segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Virei Amigo do Ex de Minha Mulher


Atualmente estou comprometido. São 8 meses de relacionamento e no fim de meus 33 anos e várias tentativas ao longo do tempo me envolvi com uma mulher com duas filhas. 

Como todo mundo eu tenho a minha bagagem das experiências que vivi. Já havia namorado outras mulheres que tinham uma criança de outro envolvimento amoroso, mas na maioria das vezes o pai biológico era pouco presente ou completamente ausente. 

Desta vez foi tudo novo para mim... Duas meninas, pai presente, bom relacionamento entre minha mulher e seu ex-marido e de repente saio da Baixada após décadas morando lá e sou inserido num novo núcleo familiar. 

Confesso que inicialmente tinha o receio de conhecer o ex da minha esposa. Tinha criado em minha mente uma imagem negativa. Secretamente eu o vilanizava a cada vez que ele era mencionado. Era como se a minha mente masculina esperasse por competição.

Eu me entregava a um ciúme desnecessário já que eu nunca havia visto a pessoa, mas a imagem era quase palpável. Isso durou um mês.

E fomos apresentados em circunstâncias estranhas já que eles, apesar de separados, dividiam a casa que moraram por anos com as crianças, e passamos a ter contato ocasional, nos esbarrando quando eu chegava e ele saia. 

Como eu passava muito tempo na companhia de minha mulher e das crianças, logo o contato entre nós ficou mais frequente e passamos a conversar e, para a minha total surpresa, vi que ele era um cara legal. Começamos apenas com conversas sobre as meninas, horários, escola e outros. 

Como minha presença passou a ser assídua na casa por conta do meu trabalho que era bem perto da casa deles, dentro de pouco tempo passei a dormir na mesma casa em que o ex. 

Raras foram às vezes que encontrei ser humano tão solícito quanto ele que dormia no sofá enquanto eu dormia com a ex- esposa dele no quarto que outrora foi dele, debaixo do mesmo teto que ele e as filhas.

Acordávamos mais ou menos no mesmo horário e, após os primeiros dias de esbarrões, meio constrangidos de ambas as partes, passamos a ter um contato mais amigável. Ele perguntava se eu queria um café e eu perguntava se ele queria um cigarro. Ele contou que ficava feliz de eu cuidar bem das filhas dele e me importar imensamente com o bem estar delas e que as meninas me adoraram e gostavam quando eu ficava por perto.

Bem, e minha mulher? 

No princípio ela gostou dessa situação e chegamos a beber os três juntos algumas vezes, caronas ocasionais e tivemos conversas até tarde da noite.

Percebi que eu tinha um novo amigo e aí minha mulher passou a não gostar mais, visto que eu poderia conversar com outra pessoa agora e acabava me distraindo em conversas sobre religião, filosofia, cultura pop e séries de Tv com o ex-marido dela, até que encontramos um ponto de equilíbrio. E há quem possa pensar que somos parecidos, mas não somos. Ele é calmo e lógico, e eu agitado e expansivo e seria o lugar comum que não nos déssemos bem. 

A lição que tirei ao longo desses últimos meses foi que, com maturidade e racionalidade, podemos evitar situações desagradáveis, competições fúteis e estresse. Sem guerra de testosterona. 

Cada um tem sua própria vida e experiências, um passado único que forma cada ser humano que temos contato hoje e eu entrei na vida dessas pessoas nesse ponto. 

Eu amo a minha mulher com todas as suas qualidades e defeitos e parte da vida dela envolveu uma diversidade extensa de outros fatores que não giram e nem nunca giraram em torno de mim. Ele é o pai das filhas dela, das crianças que eu amo e cuido quase todos os dias, entre a corrida diária para apronta-las para o balé, leva-las para a escola, ajudar a fazer os deveres de casa e coloca-las para dormir; nós dois, mesmo sendo tão diferentes, chegamos ao mesmo senso comum: elas são a prioridade. Saber conviver com isso tudo me fez bem e não nego que parte da minha cabeça ainda estranha essa dinâmica nova da minha vida. 

#Sou amigo do ex.

POR RAFAEL CANTO











-Fotógrafo e escritor:
-Estudou biblioteconomia na UNIRIO.

Nota do Editor:

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12 comentários:

  1. Nossa Rafael que legal!!! Mas é isso mesmo arrumou companheira com filhos tem que ama-los TB!! Parabéns pela maturidade!!! Um forte abraço !!

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    1. Muito obrigado! Faz parte da vida saber conviver. Abraço!

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  2. Muito obrigado! Faz parte da vida à dois conviver com que a pessoa é. Respeitando as escolhas e o passado de cada um.

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  3. Bom dia! Por isso que sempre procurei me dar bem com os ex, mas infelizmente, eles ainda não tem esse nível de maturidade para perceber o que realmente é importante, manter o convívio familiar. O relacionamento antigo mudou de status, passou para amizade, o que, inclusive, se torna um apoio muito importante para todos. Ninguém está livre de infortúnios, e ter a parceria de quem te conhece bem, faz muita diferença.

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  4. Bom artigo Rafael, segundo minha concepção deve realmente ser mais provável que isso ocorra entre homens do que com mulheres

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    1. Bem, foi minha primeira experiência do tipo, mas me informarei se ocorre com as mulheres também. Se bem me lembro, acho que uma amiga já passou pelo mesmo. Obrigado por comentar!

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  5. Acho muito difícil, dentro do quadro de competitividade que as mulheres tende a viver (mesmo eu sendo mulher), ter essa maturidade... essa aceitação...
    É difícil sim, mas não impossível ainda mais no quatro família que a atual sociedade tem se estabelecido.

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