domingo, 10 de novembro de 2019

O Significado da Liberdade na Vida de uma Pessoa

Autora: Fabiana Benetti(*)

Podemos dizer que na sociedade que vivemos, é difícil encontrar um homem livre.

A liberdade humana está ligada diretamente com o conhecimento de sua própria natureza de ser e existir como desejo.

O que quer dizer isso? Este conhecimento, na realidade, tem muito a ver com a consciência que somos causa daquilo que acontece.

Digo isso deixando de lado ilusões, como as superstições, e as ‘verdades absolutas’ que trazem conhecimentos fantasiosos – nos enfraquecendo na razão, no pensamento e ação, e desta forma desconectando o nosso ser do nosso desejar e do fazer. 

Cair na fraqueza das ilusões trazidas pela crença – um exemplo seria a crença de que podemos controlar ou eliminar absolutamente os afetos –nos torna impotentes e distantes de nossa natureza, nos arrancando a capacidade de agir e pensar, e também fomenta um modo padronizado e reproduzido de atuar, anestesiando as nossas criações e sentimentos.

Contudo, precisamos reconhecer e praticar, na vida cotidiana, a necessidade de ser aquilo que se é, dando maior importância as nossas causas e sentidos singulares, agindo adequadamente para a conservação, constituição e congruência de nossa própria potência de conhecer, compreender, existir, desejar e agir.

Isso é possível quando acessamos nossos conhecimentos por meio das relações afetivas de modo que exista troca, e não alianças de dívida e culpa. Nós, seres ditos humanos, nos tornamos humanos de verdade a partir do afeto de outros. Por isso, nossa natureza vai em busca de sermos afetados de múltiplas maneiras, onde todos cresçam  mutuamente, se ajudando, fazendo parcerias, tomando parte com entrega nas conexões de interdependência, diminuindo a dependência infantil, onipotente ou impotente, e investindo no encontro com autonomia para os afetos.

Quanto mais efetuamos encontros apoiados em troca e parceria, mais nossa potência e desejo aumentam, nos possibilitando de afetar e ser afetado com liberdade. 

 Qual a importância da busca pela autonomia?

A importância é de liberdade – estabelecer relações de troca implicando iniciativa, responsabilidade, comprometimento, entrega, riscos, e decisão de falar por si próprio, arcando com os erros e acertos na construção da relação.

Não podemos confundir autonomia com autossuficiência. Ninguém é autossuficiente. Quando agimos isoladamente, recusando ajuda, desconsiderando o outro como parte integrante da autonomia, criamos violência e obstáculos para uma discussão aberta que possibilita o vínculo. Esse vínculo só é construído quando temos a qualidade na relação com o outro por uma recíproca necessidade. Em virtude dessa necessidade, realizamos as mesmas finalidades pelo auxilio mútuo, com respeito ao próximo, reconhecimento dos seus próprios limites, e lealdade em arcar com o desejo e escolhas – permeados por autocrítica.

Isso é diferente de ser dependente – assim como as crianças são dos adultos para se constituírem como sujeito, dependendo de um ambiente que traga proteção, referencias, agenciamentos e afeto.
A autonomia é construída em cada relação onde existe vínculo e afeto (condição importante para lidar com a realidade vivida, com ganhos e perdas), e possibilita ao indivíduo assumir o próprio desenvolvimento e ser o sujeito de sua própria história.

A autonomia traz recursos para lidar com as contradições do mundo. Ela gera oportunidades para mudanças qualitativas – isso porque só podemos desenvolver se buscarmos a possibilidade de nos diferenciarmos de nós mesmos. Este processo gera criatividade, e a capacidade de nos tornarmos conscientes, e criadores de nosso próprio envolver na vida. Assim não ficamos refém do acaso, e dos outros, mas temos uma efetiva realização e empoderamento.

Como ter mais segurança em si mesmo?

Podemos dizer que ter autonomia traz a potência de tomar decisões, e com isso transformar conflitos em possibilidades com maior segurança.

Para modificar os estados de mal-estar nas relações consigo mesmo e com o outro, e também tratar dos desafios que podem trazer muitas inseguranças, é fundamental o desapego das idealizações: deixar de lado a ilusão que podemos controlar todas as nossas emoções e situações.

Assim sendo, quando aceitamos que nós somos responsáveis por nossas escolhas, e que nem sempre temos um resultado satisfatório, podemos construir uma segurança mais sólida e possível.

Outro ponto importante aqui, é o de entrar em contato com a própria história de vida, investindo no autoconhecimento, e assim constituindo, humanamente, mais autoestima. Muitas vezes, respondemos a novos estímulos com a mesma resposta, por estarmos descolados do presente momento e remetidos em algum outro momento da vida que tenha sido difícil ou traumático. Assim se instaura a insegurança, pois deixamos de viver o que no presente acontece, nos limitando de habitar nossos desejos, por falta de ‘tempo presença’ que nos traz autoconhecimento.

Fazer terapia é fundamental para o ser humano construir sua própria segurança.

Uma razão é que na vida atual vivemos em uma sociedade que  opera de maneira fugaz, que nos impõe a responder a todos estímulos de forma automática como se fosse a forma perfeita e possível de se viver.

O resultado dessa demanda é um convite a virarmos um produto a se comprar ou a se vender, em detrimento do nosso próprio desejo – em detrimento da intimidade do pensamento que é responsável pela sustentação da atenção. Desta forma, perdemos a singularidade de cada individuo se conhecer na sua própria relação com a lentidão e velocidade do tempo.

Cada um é um modo de ser, mas quando vivemos na condição da vida veloz que não permite a lentidão – que promove a velocidade do pensamento e apropriação de si mesmo – o que imperará será a insegurança, pois nesta forma de viver sem o tempo da auto-percepção, perdemos a possibilidade de ser humano.

Portanto, uma boa maneira de se sentir mais seguro frente à vida é se dar o tempo de se perceber como singular. Nos dias de hoje, a terapia é um recurso fundamental para isso. Através dela, acessamos nossa história de vida, trazendo autoconhecimento, e desconstrução das crenças de um passado que nos faz repetir frente a novos estímulos. Estas crenças do passado nos impedem de apropriarmos hoje dos nossos desejos, e nosso pensamento. Em seu limite, acessar nosso verdadeiro desejo e pensamento nos leva a expandir imensamente nossa maneira de ser, para além das coerções institucionais desse mundo.

A autonomia garante maior força e coragem para encarar dificuldades?

Sim! Uma vez que a autonomia alimenta a liberdade, e com coragem  desconstruímos um mundo hierárquico, ideal, podendo atribuir dignidade a tudo que existe, a vida se enche de sentido. Assim, superamos nós mesmos, frente às dificuldades que criamos e encontramos na vida.

A vida é viva quando podemos ter a força da autonomia que convoca os desafios para nosso desenvolvimento – quando tomamos consciência que no movimento da vida, entre altos e baixos, produzimos potência que fomenta uma espécie de necessidade vital, na qual procuramos nos diferenciar de nós mesmos.

Assim sendo, os encontros, os afetos, as relações e o bem-estar nos animam a alma, nos dando capacidade de construir o amor e a superação de nós mesmos com força de viver.

Nessa vida contemporânea precisamos criar espaços para se implicar com  nossa singularidade, para assim poder lidar com o medo, e as amarras, impostas pelo sistema todo que resulta das leis da nossa cultura.

O espaço terapêutico nos ajuda muito constituir essa força que nos proporciona autonomia e liberdade.   

*FABIANA BENETTI    

 -Psicóloga, psicanalista, especialista em psicossomática e esquizoanalista;
-Psicóloga graduada pela Universidade Paulista(1997);

-Aprimoramento em Analises do comportamento aplicado(ABA) United Response ,Londres,2001; 
-Pós Graduada em Cross Cultural Psychology pela Brunel University em  Londres, 2002;
-Atendimento em consultório particular em São Paulo-Tel/what´s 11 985363035.
-Membro do Departamento de Psicossomática do Instituto Sedes Sapientiae;e
-Agenciamento  em Filosofia e Esquizoanálise com Peter Pál Pelbart e Luiz Fuganti.

 Nota do Editor:


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