sábado, 18 de agosto de 2018

As Universidades e o Fator Humano


A epopéia de um médico medieval – Londres, Inglaterra, século XI, nesses tempos obscuros e brutos, os rios ficaram congelados, as chuvas foram abundantes e as enchentes do Tâmisa trouxeram destruição e morte. 

Um jovem (Rob Cole) ficou órfão de pai e mãe com dois irmãos pequenos para criar - William, de seis e Anne Mary, de quatro. Lutando para sobreviver, torna-se aprendiz de um "barbeiro-cirurgião" - amoral por excelência - e se faz charlatão, apregoando aos quatro cantos as qualidades suspeitas de um elixir. 

Dotado de um dom quase místico de curar, apaixonado pela Medicina - seu ideal de vida - embarca para a Pérsia, onde essa ciência ensaiava seus primeiros passos. Lá encontra o lendário médico "Aviem-na". É uma vida aventureira, mas dedicada de corpo e alma a esse ideal: o saber e o bem-estar da humanidade.

Qualquer cidadão com um mínimo de educação pode perceber os avanços do ser humano, embora as críticas à sua despreocupação com o meio ambiente e à sua autodestruição estejam plenas de verdade e com a qual nos deparamos todos os dias.

Esse equilíbrio entre tecnologia e humanidade parece distante. Redes Sociais, Steve Jobs, Bill Gates, o imediato do planeta em uma tecla, deveriam sinalizar aos sentidos uma nova "era de ouro", mas isso não ocorre. 

Ocorre uma luta desenfreada pelo capital, pelo lucro, pelo ganho fácil, e em contrapartida vemos uma sociedade que caminha buscando um futuro e perdendo suas verdades ao longo do caminho, pois é literalmente levada pelo que nos é imposto como indivíduos. Uns sendo educados dentro de padrões e ensinamentos arcaicos, outros extremamente avançados ao seu tempo. 

Alemanha - Heinrich Schliemann (1822-1890) - O descobridor e escavador de Tróia, teve sua curiosidade despertada por uma gravura de um livro de história universal dado por seu pai, quando ainda não tinha oito anos de idade, de Enéias carregando o pai Anquises para fora da cidade incendiada de Ílion. O pai do menino Heinrich tentava explicar que as maciças muralhas representadas na gravura eram "imaginárias". O menino manifestou sua crença de que Ílion deveria ter tido muralhas verdadeiras, e anunciou logo sua intenção de desenterrá-las. 

Dos quinze aos quarenta e dois anos de idade, Heinrich fez fortuna, ao mesmo tempo que se instruía. Depois, dos quarenta e sete aos sessenta e nove anos, na atual Turquia, na entrada do estreito de Dardanelos - colina Hissarlik - desenterrou as sete ou oito camadas de Tróia, cada uma construída sobre as ruínas de outra; e em seguida as povoações micenianas de Ítaca e Micenas, Orcômeno e Tirene - "permaneci firme em minha opinião", falaria ele mais tarde. 

É nesse ponto de mutação, em que houve essa ruptura com o antigo, é que deveria estar a universidade, equalizando as questões do homem contemporâneo e criando perspectivas críveis. As universidades, se mantém através da história, firmes como Instituições, enquanto os governos e modelos políticos, apenas demonstram temporalidade e impermanência. 

O conhecimento e sua aplicação é anterior ao Estado - antes de agir socialmente o homem usou conhecimento para sobreviver como ser especificamente único; a natureza desse homem, o faz sentir e querer, por senso de sobrevivência. Ele sente necessidade das transformações. Ele busca se adaptar ao tempo, espaço e historicidade. Este homem é movido pelas condições num dado momento, mas se projeta e diante de seus ideais busca maior ou menor conhecimento. O que irá diferenciá-lo de todos os outros ao longo de sua vida, além das características próprias, é a sua busca contínua em adquirir conhecimentos e utiliza-los nas suas reais necessidades. 

Vivemos hoje num cenário global que traz novos desafios às sociedades e aos Estados Nacionais (...). É imperativo fazer uma reflexão a um tempo realista e criativa sobre os riscos e as oportunidades do processo de globalização, pois somente assim será possível transformar o Estado de tal maneira que ele se adapte às novas demandas do mundo contemporâneo. 

Espera-se da universidades atuais um caráter menos acadêmico, o que afasta as pessoas. Ela transmite a ideia de que está compondo as forças dominantes - emana burocracia e dependência, sentido correcional, elitismos retóricos, seguindo muitas vezes orientações religiosas de modelos claramente ultrapassados. 

O seu sentido de excelência, a simbologia representada no ideal de livre liberdade de pensar e criar, separou-se ou em muitos casos perdeu-se. Os conflitos em sua organização e mesmo em sua aceitação na sociedade contemporânea, evidenciam uma decadência lenta, decorrente das concepções distintas dominantes na academia, onde "a constroem como formadora de recursos humanos – instrumentalizada", e outros “a constroem como instância investigativa e produtora de conhecimento". 

Essa dicotomia emite descrédito. Diferenciam-se métodos que poderiam juntos aludir a uma nova universidade, com mais transparência, ligadas às necessidades imediatas da economia, sem perder conteúdo filosófico de essências. 

Referências 

Gordon, Noah: "O Físico", Tradução: Aulyde Soares Rodrigues, Editora Rocco, 2002;

Toynbee, Arnold: "Um estudo da História", Editora Martins Fontes, 1986, p. 512 e 

Cardoso, F. H. Reforma do Estado. In: BRESSERPEREIRA, L.C.B.; SPINK, P. Reforma do Estado e administração pública gerencial. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 15. 

POR VÂNIA PÁSCHOA PRADO













- Profa. Esp. Vânia Páschoa Prado;
- Doutoranda em Ciências da Educação; 
 -Esp. MBA em Recursos Humanos; e
 -Consultora Educacional.

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Caríssima, parabéns!
    Minha síntese:
    Para se formar médico da idade média até 50 anos atrás, eram necessários esforços idividuais monumentais, quero dizer; nos dias atuais, no Brasil por exemplo, cotas, bolsas, financiamento e as facilidades no ensino básico com toda sorte de gratuidades e facilidades, tirou a meritocracia da equação educação em todos os níveis.

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