sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A natural liberdade de ser trapaceiro… ou não

Autor: Luigi Morais(*)




A liberdade que um cidadão tem, usando toda a sua bagagem existencial com uma gama de experiências de vida, informações, emoções e conhecimento científico, de optar por acreditar numa visão política de direita ou de esquerda é simplesmente o exercício da civilidade de um povo que vive em uma sociedade democrática. 

Há pessoas que optam por caminhos já trilhados, criticam, erram, mudam, enganam-se novamente e vão se aperfeiçoando, sem compromisso com o erro. Tudo isto é maravilhosa e incrivelmente humano. É a liberdade para se modificar. O que muda em cada um?

ainda os fundamentalistas. Agem impulsivamente, como é mais fácil, obedecendo aos mandamentos de outra pessoa ou grupo, talvez encontrando ali uma resposta aos seus anseios emocionais.

Cada pessoa carrega "sua" maneira de existir. Se dentro dos padrões de respeito ao indivíduo, é preciso tolerar.

Segundo o escritor argentino Carlos Bernardo González Pecotche, "tudo que o homem não conhece não existe para ele. Por isso o mundo tem, para cada um, o tamanho que abrange o seu conhecimento". Cada indivíduo poderá, ao meu ver, buscar ativamente aprender e evoluir, como acontece com muitos brasileiros que superaram dificuldades e conquistaram novos mundos, de maneira humana e correta. Podemos sim modificar este mundo-bolha de trapaça que enfraquece nosso povo.

O professor de Psicologia e Economia Comportamental da Duke University, Dan Ariely, estudou e pesquisou sobre a natureza da desonestidade. Em seu intrigante livro "A Mais Pura Verdade Sobre a Desonestidade"aponta, dentre inúmeras constatações e hipóteses interessantes, a presença da trapaça nas sociedades humanas independentemente da classe social, do nível de escolaridade e do valor do objeto da trapaça. Daí pergunto: se nós, seres humanos, todos, somos passíveis de um comportamento desonesto, e, por várias vezes, trapaceamos e nos convencemos que é uma conduta aceitável, como uma sociedade pode alcançar um nível aceitável de justiça? 

Verifico que, apesar deste aspecto da natureza humana, há sociedades em que pessoas são mais éticas e tementes às consequências dos seus erros ou crimes do que em outras. Arrisco suspeitar que existam diferenças até entre estados e regiões do Brasil. O que está diferente? Os humanos existimos há mais de cem mil anos e ainda não conseguimos controlar o ato vergonhoso de roubar o trabalho de outro humano? Nem sequer, em geral, paramos para questionar por que insistimos na nossa necessidade de reafirmar o erro.

Costuma-se afirmar que a fraude começa em casa. A grande questão é: por que a fraude se perpetua no Brasil?

Até o Big Bang da Lava Jato, o Brasil era um País de políticos e empresas completamente honestos ou ninguém conseguira descobrir e provar nada? Que INSTITUIÇÕES mantiveram aquela Nação como era? Ao menos sentiram-se envergonhadas quando as máscaras caíram?

Por que estamos tão distantes de países desenvolvidos em termos de segurança e justiça? E como esta condição é acompanhada por tamanha inferioridade econômica? Qual é, por exemplo, a diferença entre as Instituições de justiça do Ceará e as do Paraná? Será que haveria, em algum momento no futuro, uma operação tão disruptiva e original(para os padrões brasileiros) como a Lava Jato, por aqui? E não deveria ser a regra? Por que a pobreza no nordeste é mais extrema do que no Sul? Vão continuar culpando a seca? 

A mim me parece que somos como somos porque há mais cúmplices desta realidade do que poderíamos imaginar. E não é a falta de chuva. Se constatamos que continuamos miseráveis, trapaceiros e impunes, faltam mais  "Moros e Dallagnois" nesta Nação. Profissionais verdadeiramente capazes de combater a desumanidade da impunidade.

Por quantos mil anos mais necessitaremos ser corrigidos por instituições para vivermos em sociedade? Quando haverá uma Instituição no Brasil que combata efetivamente o crime e acabe com a impunidade? E no meu desigual Ceará? O que nos falta?

Embora haja uma distinção lógica entre a liberdade de escolha dos inúmeros lados político-ideológicos e a liberdade de escolha de ser trapaceiro ou não, há cidadãos que vinculam estas condições e polarizam seus pontos de vista. Enquanto tanta gente esclarecida estiver confundido isto, sagazes trapaceiros estarão desviando nossos recursos. Permaneceremos enganados! O inimigo é a corrupção. Ponto! 

Direita ou esquerda não implicam honestidade ou desonestidade. Ser governado por um presidente democrata ou republicano num País onde a lei é igual para todos, até para os presidentes, é completamente diferente de ser governado por um presidente que, como já vimos no passado, simulasse ser "direita" ou "esquerda", quando a impunidade imperava e algumas instituições, por covardia ou, quem sabe, parceria, favorecessem esta máscara. 

Enquanto muitos cidadãos exercem sua emocional liberdade de atrelar ideologias a corrupção, alguns outros exercem, impunes, suas frias "liberdades"de trapacear e corromper. 

Partidos políticos, ao invés de protegê-los, deveriam ser os primeiros a corrigir seus políticos desonestos. Se tem um termo no Brasil que me deixa perplexo é: "Comissão de Ética." Como atuam? Para que servem algumas? Desconfie de partidos políticos permissivos com o grave erro. 

Nações impunes forçam instituições fracas a tornarem-se cúmplices de criminosos de “direita” ou de “esquerda”. Fortes e respeitáveis instituições, num país civilizado, forçam qualquer cidadão livre que escolheu ser democrata ou republicano a manter-se ético e obediente à lei. Funciona para DEMOCRACIAS! 

Queremos de volta a nossa dignidade que tem sido tomada por políticos patifes com suas palavras estapafúrdias. Queremos dar aos nossos filhos a honra que nos é desviada, a cada dia, no submundo do poder. Queremos viver a segurança jurídica plena. Queremos a liberdade da propriedade privada através no nosso trabalho. Queremos a simples liberdade de sermos corretos. 

Em qual daquelas sociedades democráticas queremos que nossos filhos cresçam Que mundo civilizado queremos conhecer e construir? Hora de criar e viver novos mundos. 

*JACINTO LUIGI DE MORAIS NOGUEIRA


-Médico formado em 2003 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; 
 Anestesiologista especializado no SANE-RS / Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / IC-FUC.; e
- Profissional liberal.





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Um comentário:

  1. Muito bom seu desabafo cívico. Estou envelhecendo e esperando melhorias cívicas nesse eterno país do futuro (que nunca chega). Acorda povo.

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