Francisquinho

 Autor:  Benedito de Godoy Moroni(*)

Esta é uma história real. Alteramos as identidades a fim de evitar eventuais constrangimentos.

Francisquinho, desde criança, sempre se metia em confusões.

Na escola, por exemplo, se dois colegas começavam a discutir, ele entrava no meio da conversa e no final os dois estavam discutindo era com Francisquinho.

Nos jogos de futebol de rua, se alguma desavença acontecesse e gerasse uma confusão seja com quem fosse, no fim Francisquinho estava no centro da mesma.

O tempo não o fez modificar-se, muito pelo contrário. Ele se aperfeiçoou na arte da confusão.

Quando moço, após vários namoricos, ele passou a namorar com Ângela, uma colega que fizera o ensino médio com ele. O namoro seguiu firme e finalmente ficaram noivos.

Já com o casamento marcado para o final do ano, Francisquinho conhece Estela, bem mais velha que ele. Cupido flecha certeiramente o coração dele. Não pensa duas vezes e desmancha o noivado com Ângela. Ato contínuo, começa o namoro com Estela, seu novo e grande amor. Após um breve namoro, casam-se.

Mas Francisquinho, como era sua "sina", passado certo tempo de casado, em um encontro ocorrido durante a festinha de fim de ano na empresa, conhece Magnólia, esposa de seu colega Carlinho. No resto da reunião parecia que Francisquinho e Magnólia eram conhecidos de longa data. Conversas entre os dois se seguiram descontraídas. Sentiram que eram "almas gêmeas".

Depois do encontro de fim de ano a "amizade" de Francisquinho e Carlinho parecia ser enorme. Consequentemente visitas de Francisquinho ao amigo tornaram-se frequentes, sempre tendo Magnólia como anfitriã perfeita.

Francisquinho e Magnólia tinham muito a conversar, principalmente quando Carlinho precisava sair ou não estava presente. Assim, a afeição um com o outro, foi crescendo, crescendo, até conscientizarem-se: Francisquinho e Magnólia estavam apaixonados um pelo outro.

Como todo amor proibido, parecia imenso e impossível de ser reprimido. Assim, resolvem dar vazão em sua plenitude a esse amor proibido. Mas, como fazê-lo? Como terem todo o tempo que queriam para extravasar esses sentimentos?

Após muito pensarem, arquitetam um plano: Magnólia diz que precisava visitar um parente em uma cidade longe de sua casa e como Carlinho está trabalhando, iria sozinha, mas logo voltaria. Francisquinho, por sua vez, alega a Estela que precisa viajar a serviço, mas que ela não se preocupasse, pois seria por poucos dias.

Posto o plano em execução, os respectivos cônjuges de Francisquinho e Magnólia acreditam e aceitam essa viagem, sem suspeitarem de nada.

Mas, como já foi dito, as coisas com Francisquinho sempre geram confusão.

Um amigo de Carlinho conta a este que a história não era nada do que Magnólia falara, mas sim, uma desculpa para o encontro de Francisquinho com ela a fim de curtirem o romance proibido. Carlinho, de início, fica chocado. Após pesar tudo o revelado pelo amigo, começa a ligar as situações e lembrar-se de como os dois amantes se tratavam. Não pensa duas vezes e vai até Estela e conta-lhe o que está ocorrendo. A princípio ela não acredita, mas pesando a atitude recente de Francisquinho, constata que realmente era perfeitamente possível estar ocorrendo o contado por Carlinho. Então, em comum acordo, resolvem desmascarar os amantes.

No dia marcado para o regresso de Francisquinho e Magnólia, Carlinho e Estela vão ao aeroporto para flagrá-los quando chegassem da "lua de mel".

Todavia, um outro amigo de Francisquinho tomou conhecimento da armadilha preparada. Incontinenti, telefonou a ele e informou-o da armadilha preparada para quando eles chegassem. Sugeriu a Francisquinho que, quando o avião aterrissasse, não saísse no saguão do aeroporto com Magnólia.

E assim foi feito. No dia do retorno, retiram suas bagagens, mas apenas Magnólia sai para o saguão do aeroporto, enquanto Francisquinho permanece no local de retirada das malas.

Magnólia, ao ver Carlinho e Estela aguardando-a, sorri e vai ao encontro dos mesmos, demonstrando uma grande felicidade por estarem ali para recebe-la. Eles, por sua vez, não revelam nada. Magnólia fala, então, que já podiam ir embora, ao que Carlinho responde que tem um amigo que, também chegará em breve e ele havia combinado que o esperaria para dar uma carona. Magnólia ainda tenta que eles vão para casa, pois está cansada, mas Carlinho insiste que precisa esperar o amigo. Relutante, Magnólia não antevê como dissuadi-los e, constrangida, concorda.

Passa uma hora, passam duas horas e nada do "amigo" chegar.

No local de retirada das malas, Francisquinho, por sua vez, está super inquieto e preocupado. Entretanto, como já esperara duas horas após a saída de Magnólia, acredita que estaria tudo livre e poderia sair sem nenhum problema. Apanha sua mala e encaminha-se para o saguão. Ao chegar lá, quase tem um colapso: vê juntos Carlinho, Magnólia e Estela esperando-o.

Quem espera uma tragédia, pode desiludir-se. Francisquinho assume seu caso com Magnólia e Carlinho inicia um caso com Estela, as mulheres mudando-se de casa, ficando com seus novos amores.

Porém a história tem mais lances "pitorescos". Um deles foi, certa feita, quando Juvenal, antigo amigo de Francisquinho e Estela vai casar-se e leva-os como padrinhos de casamento. Só que não sabia da "troca de casais" ocorrida e diz a Francisquinho que ele e Estela seriam seus padrinhos de casamento e isto já fora informado ao cartório.

No dia do casamento, pontualmente, lá estava no Cartório Francisquinho, com Magnólia. Alguns instantes depois, chega Carlinho com Estela. Este entrega Estela para fazer par com Francisquinho como padrinhos no casamento de Juvenal.

Terminada a cerimônia e os festejos, cada casal segue para sua respectiva casa: Francisquinho com Magnólia e Carlinho com Estela.

Tempos modernos!

*BENEDITO DE GODOY MORONI

-Advogado, jornalista e escritor;

-Graduado em Direito  pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Universidade de São Paulo(1972); e

-Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Venceslauense de Letras. 

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