sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Direita x Esquerda : A banalização das terminologias


 Autora: Maiara Teixeira (*)

Nos últimos oito anos o que mais se tem ouvido durante discussões políticas são as palavras direita e esquerda, infantilmente. As terminologias foram rebatizadas pela população brasileira que no cenário político atual foi dividido em duas extremidades: direita e esquerda, ou seja, quem se identifica como esquerda é do mal e comunista e quem se identifica como direitista é do bem e capitalista ou vice e versa. De qualquer forma, segundo entendo, esse  é um pensamento infantil e obtuso.

O fato é que além de infantilizarem as palavras e darem também um tom apocalíptico a elas, usá-las para definir um posicionamento político da atualidade pode ser águas divisoras entre um tiro na cara ou um abraço afetuoso, o que me leva a querer explicar suas origens e esclarecer que não é correto usa-las como xingamento.

Vamos às origens.

No ano de 1788, um ano antes da Revolução Francesa, o Rei Luís XVI (1754-93) instituiu os Estados Gerais, a fim de discutir a situação econômica do país. Para as deliberações estavam presentes os chamados Deputados, representantes das NOBREZA, CLÉRO E POVO. O que era para ser apenas discussões para resolver o problema econômico da França, acabou por se tornar uma Assembleia Geral Constituinte, e durante esses debates foi levantado uma questão importantíssima, ATÉ ONDE IRIA O PODER DE VETO DO REI? Naquele momento a monarquia era absoluta e somava-se 10 séculos sem qualquer interferência ou intervenção.

No momento em que a questão foi posta em pauta, parte dos deputados que ali estavam levantaram-se e se POSICIONARAM à esquerda dá assembleia e a outra parte à DIREITA. Percebam que a até o momento direita e esquerda era apenas uma questão  posicional.

Os deputados que se posicionaram ao lado DIREITO da assembleia defendiam o poder absoluto do Rei e que as transformações fossem lentas, não havendo ruptura com a ordem tradicional à fim de manter o máximo possível a forma conservadora que já existia. Já os deputados localizados do lado ESQUERDO, em sua maioria jacobinos, defendiam a limitação do poder da monarquia e ainda existia a ideia dos radicais de destituir a monarquia para a criação de uma República francesa.

Foi a partir desse momento que surgiu essa distinção de ideais políticos. Foi um simples acidente de localização de quem gostaria da manutenção do status quo (das coisas como elas correm) e aqueles que querem transformações, sejam elas radicais ou não. Tudo vai depender da comparação, "se o meu amigo tem uma ideia igual a minha, porém mais acalorada, ele pode ser considerado um radical, se tem uma ideia diferente, pode ser um direitista ou esquerdista, dependendo do caso, até uma pessoa considerada de centro."

Dito isso, quando nos deparamos com pensamentos que idealizam o futuro, quase sempre estará ligado a uma ideia revolucionária de esquerda e quem idealiza o passado está ligado a uma ideia reacionária de direita.

O fato é que enquanto no século XVIII nascia duas terminologias perfeitas para aquele momento revolucionário, em outro houve a banalização idiotizada dos termos. Especificamente falando no Brasil do século XXI, tudo se resume ao bem e ao mal, se me identifico como "de esquerda" não se é levado em conta que apenas me identifico com ideais democráticos e modificações que favoreçam o coletivo, rompendo com as ideias arcaicas e empoeiradas do passado, como uma monarquia ou ditadura.

Claro, que aos que se identificam como direitistas é devido também o respeito ao pensamento conservador e estagnado.

Por fim, seria de enorme relevância que as pessoas compreendessem corretamente as terminologias aqui citadas e que o fato de alguém se identificar como esquerdista ou direitista, não fosse tomado como uma ofensa pessoal e motivo para sacar uma arma e ceifar a vida de alguém. Eu posso discutir, caçoar ou discordar do posicionamento, mas jamais ultrapassar esse limite.

*MAIARA TINTILIANO TEIXEIRA

 


 - Advogada graduada em Direito pela Universidade Paulista - UNIP - 2020;

- De esquerda, feminista e apaixonada pelas discussões políticas






Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. "Não temos direita no Brasil!". Temos oportunistas espertalhões e bobos!
    Tenho dito!
    Sim; essa confusão parece aleatória ou mesmo como diz, " um mal entendido", mas, com CERTEZA absoluta faz parte de uma engenharia social. Como diz o zero dois; "tem método ".
    Uma Mentira dita mil vezes...

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