segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A Natureza do Poder Econômico


O presente tema foi escolhido em função do estado de desinformação programada reinante na imprensa nacional, acerca da real fonte de decisões que vêm afetar, diretamente, a todos os atores da cena econômica brasileira. Para citar um exemplo dos últimos dias, tanto os jornalistas da área econômica quanto o próprio ministro da fazenda (o uso do minúsculo é proporcional a sua competência sob a óptica do interesse nacional), veicularam, em equívoco intencional, ser a “conta da previdência” a “maior despesa da união”, quando, na verdade, o que mais pesa no orçamento da união é, inequivocamente, a despesa com os juros pornográficos que incidem sobre a dívida pública.

Este posicionamento viezado e com vício de origem revela, de forma consistente, a fonte do poder que rege a economia nos tempos contemporâneos. Na verdade, as decisões de política econômica são tomadas com vistas a garantir a renda do capital financeiro estéril em detrimento a quaisquer outros interesses por mais necessários e meritórios que se possam apresentar. 

A natureza do capital financeiro tem como base a ausência de ideologia, compromissos sociais e econômicos e demais interesses estratégicos do país, cingindo-se, unicamente, a atender os propósitos dos rentistas. Tudo o mais é subalterno. O capital financeiro alia-se a qualquer governo, de qualquer matiz política ou ideológica, desde que os dirigentes do momento comprometam-se com seus ditames.

Os policimakers da política econômica desenvolveram ferramentas, com base na econometria, que monitoram a evolução das contas nacionais e, no tempo em que acharem necessário, obrigam os agentes políticos a tomarem as decisões que lhes garantam os rendimentos e seus interesses futuros, sob pena de retirarem a liquidez da economia jogando-a em estagnação ou, até mesmo, no caos. Estas decisões não levam em consideração nenhum aspecto que não seja os seus próprios interesses sem mensurar, em nenhum momento, as consequências que possam vir a causar aos demais atores econômicos e sociais de uma nação.

Para os detentores do capital financeiro estéril, não importa a conjuntura política, ética ou moral do país. Traduzindo em linguagem de bar, o lema é: desde que recebamos o que é combinado, o resto não nos interessa. O acordo é feito com qualquer tipo de elite (ou seria “zelite”) política, sem nunca atentar para as consequências que possam ter aos interesses de um país.

Contemporaneamente, o capital financeiro auferiu rendas extraordinárias em conluio com governos corruptos, incompetentes e intelectualmente desonestos, que usaram princípios e jargões ditos de esquerda, para saquear o país, com a “receita básica” de aquinhoar os poderosos e manter esmolas para os desvalidos. No momento, em que pese o poder encontre-se em mãos de antigos aliados, usam princípios ditos “de direita” para perpetuar uma brutal transferência de recursos da sociedade para os rentistas e corporações que se apropriaram da máquina estatal única e exclusivamente para manter a aumentar privilégios eticamente indefensáveis. O sacrifício é exigido de toda a sociedade e as benesses são distribuídas, depois de satisfazer o capital financeiro, às corporações que não têm nenhuma consonância com os objetivos do país, cujos cidadãos são intimados a suportar os malefícios. Vale dizer, “pagar a conta”!

Nos últimos tempos, o ministro da fazenda tem como “esporte predileto”, ameaçar os cidadãos, reiteradamente, com aumento de impostos. Não finda nenhuma semana sem que os meios de comunicação divulguem a ameaça feita por aquele ministro, cujas fotos e imagens sempre com o dedo em riste, como se a culpa pelo descalabro financeiro da União fosse de responsabilidade da população em geral. Trata-se, sem qualquer sobra de dúvida, de uma avaliação errônea, descabida e inconsistente, com o objetivo de mascarar a falta de competência do mesmo diante da perversa e criminosa herança recebida do governo anterior (saliente-se que seu aliado e a quem serviu por dois períodos), com a qual não sabe (ou não quer) equacionar.

Enquanto isso, a dívida bruta consolidada aumenta a cada dia, asfixiando o orçamento do país e promovendo uma transferência sistemática de renda para o setor financeiro estéril. Aliás, sobre a formação deste brutal passivo, ater-me-ei em artigo futuro unicamente sobre o tema que, de resto, precisa ter sua caixa preta aberta, dada a falta de transparência no que diz respeito a colocação dos títulos do tesouro nacional usados para financiar o descalabro administrativo que reflete diretamente na situação financeira do Brasil e impacta a economia como um todo com os reflexos deletérios de todos conhecidos.

Para tanto, foram cooptados ao sistema integrantes dos três poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário que parecem viver em outra galáxia, tais os privilégios que auferem em relação à população em geral. Basta fazer um “passeio” nos sites dos mesmos e verificar os absurdos que ocorrem nas remunerações e respectivos “penduricalhos” a eles pagos. Não pelo Estado, mas por todos nós já que não existem recursos públicos e sim os nossos recursos sendo malversados.

Todos estes disparates, para dizer o menos, são acompanhados, atenta e permanentemente, pelos operadores do sistema financeiro estéril. As ferramentas econométricas a que aludi anteriormente servem para monitorar e avaliar o risco de colapso do sistema. Quando o “perigo” (leia-se o risco de não receber o acordado) aponta nas planilhas (por exemplo: os tempos do sinistro governo Dilma) o capital financeiro retira o seu “apoio” e trata de refazê-lo com outro grupo que satisfaça seus interesses (no caso o governo atual). 

Dado que a situação era de total falência, o capital financeiro tratou de “colocar” um agente seu na Fazenda para “reorganizar a casa” segundo a sua lógica e garantir os seus interesses. Em face disso, o cenário para a plena recuperação econômica do país está muito longe de ser vislumbrado. Estamos numa armadilha perversa onde uma elite política corrupta aliou-se ao real detentor do poder (capital financeiro) para esbulhar o país e capturar a maior parte do orçamento em detrimento a quaisquer outras necessidades por mais prementes que possam ser. 

POR FLÁVIO JOSÉ CARPES SANTOS













- Economista e Professor Universitário;
- Graduação em Economia, Mestrado em Desenvolvimento Econômico e Doutorado em Economia Social;
- Economista da Carpes dos Santos Assessores Econômicos E Gestão de Crise.

Nota do Editor:


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Um comentário:

  1. Tenho em mente que existem dois brasil nesse Brasil de meu Deus. Um que trabalhe e produza para sustentar o outro formado por um sistema financeiro improdutivo, por partidos, políticos, sindicatos e mais uma gama de setores aliados ocultos deste sistema.

    Nossa dívida pública caminha a passos largos para os quatro trilhões. Como disseste, o lucro do sistema está mesmo sempre intacto aconteça o que acontecer. Mas eu já digo que é no CAOS que o sistema ganha mais dinheiro.

    Veja que o Plano Real foi sabotado intencionalmente; que a CPMF (um mecanismo que sem querer seria a MAIOR e MELHOR ARMA de combate a CORRUPÇÃO), foi extinta com extrema felicidade por aqueles que sabiam que com ela só lhes sobrariam as CUECAS.

    De forma proposital, manipulam informações e mensagens subliminares minam o entendimento da nação. Poucas pessoas enxergam que nossa dívida interna é um caixa dois de nossa economia. Caixa para qual é enviado todos os disparates econômicos de todas as tais equipes econômicas que por aqui passaram.

    Portanto professor, ou mudamos para o brasil ao lado, abramos partidos políticos, instituições religiosas, ou adentremos no serviço público; Sejamos candidatos eleitos e reeleitos e levemos nossas famílias para o arco d'ouro ou seremos sempre tragados pela miséria financeira e moral...

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