©2025 Fabíola Cauduro da Rocha
A mídia, em seus diferentes formatos (imagens, vídeos, redes sociais), adquiriram um papel fundamental na mediação das relações sociais cotidianas. Sua influência afeta desde a formação de opiniões até as contradições sobre essas mesmas mudanças de opinião, o que muitas vezes podem levar à polarização das dinâmicas comunicativas, essa intervenção midiática, é ambivalente, oferta benefícios, como praticidade na resolução de problemas burocráticos e técnicas sobre como solucionar problemas domésticos, em vídeos ou tutoriais cada vez mais curtos, mas também apresenta obstáculos quanto à interação social. Este estudo busca investigar as contribuições e desafios, considerando perspectivas sociológicas, comunicacionais e tecnológicas, isto é, entre a população jovem e periférica de São Paulo, demonstrar a importância de outras epistemologias na construção de narrativas midiáticas mais plurais, e buscando entender como a mídia tradicional sustenta estruturas de dominação social.
As mídias sociais alteraram fortemente as dinâmicas da comunicação atual, especialmente entre os jovens. Na periferia paulista, fatores socioeconômicos e culturais influenciam diretamente as interações sociais, essas plataformas assumem um papel que muitas vezes se contradiz: ao mesmo tempo que amplificam vozes marginalizadas, facilitando a conexão com o mundo, também exibem desigualdades, obstáculos, desafios, e por vezes, reforçam rótulos pejorativos. O que se pretende é analisar os impactos das mídias sociais na comunicação dos jovens periféricos de São Paulo, considerando aspectos como identidade, acesso à informação, sociabilidade e riscos digitais, que trazem com eles aspectos como fragmentação discursiva e alienação, especialmente quando diferentes níveis de desigualdade social. É preciso abordar quais são as ações para mitigar esses conflitos entre as políticas de regulação midiática, alfabetização digital crítica e a promoção de espaços on-line mais inclusivos.
Desde o Zé do Caroço, líder comunitário e educador popular no Rio de Janeiro até o Chavoso da USP, sociólogo e comunicador, que também trabalha com educação popular, mas em um contexto midiático contemporâneo, é youtuber e palestrante, e embora utilizando ferramentas de comunicação diferentes, abordam temas como desigualdade, racismo e periferia, tornando a informação acessível a públicos amplos, cada um, em seu tempo, pavimentou sua ferramenta de comunicação como um meio de interação, educação popular e transformação social.
O que se busca, é demonstrar a democratização da voz e representação dos jovens da periferia de São Paulo, permitindo que essas jovens barreiras geográficas e midiáticas tradicionais, que através da comunicação urbana criam espaços de expressão e autorrepresentação, bem como a busca pela produção de conteúdo autoral, que reflete sua realidade e contesta estereótipos hegemônicos, e através do ativismo digital promovem ações e movimentos, como rolezinhos e campanhas por direitos urbanos.
Na busca de respostas à problematização do nosso tema de estudo, temos que analisar como a presença digital tem reconfigurado a participação dos jovens da periferia de São Paulo e como isso a perspectiva dos espaços culturais urbanos, e identificar a correlação entre a presença digital e a busca por uma identidade, que trata da convergência entre identidade e identificação social, a partir de múltiplas influências (culturais, sociais, políticas). Identificar de que forma são utilizadas as redes sociais para compreender as condições urbanas de promover o reconhecimento das diferenças entre indivíduos, grupos e classes.
A mídia, especialmente as mídias digitais e sociais, transformou profundamente as dinâmicas de interação social, o que nos faz repensar a ideia de interação e diálogo, especialmente entre os jovens, como o contato físico, remete a uma sociedade que convive, participa e atua a partir de uma convergência de interrelações midiáticas, culturais e de consumo de informação, o que torna importante o debater sobre a dependência que os adolescentes desenvolvem em relação às tecnologias, há preocupações sobre o prejuízo à comunicação tradicional. Em "iGen: Por Que as Crianças Superconectadas de Hoje Estão Crescendo Menos Rebeldes, Mais Tolerantes, Menos Felizes – e Totalmente Despreparadas para a Vida Adulta", argumenta que o uso excessivo de smartphones reduz a capacidade dos jovens de lidar com conflitos presenciais, interpretar linguagem corporal e manter diálogos profundos, para Jean Twenge.
Por esse prisma, a comunicação eletrônica tem o mesmo valor daquela ao vivo. Se isso fosse verdade, ela também faria bem para a saúde mental e a felicidade: os adolescentes que se comunicam via redes sociais e mensagens de texto deveriam ser tão felizes e não sentir solidão nem depressão quanto aqueles que se encontram pessoalmente com os amigos e fazem atividades que não envolvem telas. (2020, p. 60).
A presença digital tem modificado de forma profunda a participação dos jovens nas cidades, influenciando desde a forma como eles se engajam socialmente até sua relação com o espaço público e a política, a urbanidade, ganhou outros ares, novas configurações, se de um lado amplificou a voz dos jovens na cidade, de outro, criou divisões. Enquanto alguns usam a tecnologia para reinventar a vida urbana, outros ficam à margem. O desafio é garantir que a transformação digital seja inclusiva e fortaleça, ao invés de substituir, os laços reais no espaço urbano, o excesso de foco no "instagramável" (conteúdo para redes sociais) pode reduzir o engajamento profundo com a arte e a cultura. A presença digital não substitui os espaços culturais urbanos, mas os reconfigura, e ressignifica sua função social. A dificuldade é equilibrar inovação e acessibilidade, experiência cultural.
A mídia digital não necessariamente prejudica a comunicação entre os jovens e a sociedade, mas redefine ações e comportamentos em suas diferentes esferas. Enquanto alguns jovens podem apresentar dificuldades em interações presenciais, outros desenvolvem novas competências adaptadas ao mundo digital.
Como não são idênticas as percepções e valorizações das oportunidades, dadas as diferenças em termos de acessibilidade digital e desigualdade social, insuspeitamente passamos pelos fatores que evidenciam a distância social, e uma segregação que acompanha indivíduos dentro da vida cotidiana, vivenciando constantemente dentro da nossa experiência urbana indivíduos diferenciados que agem e se apropriam de formas diferentes dos espaços, físicos e digitais, e muitas vezes o fazem sem tomar conhecimento um do outro.
Análise das mídias sociais na promoção da interação entre os jovens e o excesso de foco no "instagramável" (conteúdo para redes sociais) podendo reduzir o engajamento profundo com a arte e a cultura e urbanidade, gerando uma ideia de superficialização da experiência, abordando também o ponto de vista da desigualdade digital, onde nem todos têm acesso igualitário a dispositivos ou internet de qualidade, o que pode excluir certos grupos, o que nos conduz à uma reflexão crítica sobre educação a partir de saberes marginalizados, especialmente periféricos e racializados.
As mídias sociais, aglutinam grupos com objetivos comuns, que quando se encontram, possam compartilhar suas visões e objetivos. O compartilhamento participativo nas mídias sociais pelos jovens periféricos que São Paulo, viabilizam o entendimento dos territórios urbanos como espaços educativos, onde a rua, o grafitti, o fluxo, o funk e o hip-hop são formas de conhecimento e espaços de pertencimento.
A periferia de São Paulo, ter uma boa noção de como grupos sociais diferentes espacializam suas ações. Padrões de apropriação do espaço moldam as ações dos atores na cidade e, ao fazer isso, tendem a ter efeito sobre a interação social potencial, sobre a formação de relações entre pessoas e, finalmente, sobre a própria formação de redes sociais. A identidade nas mídias digitais não é estável, é o que permite existir em um espaço de hipervisibilidade, mas também o que gera conflitos, como polarização e crise de autenticidade.
O estudo sobre o impacto das mídias sociais na interação dos jovens da periferia paulista revela um cenário complexo e multifacetado, que exige uma abordagem educacional igualmente dinâmica e crítica. Longe de serem meros instrumentos de entretenimento, as plataformas digitais emergem como espaços de reconfiguração social, cultural e até política para essa juventude, oferecendo tanto oportunidades inéditas quanto desafios significativos. Didaticamente, é crucial compreender que as mídias sociais funcionam como uma dupla via educacional. Por um lado, elas democratizam a voz e a representação de jovens historicamente marginalizados, permitindo a criação de conteúdo autoral que reflete suas realidades e contesta estereótipos. A capacidade de se conectar com o mundo, acessar informações e engajar-se em ativismo digital transforma a experiência de vida desses jovens, expandindo seus horizontes e fortalecendo sua identidade. Nesse sentido, as mídias sociais atuam como um potente catalisador para a educação popular, onde saberes marginalizados ‒ como a cultura de rua, o grafite, o funk e o hip-hop ‒ ganham visibilidade e reconhecimento como formas legítimas de conhecimento e pertencimento. Os territórios urbanos, antes vistos apenas como espaços físicos, são ressignificados como ambientes educativos vibrantes, onde a interação digital complementa e amplifica as trocas presenciais. Por outro lado, a ubiquidade das mídias sociais impõe desafios educacionais que não podem ser ignorados. A superficialização da experiência, o excesso de foco no "instagramável" e a potencial fragmentação discursiva podem comprometer o engajamento profundo com a arte, a cultura e o diálogo construtivo. Além disso, a desigualdade digital ‒ que se manifesta na disparidade de acesso a dispositivos e internet de qualidade ‒ cria barreiras, aprofundando a segregação e limitando a participação plena de certos grupos. A dependência tecnológica e o possível prejuízo à comunicação tradicional, como apontado por alguns estudos, reforçam a necessidade de uma alfabetização digital crítica que vá além do uso instrumental das ferramentas, capacitando os jovens a interpretar, questionar e produzir conteúdo de forma consciente e responsável.
Em resumo, a educação no contexto das mídias sociais e da juventude periférica deve ser um processo contínuo de equilíbrio. É fundamental que as instituições educacionais, as famílias e a sociedade em geral promovam o desenvolvimento de competências digitais que empoderem esses jovens a aproveitar as oportunidades de conexão e expressão, ao mesmo tempo em que os equipam com as ferramentas críticas necessárias para navegar pelos riscos e desafios do ambiente online. A meta é garantir que a transformação digital seja inclusiva, fortalecendo os laços sociais e culturais, e não os substituindo, para que a voz da periferia paulista continue a ecoar de forma autêntica e impactante, contribuindo para uma sociedade mais justa e equitativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2005;
RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Mórula editorial, 2019;
TWENGE, Jean M. iGen: Porque as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta. Versos, 2020 e
SARTRE, J. P. Entre quatro paredes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
FABÍOLA CAUDURO DA ROCHA
- Graduada em Design Gráfico pela FMU (2015);
- MBA em Gestão de Recursos Humanos pela FMU (2016);
- Pós graduada em Design Educacional e Pedagogia do E-Learning pela Universidade Cruzeiro do Sul (2020);
- Mestra em Educação pela UNISAL (2022) ;
- Trabalha há mais de 15 anos com práticas administrativas e acadêmicas relacionadas ao desenvolvimento pedagógico dos alunos, apoio aos professores e coordenadores, inclusive em cargos de gestão e supervisão como responsável junto ao MEC nos programas FIES e PROUNI e
- Atualmente é professora nos cursos de comunicação e design gráfico, na Universidade de São Paulo - Unicid, e, também atua como conteudista e autora de artigos.
Nota do Editor:
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