Solo analisou a comercialização de imóveis (compra e venda) e a locação (aluguel) em favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Belém, Salvador e Brasília.Uma das conclusões do estudo é a existência de um mercado informal regular do solo nas cidades estudadas, com alta rotatividade na ocupação dos imóveis em algumas comunidades. Os mais altos níveis de rotatividade foram encontrados nas favelas do Acari (14,66%), do Grotão (13,36%) e Tijuquinha (10,12%), enquanto o mais baixo (0,36%) foi identificado no morro do Pavão-Pavãozinho. Todas essas comunidades ficam no Rio de Janeiro.Para a coordenadora executiva da pesquisa, Andréa Pulici, do Ippur/UFRJ, os números mostram que a troca de imóveis é mais intensa nas favelas do que no mercado formal. “Esse mercado é muito mais líquido e tem maior rotatividade do que o mercado formal”, destaca.A pesquisadora ressalta que a compra e o aluguel de imóveis em comunidades carentes seguem normas próprias, apesar de estarem dentro da informalidade. “Esse mercado tem práticas que regulam seu funcionamento”, diz.Pulici ressalta ainda a importância de entidades locais para coordenar o mercado imobiliário nas favelas. “No Rio de Janeiro, por exemplo, as associações de moradores têm papel fundamental”, salienta. “Quando você compra ou vende uma casa, o contrato é registrado na associação, inclusive com o pagamento de imposto para a entidade.”O estudo atesta que o mercado imobiliário informal é uma das portas de entrada das famílias pobres nas grandes cidades não apenas do Brasil, mas da América Latina. Segundo o levantamento, há uma oferta de moradias informais voltada aos mais pobres, especialmente em Belém, Brasília e São Paulo.O projeto teve apoio financeiro do Programa de Tecnologia da Habitação (Habitare), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia. A Finep investiu R$ 457,9 mil no estudo. A pesquisa resultou na construção de um banco de dados com informações inéditas sobre o mercado imobiliário em comunidades carentes consolidadas.O trabalho foi desenvolvido por uma rede de instituições. Participam a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Universidade Federal do Pará, a Universidade Federal da Bahia, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB), o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além do Ippur/UFRJ. (fonte)

Vem a pergunta: mesmo com risco de reintegração, quais as "vantagens" de se morar na Comunidade (agora o termo favela é incorreto politicamente)? 

Pois bem. Empiricamente, conversando com meu pai, ele disse pontos interessantes: 1 - não paga aluguel, condomínio, luz e água; 2 - segurança 24h (também informal) pois os "líderes" não deixam ninguém mexer na Comunidade; 3 - Assistência social: sempre tem almas caridosas que levam alimentos, brinquedos entre outros donativos. 

Daí lembrei-me conversando com uma funcionária pública que trabalha com demandas de habitação popular, quando do cadastramento para adquirir moradia legalizada, argumentam da seguinte forma: "não Dona, prefiro ficar no barraco. Aqui as pessoas trazem pra gente comida, roupa, brinquedo. Morar naquele pombal me deixa escondido e eu não ganho nada". 

Com juros altos e incerteza, o mercado informal cada vez ganha mais força. Infelizmente é essa a realidade. A racionalidade da Teoria Econômica engloba essas soluções inusitadas e cada vez mais organizadas (conforme pesquisa acima) distanciando cada vez mais o Brasil formal do informal. Cultura perigosa e separatista. Reformas estruturais são mais que urgentes para tentar mesmo que a médio e longo prazo reverter essa situação. 

#SOSBrasil

Por ANA STUCCHI



-Economista de formação;
-MBA em Gestão de Finanças Públicas pela FDC - Fundação Dom Cabral;
-Atualmente na área pública
Twitter:@stucchiana

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