domingo, 6 de março de 2022

Pandemia e Educação: relação de consequências nefastas


 Autor: Rodrigo Augusto Prando (*) 


A pandemia, nos seus primórdios, já apontava para uma situação difícil em inúmeras dimensões da sociedade brasileira. A conjuntura pandêmica agudizou aquilo que, estruturalmente, já se apresentava como graves problemas. A educação, infelizmente, é uma das dimensões da vida social mais atingidas nestes dois últimos anos.

Segundo matéria assinada por Bárbara Muniz Vieira, no portal g1(Com pandemia, aluno do ensino médio de SP tem pior desempenho da história; estudante sai com defasagem de seis anos | Educação | G1 (globo.com)), em 02/03/2022, o cenário educacional é, para dizer o mínimo aterrador, pois piora o que já era ruim. Segundo os dados oriundos o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), 96,6% dos alunos da rede estadual terminam sua escolarização com desempenho abaixo do adequado em matemática; ou seja, um jovem ao final do 3º ano do Ensino Médio apresenta uma proficiência em matemática de um estudando do 7º do Ensino Fundamental, uma defasagem de, praticamente, seis anos. No que tange à Língua Portuguesa, o aluno do 3º do Ensino Médio tem uma proficiência comparada ao do estudante do 8º ano do Ensino Fundamental. Ainda na referida matéria, o Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, afirmou que "Aquilo que já era ruim ficou pior. Estou usando uma frase que já foi muito publicizada para dizer que o ensino médio já estava no fundo o poço e a pandemia mostrou que podia piorar".

No campo da medicina já se reconhece a chamada “Covid longa” cujas consequências para a saúde dos indivíduos que foram infectados pelo coronavírus deixam sequelas no sistema nervoso, coração, rins e outros tantos órgãos. Na educação teremos, também, uma longa e nefasta duração de problemas se nada for, urgentemente, feito. A vida do jovem egresso do Ensino Médio será afetada em sua seleção para as universidades e na sua trajetória no Ensino Superior; o mesmo no Ensino Técnico ou no mercado de trabalho. A defasagem em Matemática e Língua Portuguesa criará obstáculos ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades e o marcará indelevelmente.

A produtividade do trabalhador brasileiro já é baixa se comparada aos demais países, seja da América Latina ou aos países do Norte. A qualidade do chamado "capital humano" deixa – e muito – a desejar e isso implica em empregos com baixa remuneração. O mundo caminha para uma economia com intensa mobilização de conhecimentos, domínio de outros idiomas, tecnologia, internet das coisas, numa sociedade hiperconectada. O Brasil, assim, continuará como espectador no palco das nações e incapaz de vencer a "armadilha da renda média", ou seja, países que conseguiram evoluir a ponto de ultrapassar a pobreza, todavia, foram incapazes de manter um ritmo de crescimento sustentado capaz de chegar ao patamar de um país desenvolvido. A estrutura social brasileira apresenta temporalidade histórica distinta. Imprimiu velocidade no campo econômico, mas deixou para trás a cidadania, a cultura política e a educação, por exemplo.

Não há, como sabemos, saídas fáceis para problemas complexos. E a educação, no Brasil, é assaz complexo e multidimensional. Sociedade civil, governos, empresas e cidadãos individualmente podem escolher priorizar a educação ou nos manteremos presos no que há de pior de nossa passado colonial.

*RODRIGO AUGUSTO PRANDO

















-Graduação em Ciências Sociais pela Unesp - Araraquara (1999);
-Mestrado em Sociologia pela Unesp - Araraquara (2003);
-Doutorado em Sociologia pela Unesp-Araraquara (2009);
-Atualmente, é Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas;

-Desenvolve pesquisas e orienta nas áreas de empreendedorismo, empreendedorismo social, gestão em Organizações do Terceiro Setor, Responsabilidade Social Empresarial, história e cultura brasileira, Pensamento Social Brasileiro e Intelectuais e poder político e cenários políticos brasileiros.

Nota do Editor:

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