segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Decifrando a Complexa Encruzilhada Econômica Argentina


 Autor: Fernando Crevelário (*)

Saudações, prezados leitores! Hoje, mergulharemos nas intricadas águas da economia argentina, onde um enredo dramático se desenrola em virtude do complicado cenário econômico do país e a recente eleição do liberal Javier Milei.

Para compreender a atual situação econômica dos hermanos, é essencial ressaltar que esse cenário turbulento resulta de uma confusa trajetória histórica permeada por uma série de eventos e políticas que moldaram seu cenário financeiro. Os governos peronistas, notoriamente caracterizados por políticas populistas, ampliaram os gastos públicos, desencadeando um aumento inflacionário e uma perda de competitividade. Juan Domingo Perón, que assumiu a presidência em 1946 e teve dois mandatos interrompidos por uma ditadura militar, também implementou benefícios voltados para os trabalhadores.

Na tentativa de estabilizar a economia, a Argentina buscou a dolarização na década de 1990, estabelecendo uma taxa de câmbio fixa de 1 peso argentino para 1 dólar norte-americano. Essa medida influenciou a cultura econômica do país, que passou a ter uma tradição de utilizar o dólar em transações cotidianas. Contudo, essa paridade resultou em uma crise no início dos anos 2000.

Ao longo dos anos, a Argentina experimentou diferentes tipos de câmbio, com múltiplas cotações, devido à falta de confiança na economia. A prática comum de "guardar dólares no colchão" e enviar dinheiro para o exterior, muitas vezes para o Uruguai, conhecido como a "Suíça sul-americana", contribui para a informalidade e afeta negativamente as contas do governo.

A questão da dívida externa também desempenha um papel crucial na atual crise argentina. O país enfrenta um alto nível de endividamento, incapaz de sustentar o déficit externo, onde mais dólares saem do país do que entram, resultando no aumento constante da dívida. A Argentina está atualmente em sua oitava moratória e pode estar à beira de uma nona. Desde a primeira suspensão de pagamento em 1890, passando pela maior moratória em 2001 com uma dívida de US$ 95 bilhões, até os defaults subsequentes, esses eventos contribuem para a deterioração da confiança de investidores e credores externos, limitando ainda mais a entrada de dólares no país. Enfrentando uma dívida externa significativa e reservas limitadas, a Argentina enfrenta desafios econômicos substanciais.

O plano proposto por Javier Milei para a revitalização da economia argentina é caracterizado por uma abordagem radical, visando a transformação significativa do atual cenário financeiro do país. Uma das medidas centrais propostas consiste na abolição do Banco Central argentino, sendo substituído por uma completa dolarização da economia. O partido La Libertad Avanza, que representa essas ideias, destaca como princípios fundamentais do plano governamental a implementação de uma reforma econômica abrangente, a redução substancial das despesas estatais, a flexibilização dos setores de trabalho, comércio e finanças, além da privatização de empresas públicas.

O ultraliberal eleito Javier Milei assegura que empreenderá uma significativa redução nos gastos públicos, incluindo a diminuição do número de ministérios e uma progressiva redução de benefícios sociais. Atualmente, a Argentina mantém subsídios em diversas áreas, tais como transporte, tarifas públicas e programas de distribuição de renda. A proposta de Milei busca uma reestruturação profunda, implicando em mudanças substanciais nas políticas governamentais, visando alcançar uma abordagem mais liberal e flexível para impulsionar a economia nacional.

Em conclusão, a incerteza paira sobre a capacidade do governo de Milei em revitalizar a economia argentina. Embora ao longo da história os governos de orientação liberal tenham demonstrado habilidade para impulsionar as contas públicas, é crucial destacar que esse modelo de gestão também carrega consigo um notável potencial destrutivo, como evidenciado pelo histórico de aumento das desigualdades sociais.

*FERNANDO CREVELÁRIO
















Economista graduado pela USP (2019);
Graduado em Contabilidade pela Trevisan (2023)

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. É uma pena essa que a Argentina passe por essa situação isso, atrapalha o crescimento dos países vizinho, principalmente o Brasil.

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