segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Os “Coronés” nos Tempos Atuais



Autora: Maria Cristina de Oliveira(*)


Em pleno século XXI ainda nos deparamos com muitas situações em que o Coronelismo persiste em várias esferas públicas da política brasileira.
Esta prática teve início ainda no século XIX, na República Velha, em que o abuso de poder era garantido pela imposição, coercitividade. O coronel era uma figura de destaque local, exercia poder por meio de imposição pelo medo, pela violência, ou ainda pela troca de favores. Naquela época as eleições eram totalmente manipuladas, o povo não tinha liberdade de escolher, o voto era de cabresto, porque o coronel acompanhava a eleição de perto e o vitorioso era sempre o coronel ou quem ele indicava. Em algumas situações até os mortos votavam, para forjar alguma vitória eleitoral.
Hoje, em tempos de tecnologia, de tudo estar conectado, o mandonimo político persiste visivelmente nas cidades urbanas.  Lembro de uma história recente, de um grupo de amigos, que na época de confraternização, decidiu fazer algo diferente. Ao invés de presentearem as crianças que escrevem cartinhas para o Papai Noel, pedindo um presente de Natal e enviam para o Correio, o grupo resolveu fazer uma festa para as crianças, passar o dia com elas, proporcionando atenção, brincadeiras em conjunto, teatrinho, fornecendo brinquedos de pula-pula, cama elástica, pipoca, algodão doce...
Tudo foi planejado e escolhido o local. Entraram em contato com uma instituição de bairro e a assistente social que recebeu o grupo, aprovou a ideia da recreação para as crianças, que estavam em férias escolares.
Dois dias antes do evento, conforme combinado, o grupo foi até o bairro para distribuir cartazes da festa em alguns pontos do comércio local, para lembrar aos pais de levarem as crianças para o divertimento. Terminada a distribuição dos panfletos, o grupo já estava indo embora, quando recebem uma ligação da assistente social.
"- Alô, aqui é a Sra... Estou ligando para avisar que não poderemos mais fazer a festa. A pessoa que manda aqui na região proibiu e avisou que se a festa ocorrer, eles farão retaliação aqui na instituição, podem botar fogo, roubar, depredar e destruir o que já conquistamos."!
Diante desta chocante situação, de que o bairro tem dono e é um tal político, o grupo cancelou a festa. Lamentou-se pelas crianças que ali perderam esse tempo de carinho, recheado de brincadeiras e realizou o evento com sucesso, tranquilamente, em uma outra comunidade. Não foram só as crianças que perderam a festa, também perderam os comerciantes do local, porque o grupo fez questão de comprar no próprio bairro do evento tudo que seria gasto e utilizado na festa.
Não distante desse acontecimento, lembro que até eu já passei por situação semelhante, em que estava na praça da minha cidade, divulgado um evento de palestra, quando fui abordada por uma senhora que me avisou que aquela praça pertencia a um político e que tudo primeiro teria que ser autorizado por ele. Fiquei estarrecida, paralisada por alguns segundos para tentar entender como uma praça pública, criada e sustentada com o dinheiro de impostos dos munícipes, tinha um novo proprietário, o tal "coroné" que vem sobrevivendo no país democrático.
Isso me levou a uma reflexão: Quem sustenta esses cães de guarda do político? A resposta é simples. É a sociedade que arca com as despesas, quando o político se utiliza dos cargos comissionados.
E o que isso afeta na economia do município, e o que nos afeta também?
A má gestão do serviço público, o excesso de gastos, o desequilíbrio das contas públicas, mais a corrupção, acarretam o abandono da saúde pública, não há verba para uma educação de qualidade e a segurança se torna muito precária, porque não sobra dinheiro para investimentos. As dívidas públicas crescem e a solução mais fácil para pagar os gastos, é cobrar mais tributo e lá vem o aumento do IPTU.
O trabalhador é obrigado a tirar mais uma fatia do seu salário para socorrer as finanças públicas.  Também ele é levado a pagar um convênio médico para ser atendido em um momento de enfermidade, porque o serviço público está lotado. Terá que arcar com os gastos de uma escola particular para o filho, porque a pública não tem estrutura, terá que fechar as ruas do seu bairro, caso queira um pouco de segurança, porque não tem policiamento.
Por isso precisamos ser mais participativos na política, para exigir uma melhor economia e utilização do dinheiro público, porque ao invés de recebermos uma boa prestação de serviço do Estado, acabamos por servir ao um governo inchado e ineficiente.
Estamos livres para analisar e escolher bons candidatos, porque agora a lei nos dá garantia "A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos e, nos termos da lei...".
Este é o caminho atrelado a uma educação de qualidade para todos e que seja baseada em valores, ética, moral para andar juntos, de mãos dadas, com a nossa política, a fim de que o rumo do Brasil seja de crescimento, investimentos e nós então poderemos surfar nesta onda da prosperidade.

 *MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA

  

-Professora;
-Formada em Letras na PUCCAMP;
-Bacharel em Ciência Política;
Atualmente funcionária pública federal.
E-mail: cris.olive@gmail.com
 Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. Pagamos tudo de tudo neste país em que coronés mandam, desmandam ...
    Hoje ainda temos a evolução destes trastes; traficantes de drogas...

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  2. Desnudou a prática mais canalha. Parabéns

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