sábado, 26 de abril de 2025

A Educação e a pós contemporaneidade (se é que existe!)

 


Autor:Antonio Carlos Jesus Zanni de Arruda(*)

Pensar sobre a Educação e seu papel tem sido algo desafiante pelos séculos, principalmente no que se refere a buscar de fato o que seja relevante para o homem conhecer, se ver e se construir como sujeito e ainda como dar sentido à sua vida e às coisas dando um sentido ao mundo!

Se tivermos como parceira nessa reflexão, a História e a Filosofia da Educação, poderemos observar que essa preocupação, principalmente na cultura ocidental, constitui-se na civilização grega um marco, no sentido de se estabelecer "verdades", conhecendo de maneira aprofundada o que é realidade e quem é o homem.

Além disso, o que é necessário conhecer para se tornar alguém ao mesmo tempo culto, sábio e carregador de virtudes, não somente em relação ao conhecimento, bem como suas ações quer do ponto de vista individual, como na vida da cidade (pólis). De uma maneira geral, a condução do espírito investigativo para os gregos se torna quase um modelo educacional, fazendo com que saiamos de “nossa casca” e busquemos verdades que se consolidam e dão direcionamento à nossa existência. Do contrário, a negação de tal metodologia nos relega ao mundo das aparências, causando dor e sofrimento.

Na Educação medieval, vemos que não basta somente conhecer o que seja o homem e a realidade. É necessário buscar nossas origens, de onde viemos e para onde vamos após essa vida e é isso que garante o sentido de nossa existência. Essa Educação do espírito deve estar voltada "às coisas do alto", garantindo a perfeição e o sentido da vida. Para tanto, o que deve ser estudado e compreendido, são fundamentos que extrapolam a condição de vida humana, não que estes fundamentos não sejam necessários, mas que devem servir de subsídio a um tipo de conhecimento que fortaleça e que dirija o existir para o caminho da retidão da vida e um consequente “prêmio” após essa existência.

Na Educação e Filosofia Moderna, não basta tão somente querer conhecer e dar sentido à vida e às coisas. Em outras palavras, não basta ter boa intenção, é fundamental se estabelecer um caminho que conduza de maneira acertada nosso entendimento e compreensão sobre as coisas. E esse caminho deve ser garantido por um método que permita de fato atingir a perfeição de todo o saber. Esse método deve ter regras claras, para que o espírito sendo bem conduzido, permita de fato se atingir a verdade, com clareza e distinção, não deixando margem à dúvidas, ou conhecimentos fragmentados e parciais. Podemos com certeza a partir dessa condução, fazer uma Educação sistemática que eleve a razão e a condição humana ao seu mais alto grau de perfeição, mesmo embora que tempos depois cheguemos à constatação que apesar das investigações profundas que podemos fazer, que a razão humana não é capaz de tudo, pois o meio também é dinâmico.

Na Contemporaneidade temos incorporado à racionalidade um modelo social que leva em conta o fortalecimento das instituições sociais como possibilitadoras do desenvolvimento da sociedade e do homem, bem como o avanço tecnológico e científico. Nesse sentido, áreas como a Psicologia, Sociologia e Biologia logram grande avanço.

Não há mais que se falar em Educação na Contemporaneidade, sem levar em conta todas essas dimensões, pois é na complexidade e no estudo desta que se deva buscar respostas e reflexões em todas as dimensões da existência. Portanto, uma verdadeira educação deve ser pautada pela multiplicidade de questões e tudo aquilo que permeia a existência. Do contrário, tudo será mera opinião e discursos, não havendo cientificidade! Logicamente tudo isso crivado pela sociedade, que aprova ou não o que está sendo feito ou desfeito.

O termo pós contemporaneidade, é algo muito controverso ainda nos dias atuais.

Para alguns historiadores e cientistas sociais, ainda vivemos na contemporaneidade com algumas adaptações novas, desde o modo como vivemos e o uso em larga escala da tecnologia e aí em particular, a Educação deve levar em conta essas novas adaptações para dar conta do que está acontecendo.

Para outros sim, vivemos uma nova etapa de vida, onde a contemporaneidade se esgotou ,tendo como marco inicial a fato histórico da queda do Muro de Berlim, propagando a ideia de que não existem mais fronteiras e que o mundo se tornou uma aldeia global, não havendo mais fronteiras sociais e ou ideológicas.

Uma coisa é fato, tendo ou não o termo pós contemporaneidade uma unanimidade: que o mundo se modificou em muita coisa, nas formas de comunicação e interação, com o avanço da tecnologia, quer seja usada na medicina, ou na propalada inteligência artificial, nos modos como nos relacionamos com o meio ambiente, na forma como lidamos com a informação, com o conhecimento, como lidamos com valores até então universais, como o sentimento, a empatia, o envolvimento, como nos organizamos socialmente, não mais somente em entidades, instituições sociais, partidos políticos, mas também em ONG’S, fóruns, dentre outros e outras facetas.

Como fica então o papel da Educação frente a esses novos desafios?

Deveras é uma tarefa super complexa e desafiadora compreender e dar conta disso.

Me parece que assim como as outras áreas, a Educação vive uma fase de ter que "trocar o pneu do carro com ele andando"!

Será que aquelas bases iluministas de Educação que tinha como referência valores como o esclarecimento e tornar-nos humanos pela Educação ruíram?

Valores até então tido como universais parecem que não se sustentam mais, tudo se tornou mera figura de retórica e linguagem, não tendo obrigação nenhuma de se sustentar enquanto verdade. Aliás, o conceito de verdade se esvaiu, pois tudo é muito circunstancial e momentâneo.

Que modelo pedagógico então adotar? O que ensinar para que faça sentido algo para as pessoas?

Pode parecer paradoxal. Mas enquanto ainda "brigamos" para que todos tenham uma verdadeira Educação de qualidade, a realidade dura nos impõe que muitas vezes o que vamos ensinar já não dá mais conta de nada!!!!

Apesar dessa dureza de quadro vejo algo fértil.

Todo período de crise é uma fase de rever o que pensamos ser fundamental e necessário não somente em valores, como para a Educação!

Além disso é um período que devemos buscar o diálogo com os diferentes, com o novo, com aquilo que nos impulsiona e ao mesmo tempo nos desafia.

A Educação nunca teve por base o conformismo e a não abertura para o novo.

Talvez como Educadores, deveremos ter como base o repensar de nosso modo de ver a escola, os alunos, as políticas públicas e as nossas metodologias.

Tempos desafiadores, mas intrigantes, desafiadores, provocativos e com possibilidades de inovação.

Pensemos!!!!

BIBLIOGRAFIA

DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural/Nova Cultural. Coleção Os Pensadores, 1987;

JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego: São Paulo: Martins Fontes. S/D;

KANT, I. Crítica da Razão Pura – Estética Transcendental . Coleção Os Pensadores. Editora Nova Cultural. São Paulo, 1987:

PIAGET, J. Para onde vai a Educação? Unesco. 1976.

*ANTONIO CARLOS JESUS ZANNI DE ARRUDA













-Graduação em Pedagogia pela Universidade do Sagrado Coração (2017);

- Graduação em Filosofia pela Universidade do Sagrado Coração (1996);

- Mestrado em Educação para a Ciência pela UNESP (2004);

-Doutorado em Educação para a Ciência pela UNESP (2009); e

- Pós doutorado em Educação pela UNESP (2020)


-Trabalha no Ensino Superior nas mais variadas disciplinas, como filosofia, ética e responsabilidade social, antropologia, metodologia científica e filosofia da educação) ;

-Possui experiência na EAD (Educação a Distância) como tutor e elaborador de conteúdos, de projeto pedagógico e gestão de processos;

-Possui conhecimento em metodologias ativas;

- É parecerista ad hoc de avaliação de artigos científicos na Revista Educação e Filosofia na UFU (Universidade Federal de Uberlândia);

- Participa do grupo de estudos em Desenvolvimento Moral na UNESP de Bauru - SP;

-Possui competências em Gestão Educacional, incluindo em especial a liderança e gerenciamento de professores, coordenadores universitários e processos acadêmicos;

 -Possui contato e experiência com o SINAES, ENADE, FIES, PROUNI, Censo de Ensino Superior, CPC’s de Curso Superior, Projetos Pedagógicos de Curso, Projetos de Desenvolvimentos Institucional, Avaliações de Cursos, projeto de elaboração e solicitação de abertura de cursos na modalidade EAD junto ao MEC e ainda recepcionar avaliadores do próprio MEC. É Colaborador de Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Moralidade na UNESP de Bauru - SP. e

-É avaliador de cursos superiores pelo Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo.

Contatos:

e-mail: arrudafilosofia@hotmail.com

linkedin: Carlos Arruda

Tel: (14) 991152195

 Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0764418599887611


Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário