segunda-feira, 22 de maio de 2017

Um Dia de Chuva em São Paulo



A cidade começa cedo a se agitar. Barulho de carro, moto, ônibus, num vai e vem incessante.

O dia seria para variar, corrido. Uma reunião muito importante em São Paulo para apresentação do projeto mais importante para a vida da empresa onde Erika era diretora. Se o cliente não gostasse do projeto a tendência da empresa seria cortar pessoas e isto não era o que ela gostaria. Havia muitos pais e mães que sustentavam suas famílias naquela empresa.
Ela iria fazer a melhor apresentação possível para que o cliente assinasse o projeto. 

Tudo isto ela pensava enquanto estava se preparando para a reunião. Banho, escova, roupas impecáveis, televisão ligada no jornal para ver o transito em São Paulo. Lógico, o transito já péssimo de São Paulo a compelia a sair mais cedo, bem mais cedo...e o café? Não daria tempo. O carro já estava devidamente conferido no dia anterior, óleo, água, combustível, pneus calibrados, ela ainda tinha que pensar em tudo. 

Estrada cheia às cinco horas da manhã. Ela olhava aquele monte de carros e pensava quanta gente no mundo! Preciso que uma única pessoa em todo o mundo – o cliente goste do projeto e assine o contrato. Enfim São Paulo, centenas de pessoas, de carros na Avenida Paulista, local da reunião mais importante da vida profissional de Erika.

Enquanto procurava um estacionamento perto do prédio da empresa do cliente começou a chover torrencialmente. Preciso de um estacionamento mais perto do prédio, pensou Erika.Estacionamento localizado, entrou, parou o carro, calçou o sapato de salto e começou a pegar os outros itens: bolsa, maleta com notebook, pasta com toda a documentação, sombrinha, casaco... mulheres precisam de tantas coisas! Vestiu o casaco, pegou bolsa, maleta, pasta e olhou para a Avenida Paulista - a chuva caia torrencialmente. Encarou a chuva e a calçada da avenida não facilitava sua vida. O salto muito fino entrava nos pequenos buracos da calçada. 

Ah! Uma cafeteria! Consultou o relógio e viu que não daria tempo, nem para um rápido café. O transito muito carregado fez com que demorasse na estrada mais tempo que o planejado. Seguia rapidamente em direção ao prédio do cliente quando o salto ficou preso em um dos inúmeros buracos da calçada. 

Sem tempo para refletir se viu no chão, assim como a maleta do note, sua bolsa quase na rua e o pior, sua pasta com toda a documentação do contrato, que era com zíper estava aberta, no chão, Deus sabe como, com todos os papeis espalhados na chuva. Nem deu tempo de chorar e o celular tocou. 

Tudo aconteceu mais rápido ainda - de repente um belo par de sapatos masculinos, pretos, de cromo alemão (ah de sapatos ela entedia bem!) estava ao lado dela, a mão enorme e rápida recolhia as folhas do contrato, já encharcadas e a maleta com o note, a pasta aberta do contrato, a bolsa. Só viu a outra mão sendo oferecida em gesto de ajuda para que ela levantasse. E o celular não parava. Ela nem olhou para o dono das mãos rápidas e gentis – atendeu o celular. Era a secretária do cliente, pediu desculpas e informou que por causa da chuva, ele estava retido no aeroporto do Rio de Janeiro – marcou nova data de reunião. Ela nem acreditou, olhou finalmente para seu salvador e disse que sim para a secretária, que poderia sem nenhum problema marcar a reunião para outro dia. 

Desligou o celular abaixou os olhos para as mãos do anjo salvador e viu bolsa, maleta, papeis devidamente organizados e molhados nas mãos de um homem... lindo! 

- Desculpe, ouvi sua conversa e entendi que sua reunião será adiada?! E deu uma sonora risada! Que sorte a sua!! 

Agora, após passar por minutos ou segundos, ela ainda nem tinha se dado conta, de tanto estresse, ela também riu.

- Nem me fale, por alguns minutos achei que ia perder meu emprego, foi o que veio à mente! Muito obrigada por me ajudar, eu nem sabia o que pegar primeiro, o contrato, o note, minha bolsa. Muito obrigada! 

- Aceita tomar um café? Perguntou o “anjo”. 

Prontamente ela aceitou. Sentaram em um café próximo, e ela contou do tombo, da chuva, da importância da reunião, falou sobre o projeto, da vontade de tomar um café, do transito, do horário que havia saído de casa e ele pacientemente ouvindo com atenção. 

Quando ela pediu que ele falasse um pouco, descobriu que era viúvo, sem filhos, que trabalhava muito, que era empresário, que gostava de esportes radicais, que tinha gostado dela assim que a viu sair do carro, que viu o tombo e aí que viu uma oportunidade de se aproximar e ajudar. 

E continuaram a conversar...

- Mãe, este café vai demorar? E Erika voltou dos devaneios e respondeu: - Estou levando! 

Na mesa da sala, o “anjo” - de quinze anos atrás, agora seu adorado marido, com a filha de oito anos. Agora ela é vice-presidente da empresa. 

Após a chuva, o café, a longa conversa ela e Eric, nunca mais se afastaram. 

A reunião aconteceu na semana seguinte, o projeto foi aceito e a empresa se reergueu, ela casou...lá fora chovia torrencialmente! Vamos tomar um café?



Por KÁTIA DUARTE MAGALHÃES

-Bacharel e  mestre em Administração;
-Mãe e professora universitária;
-Escritora por diversão:"Fico tentando imaginar o sorriso no rosto das crianças ao ler/ouvir o conto";
- Amante incondicional de livros e entusiasta por incentivar os outros a ler também: "Quando se lê um livro e consegue-se viajar na leitura, não há como descrever esta sensação."
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

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