domingo, 2 de fevereiro de 2020

Comunicação Saudável: Construção de Pontes nas Relações.




Autora:Claudia Oliveira(*)



Dificuldades no relacionamento interpessoal são queixas frequentes nos consultórios de psicologia, sejam elas na vida pessoal ou profissional. O ser humano é gregário, necessita dos grupos para desenvolver-se e para ser feliz. Portanto, relacionar-se bem é uma necessidade inerente na vida. É nas relações que evoluímos.

Para melhorar a qualidade das relações e sentir-se melhor diante das pessoas presentes no cotidiano, primeiramente, é preciso se auto-observar. Atentar-se aos conteúdos dos pensamentos e das nossas palavras é fundamental. As palavras tem um poder imenso. Podem ser usadas para criar e libertar, ou para escravizar e destruir. Tudo depende da qualidade de seu conteúdo.  

Palavras vãs, tomadas como verdade absoluta, alimentando crenças limitantes e criando uma falsa visão sobre nós mesmos, limitando habilidades e aprisionando a criatividade.

Ao aceitar cada palavra tóxica que ouvimos, firmamos um compromisso com nós mesmos, estabelecendo comportamentos que reiteram essas falas. Aos poucos vamos nos envenenando e destilando esse veneno às pessoas à nossa volta. Reclamar, maldizer, fofocar são formas de disseminar veneno.

Sendo assim, desenvolver um vocabulário amoroso, respeitoso e compassivo auxilia a si e a quem está ao seu redor.

Outro ponto importante para aprimorar as relações é lembrar-se que a opinião emitida por cada pessoa é filtrada por sua realidade subjetiva. Ela é um reflexo de seu interior, uma projeção de como ela vê o mundo. Portanto, quando assumimos a opinião alheia como verdade e levamos para o lado pessoal, geramos sofrimento desnecessário.

Filtrar o que chega aos nossos ouvidos permite que tenhamos tempo para processar e compreender o que está por trás de cada fala, comentário e opinião. Esse filtro melhora a qualidade da comunicação, que é base para a saúde das relações.

A teoria da Comunicação Não-Violenta (CNV), criada pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, cita quatro passos importantes para aprimorar a comunicação interpessoal. Para ele, diante de cada situação, devemos:

  1. Observar sem julgar: ouvir em escuta plena e neutra, se abstendo de conclusões e impressões.
  2. Identificar como nos sentimos ao observar aquela ação: descobrir como isso nos afeta e nomear os sentimentos presentes.
  3. Identificar quais as necessidades pessoais que estão ligadas aos sentimentos identificados acima.
  4. Formular um pedido claro e coerente baseado nas reflexões acima.

Um exemplo simples disso é uma esposa que, após um dia exaustivo, chega do trabalho e encontra a casa bagunçada. Ela sente-se irritada, pois necessita de organização nos espaços comuns para sentir-se bem. Observando a situação, sua irritabilidade e sua necessidade de organização, ela pode comunicar-se: "Você poderia encaminhar as roupas sujas para o cesto e liberar o espaço comum?".

Existem diversas maneiras de comunicar o pedido acima. Mas frequentemente, esse pedido vem contaminado com reclamações, julgamentos, mágoa e rancor, palavras pesadas e colocadas fora de contexto que vão formando uma névoa em volta do simples pedido, tirando a objetividade da fala, causando dificuldades na relação.

Identificar, diferenciar e comunicar os sentimentos causados em cada situação faz com que eles sejam liberados paulatinamente, evitando explosões emocionais e discussões desgastantes.

Os passos da CNV contribuem para uma relação mais equilibrada e empática, pois quando cada necessidade pessoal é identificada, podemos nos autorresponsabilizar pelos nossos sentimentos e comunicá-los de forma pacífica, sem disputa de poder, sem querer obter razão diante do outro.

Uma comunicação clara e pacífica constrói pontes nos relacionamentos, diminuindo distância e aumentando o senso de pertencimento.

Outra postura que causa grande frustração nos relacionamentos é quando tiramos conclusões precipitadas sobre algo ou alguém.

Quando analisamos rapidamente uma situação e tiramos conclusões de forma precipitada, sem o devido conhecimento, corremos o risco de nos magoar de forma desnecessária, pois em diversas vezes essa conclusão será infundada.

Tiramos conclusões, pois temos a fantasia de que as pessoas pensam e sentem como nós e isso não se aplica.

Uma alternativa é procurar esclarecer a situação através de perguntas claras e diretas, diminuindo a falha de comunicação. Com isso, é possível reconhecer o outro em sua individualidade, compreendendo como ele é, diferente de mim. Reconhecer e respeitar suas qualidades e também seus limites.
         
Para se ter relações saudáveis é necessário se comprometer a dar o seu melhor. Muitos esperam uma mudança de atitude do outro, sem assumir sua própria responsabilidade diante da relação.       
         
Relacionamentos envolvem a postura de ambas as partes e quando todos se responsabilizam a deixar orgulho, ego e vaidade de lado, tudo fica mais fácil.

Fazer o melhor de si, reconhecendo limites e disponibilidade. Nosso melhor varia de acordo com nossa disponibilidade, saúde (física e emocional), criatividade e diversos outros fatores. Reconhecer isso sem julgamento e culpa é a base para a entrega, livre de cobranças e arrependimentos, construindo uma convivência harmônica.

Ao nos aproximarmos da liberdade da consciência, podemos ser benevolentes, empáticos. Respeitar a própria liberdade permite respeitar a liberdade do outro, reconhecer que cada um caminha em seu próprio ritmo e assim deve ser. Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza chegará mais adiante.

*CLAUDIA RIBEIRO OLIVEIRA

-Psicóloga;
-Especialista em Psicologia Junguiana pela Paeeon/UNISAL;
-Facilitadora Pro do método PSYCH-K® de transformação de crenças;
-Experiência em atendimento psicológico na abordagem junguiana em consultório particular;
-Experiência como docente em Ensino Superior; e
-Experiência em palestras sobre temas na abordagem junguiana

Nota do Editor:
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