domingo, 14 de junho de 2020

Amadurecimento das Fases do Amor


Autora: Renata de Masi(*)


Aos olhos da Psicanálise, a infância é de extrema importância para nossas vidas, sem deixar de lado a adolescência que finaliza o desenvolvimento. Esse desenvolvimento estrutura a construção do nosso ‘Eu’ e as nossas relações por toda a vida. Os cuidadores da criança são as figuras-espelho que a ensinam a nomear o mundo externo e seu mundo interno onde o Amor pode ou não amadurecer.

Nessa abordagem palavras como recalque, trauma, angústia, repetição, fixação, sublimação, libido, Édipo, etc., são norteadoras dos pensamentos teóricos aos quais me dedico em meu tempo profissional e deparei-me com a complexidade do tema Amor e a necessidade de deixá-lo mais didático para o grupo de profissionais que supervisiono pois colaboraria para a organização clínica.

Começo, então, a olhar para o Amor e ‘brincar’ com a teoria, unindo as fases de Freud e as possíveis fixações que resultam na imaturidade das relações.

Para elucidar a nossa "brincadeira" teórica, peguei como exemplo os relacionamentos amorosos, mas poderíamos olhar assim para qualquer outro tipo de relacionamento, pois carregamos nossas projeções psíquicas por onde andamos:
    Amor Oral: com um exemplo de uma pessoa extremamente carente, dependente, egoísta, precisando da presença real do Outro para supri-la e, quando o outro não corresponde, ela 'morde' pois não possui recurso para lidar com tal frustração. Temos aqui um grande 'bebê' voraz;

    Amor Anal: pensando ainda que o desenvolvimento está primitivo, há apenas um pouco mais da existência do outro, que deve servir seu par em alguma instância simbólica, mas também ser controlado. O 'ter' é superior ao 'ser' e, se nessa relação o casal conseguir fixar essa parceria/conluio, temos a possibilidade de umamor/convívio. Caso uma das partes apareça com um desejo em que o outro não esteja incluído ou não aprove, temos um ‘bebê enfezado’ recusando ser incompleto;

    Amor Fálico: ah, esse Amor! A pessoa importa-se com quase tudo… o gozo para os dois, a troca de afeto, o 'ser'’ antes do 'ter', um 'comigo' sem necessitar da presença. Este par não é facilmente substituível, parece ser até a minha ‘metade’, meu faltante. Consigo torcer por ele/ela mesmo que tenha que renunciar uma parte em mim. Mas, tudo isso acompanhado do fantasma do ciúme. Nesse amor encontramos a necessidade mesmo que fantasiosa de um terceiro criando a situação de haver uma escolha e um excluído. Temos uma 'criança’ angustiada pelo medo de ser esquecida por um dos pais;
Amor de Latência: aos olhos do ‘vizinho’, talvez seja um Amor invejado. São parceiros, educados, respeitosos, tem um grupo de amigos próximos e até mantem um projeto juntos. A questão é que sua vida sexual está reprimida ou cindida, deixando suas vidas e o tempo no automático e sem cor. Mas essa é a única relação que necessariamente a renúncia dos corpos deve incomodar. Temos uma 'criança' em período de alfabetização que, por enquanto, não identificou a importância de sua sexualidade;
Amor de Saída Edípica: provavelmente, o início do fim da evolução do Amor depois de treinar muito e de várias experiências. A doação não é contabilizada pela certeza de receber, pois a justiça, confiança e igualdade são os alicerces dessa relação. O gozo é sobre um corpo simbolizado pelo ser que é, a liberdade de escolha é a certeza de querer ficar e o ir é a paz que faz morada na eternidade de sua falta. Temos um sujeito 'pronto' para suportar o percurso da frustração pela descoberta do incompleto.

Espero que o leitor tenha alcançado o valor e a importância de preocupar-se com o seu desenvolvimento emocional frente a esse sentimento que é tão difícil de alcançar em plenitude. A responsabilidade faz-se ainda maior na função de ensinar ao outro não só com fala, mas também em ação. 

A complexidade do Amor pode ser encontrada de forma mais simples quando é norteado pelas palavras empatia, moral, justiça, igualdade e liberdade estruturados na singularidade.

*RENATA DE MASI


-Psicóloga e Psicanalista atuando em consultório particular em Santo André/SP;
-Formada na UniABC;
-Especialista em Psicopedagogia pela UniABC;.
-Foi professora universitária na UniABC nas áreas que envolvem Psicologia e Educação;
-Coordenadora de Projeto de atendimentos clínicos.
-Atualmente pesquisadora na clínica no tema Psicanálise e Sexualidade;e
-Supervisora clínica.
E-mail: reverieespaco@yahoo.com
Tel/WhatsApp: (11) 9.8487.6907

Nota do Editor:

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