sábado, 9 de julho de 2016

A educação que balança o berço da tolerância é a educação que governará o mundo





“A mão que embala o berço é a mão que governa o mundo.”

Penso que, ao proferir essa frase, Abraham Lincoln refletia acerca da educação no seio familiar, responsabilidade direta dos pais na condução de seus filhos no caminho da ética e do bem. A mão que balança o berço governa o mundo, pois nesse embalo está embutida a formação do cidadão que constituirá a sociedade futura impregnando o espaço no qual se dá o seu convívio social com a bagagem moral e cultural que vivenciou durante a infância.

Creio que valores são aprendidos desde a mais tenra idade por meio de ensinamentos e, acima de tudo, de exemplos concretos do dia a dia familiar. Não quero com isso dizer que o ser humano constrói seu caráter apenas na infância e que isso será definitivo e imutável, apenas ressalto que esse período será aquele que alicerçará a vida futura dele. É certo que durante toda a vida o sujeito assimilará informações do meio em que vive e estará em processo de construção e transformação constantes. A escola entra na vida da criança ampliando esse ambiente de aprendizagem de valores e promovendo a convivência e a socialização entre seres de diferentes culturas, valores e ideais.

Ao longo do tempo, a humanidade evoluiu... desenvolveu novos conceitos... novas tecnologias... o mundo globalizou-se. No entanto, a educação no ambiente familiar e escolar permaneceu intocável no que se refere à construção dos alicerces do caráter de um cidadão ético e consciente de seu papel na sociedade. É imprescindível que a base desses alicerces seja a tolerância.

A despeito de tudo isso, estarrecida, confronto-me com uma realidade intolerante nos mais diversos níveis. Dificilmente observamos compaixão e tolerância no nosso dia a dia. Destaco uma forte presença de intolerância entre alguns jovens que me parecem extremistas quando consideram suas opiniões como as únicas válidas, verdades imutáveis e absolutas. Muitos impõem suas opiniões de uma forma agressiva e autoritária denegrindo aqueles cujas opiniões divergem.

Em tempos de extremismos e divergências em um país democrático é importante refletir sobre convivência e respeito à opinião alheia. Cada um tem seu ponto de vista e precisa ser respeitado por isso. Exposição de opiniões é muito diferente de imposição. Não há como defender a democracia de forma ditatorial. A democracia é caracterizada pela liberdade de cada um expor aquilo que pensa sem medo de ser agredido, ofendido ou taxado. Às vezes, um comentário muito sutil é levado ao extremo com duras críticas e rótulos por pessoas que têm suas verdades absolutas. 

Questionamentos mil povoam minha mente. O que a escola fez com essas pessoas? O que ela deixou de fazer? Em que momento a escola se omitiu nessa primeira função que é socializar diferentes culturas, valores e ideais e fazer com que o respeito à opinião do outro seja essencial? A escola promoveu momentos em que os alunos pudessem refletir o cerne de opiniões divergentes?

A democracia é inerente ao ambiente escolar, pois esse abriga famílias de diferentes culturas e valores com diversas necessidades físicas e psicológicas. Quando a criança ingressa na escola vai confrontar-se com outros alunos, outros pontos de vista, outros valores. A escola tem esse tesouro nas mãos. Ela é um ambiente extremamente propício para o desenvolvimento dessa importante questão que é a convivência pacífica com a diferença seja ela física, cultural ou ideológica. A escola tem que promover essa convivência e fazer com que os alunos compreendam a importância dela.

Essa situação de conflito dentro da instituição de ensino precisa ser resolvida conduzindo o aluno à compreensão da importância do respeito. Parafraseando Jesus: não adianta dar o peixe, é necessário ensinar a pescar. Nesses conflitos, não adianta impor uma pacificação, pois ela será ineficiente sem a orientação para uma reflexão mais profunda sobre o desacordo. A instrumentalização que promovemos para que o aluno possa compreender a importância de respeitar a opinião do outro propondo caminhos e recursos que podem ser utilizados por ele para defender seu ponto de vista de maneira pacífica, respeitosa e assertiva torna-se imprescindível para ensinar a pescar. No entanto, essa reflexão é relegada. Infelizmente, essa primeira função da escola que é a socialização é banalizada por muitos porque, na maioria das situações, a ênfase é dada ao conteúdo. Nessas escolas, é muito comum focar nas questões cognitivas e preterir algo tão importante quanto o desenvolvimento da inteligência emocional. Com isso, a escola perde excelente oportunidade de promover momentos de debate e reflexão que fortaleceriam a inteligência emocional dos alunos.

Com muita tristeza e certo sentimento de derrota, vivo esse momento de tanta intolerância, de tanta agressividade e de tanta ambiguidade naquilo que se discursa e naquilo que se pratica. Em muitos casos, pessoas que carregam a bandeira da democracia estão querendo impor suas opiniões a qualquer custo. Essa postura é contraditória ao discurso de democracia. 

Tal como a mãe balança o berço de seu filho com a certeza de que o estará preparando para os desafios do mundo deveria ser a escola cuidando e zelando de seus preciosos alunos. 

Por CHRISTIANE PEREIRA 



















-Formação:
 -Magistério com especialização em Educação Infantil pelo Colégio 09 de julho (1986)e
 -Pedagogia, Administração Escolar e Licenciatura Plena pela UNISANTANA(1989)
-Professora de:

  -Educação Infantil, de Ensino Fundamental I, 
  -Matemática e de Ciências para 4º ano e 5º ano do Ensino Fundamental e
 -Música, de Educação Corporal e de Arte e
-Orientadora Educacional

6 comentários:

  1. Concordo muito,a educação na família e na escola distanciou-se muito dos valores democráticos.No entanto,os que como você detém essa consciência,não falharam,somos poucos mas nossa luta não poderá enfraquecer nunca.A sociedade como um todo,um dia vai perceber que o crime não compensa.

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  2. Não gosto muito de comparar escolas com mães,pois corremos o risco de fortalecer ainda mais algumas ideias distorcidas do papel da escola, mas entendo o que a cristhiane quis dizer, precisamos de uma educação humanizadora, que pense na formação emocional pareada com a intelectual.

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  3. Parabéns, muito bom saber que ainda existe educadores como você, isso faz acreditarmos no nosso Brasil.

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  4. Nem a família e nem a escola estão conseguindo trabalhar valores importantes a uma sociedade, porque ambas as instituições são formadas por indivíduos que também não tiveram esses valores trabalhados em sua formação.
    Essa postura de intolerância, de agressividade, antidemocrática, inflexível dos jovens é um reflexo da sociedade onde vivem. Fruto de uma cultura do egocentrismo, do hedonismo e do caminho mais fácil, custe o que custar.
    Eles aprenderam com a geração anterior que, por sua vez, aprendeu com a anterior também.
    O dinheiro determina as regras na família e na escola. E, assim, os meios estão justificando os fins.
    Preocupo-me como você, Christiane, mais ainda por perceber que qualquer mudança está a longo prazo.
    Minha neta merece um cenário mais humanizado para viver.

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  5. Excelente artigo. Concordo com o que afirma a despeito dos intolerantes presentes em nosso dia a dia, por isso talvez o desanimo, porque sabemos que precisamos de uma mudanca primeiro do adulto para atingirmos as criancas e tal mudanca pode demorar.
    Mas vamos acreditar em escolas que enxergam seus alunos como seres completos que discutem, ouvem e, mais tarde, possam mudar o meio em que vivem. So assim teremos uma sociedade diferente.


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