sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Fake freedom (Liberdade falsa)



Foi Maria que se sentiu culpada por ter levado o celular junto, naquele dia que não volta mais.

— Eu não ajudo com um real. Já tinha avisado várias vezes para ela não sair do escritório com o celular, na hora do almoço — disse Rafael, sócio da empresa onde a vítima trabalhava.

Os colegas da ousada secretária fizeram uma vaquinha para ajudar na compra de um novo smartphone.

No dia anterior, de assalto, haviam tomado o celular e a carteira dela, a três quarteirões do trabalho.

E alguém continuará escolhendo o caminho impune do crime num estado onde os cidadãos e o governo estão confusos?

A falsa liberdade leva a uma existência plena?

A busca da verdade é um enorme desafio. Vivê-la nunca foi fácil. Quando escolhemos a forma mais fácil de viver no Brasil acabamos por nos trair? Afinal de contas, a Nação em que vivemos, o sistema estabelecido, parece estar viciado e corrompido. Estamos entregando nossa autonomia aos conhecidos mascarados? Liberdade é termos, pelo menos, múltiplas opções de escolha. Existir em virtude é poder calcular os custos de oportunidade de cada escolha, e decidir sem o medo da opressão tóxica privada; é preciso, no entanto, calcular sempre o rigor da Lei. Considerações minhas, aceito críticas!

Autoconhecimento é compreendermos o que nos faz sentir bem ao sermos incoerentes com o pensar e o agir. É criticarmos este contraditório sentimento. Estar incoerente exige evolução!

Rafael, aquele sócio, sai de carro, por Fortaleza, e leva um celular extra, funcionando, mas usado, de valor menor e uma carteira velha com 20 reais, adivinhem para quê! Para entregar ao ladrão quando for abordado num semáforo vermelho. Além, para o criminoso contrariado não tirar sua vida. Indivíduos, entre nós, que decidem se devemos ou não voltar para casa. O avesso de Democracia…

E o vizinho do conhecido que anda em carro blindado, para não sofrer um sequestro, ao chegar na entrada da garagem de casa, em um bairro mais ou menos? Entra no lar satisfeito por um dia vencido com profissionalismo e excelência, abraça os filhos, inocentes (os quatro, casal e dois filhos), e dorme tranquilo, acreditando que contribuiu para a construção de uma cidade mais justa e digna para sua família.

A moça que não usa a roupa de que gosta porque vai despertar os instintos do psicopata abusador. E vive em silêncio sob a opressão de um estado omisso com a segurança de seus pagadores de impostos. É mais fácil para o governador desapontar a sociedade, ocupada com a sobrevivência? O vigarista, entretanto, seguirá livre e impune pelas ruas da cidade?

O combinado sempre significou o respeito entre as pessoas. O combinado não deve sair caro. Mas quando foi que combinamos que queríamos vivenciar a pobre realidade que suportamos hoje em Fortaleza? Quando alguém negocia o seu voto entrega automaticamente a humilhação de nossos filhos aos políticos que compraram aquele poder? Estaremos vendendo o futuro das nossas famílias quando desvalorizamos nosso voto. É passada a hora de sabermos o que precisamos fazer pelo nordeste. E não o contrário! Somos sim, em maioria, o mindset da superação.

Imagina só! Quando ninguém estiver acima da lei em nossa pátria; quando a Justiça no Brasil for plena e imparcial; quando cada cidadão for responsabilizado por seus atos e não houver mais ninguém que acredite que o crime compensa, porque as instituições serão fortes e inegociáveis; quando pudermos andar em nossas ruas, em qualquer horário, contemplando a magia de uma Fortaleza viva e pulsante, com as pessoas que amamos… seremos uma comunidade livre e coerente. Seremos a Fortaleza de verdade.

E até lá, que ousada consciência nos protegerá das "fake freedom"?

*JACINTO LUIGI DE MORAIS NOGUEIRA





Médico anestesiologista
MBA em Gestão Empresarial pela Mrh/FGV
Profissional liberal


Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. A liberdade é valor esquecido, total ou parcialmente, para muitos brasileiros, como vejo. Sabe aquela máxima de que o sujeito se habitua com tudo, até com o que é ruim, pois bem. Existe hoje tanto "desvalor" em voga, como sendo coisa normal, habitual, como criminosos assumindo posições destacadas aos críveis, que já é possível duvidar se virtude é valor. E se liberdade não seria aceitar essa desvirtudes.

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