domingo, 17 de maio de 2020

Adolescência, a Crise e o Renascimento


Autora: Thelma Domingues(*)


O primeiro grande salto para a vida é o nascimento, com ele o ser humano se lança para o desconfortável e desconhecido, um novo mundo. O segundo salto é a adolescência, outra vez o mundo se descortina pelo intenso desprendimento do núcleo familiar. O processo da adolescência é como um renascimento, desta vez, o salto é em direção ao nascimento de si mesmo. 

O adolescente precisa encontrar sua posição no espaço e em tempo, situar-se como sujeito, obter uma ideologia própria. Neste período, é natural a ambiguidade, os enfrentamentos, as oscilações de humor, colocando em dúvida tudo que o cerca. Não se reconhece fisicamente, seus sentimentos e suas ações; é um vulcão em erupção. 

Importante diferenciar a adolescência da puberdade, porém o fenômeno puberdade/adolescência não pode ser estudado isoladamente. O conceito de puberdade está relacionado aos aspectos físicos e biológicos do individuo, iniciando por volta dos 9/10 anos de idade. Segundo Tiba (1994), é nesse período que a criança perde o modo infantil e sente as primeiras modificações corporais. 

Embora as modificações pubertárias sejam observadas em praticamente todo o organismo, apresentam-se, sobretudo, nos seguintes componentes (LEAL; SILVA, 2001): 

  • estirão de crescimento pondo-estatural; 
  • modificação da composição corporal, resultante do desenvolvimento; 
  • esquelético e muscular e das modificações na quantidade e distribuição de gordura; 
  • desenvolvimento do sistema cardiorrespiratório, predominantemente da força e da resistência; 
  • desenvolvimento do aparelho reprodutor. 

A adolescência é um fenômeno psicossocial, muitas vezes, os jovens estão inseridos em ambientes que possuem influências negativas e positivas sobre seu desenvolvimento. 

Em todas as culturas, há um "manual" de como se deve viver, e no da cultura brasileira, as normas são bem definidas para o jovem ser aceito e bem visto pela sociedade. Por outro lado, a mesma sociedade diz que “aceita” e “acolhe” os jovens independente de sua aparência e de seus ideais. Essas e outras situações dúbias, veladas, causam confusões e desorientações de como agir e se posicionar, tipicamente o padrão de comportamento do adolescente.

O adolescente deseja crescer, tornar-se adulto, independente e autônomo, mas se sente ameaçado e hesita; a sociedade exige do adulto de forma mais complexa.

Algumas tribos primitivas, os confrontos e conflitos não chegam a se instalarem, pois, a estrutura social exige uma rápida e forçada adaptação aos padrões dos adultos, através de simples cerimonias de iniciação, e com isso, lhes asseguram o privilégio imediato de se tornar adulto e são autorizados a casar, terem relações sexuais, filhos, constituir família, entre outros. Trocam a posição de submissão pela posição de autossuficiência. 

A caracterização desse período é a alternação constante entre dois extremos. De um lado a intolerância, que se mostra através da agressividade, enquanto o outro lado é de tristeza, angústia. Esses elementos são indispensáveis para uma boa elaboração das crises existenciais próprias da adolescência. A agressividade bem dirigida (manejada) facilita a utilização dos recursos internos, uma força que impulsiona que fará o adolescente tentar, ir para a ação, tomar decisões, buscar soluções. No outro polo, a angústia e a tristeza conduzem ao recolhimento e propicia o contato com as vivências internas, conviver com suas frustrações e perdas. São com as crises que o adolescente se fortalece, e a prepara para a fase adulta. 

Se o adolescente precisar de ajuda para atravessar este processo ou se os pais que não estão conseguindo lidar com a transição do filho da adolescência para a fase adulta, o ideal é procurar ajuda profissional de um psicólogo. O tratamento psicoterápico auxilia o jovem e sua família a passarem por esse processo doloroso, como também, é um aliado na prevenção de transtornos mentais na fase adulta. 

TAG 

Adolescente; adolescência; puberdade; transição da adolescente para a fase adulto; jovem adulto; 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

LEAL, M. M.; SILVA, L. E. V. Crescimento e desenvolvimento puberal. In: SAITO, M.I.; SILVA, L.E.V. Adolescência: prevenção e risco. São Paulo: Atheneu, 2001. Cap. 5, p. 42;

TIBA, I. Adolescência: o despertar do sexo: um guia para entender o desenvolvimento sexual e afetivo nas novas gerações. São Paulo: Gente, 1994. 130p. 

*THELMA DOMINGUES




-Psicóloga e psicopedagoga, proprietária da Clínica da Ponte – Serviços Psicológicos, especializada em Psicopedagoga Clínica e Institucional (AVM), Educação Especial (UVA). 
-Pós-graduanda em Avaliação Neuropsicológica na PUC-Rio. Experiência em Saúde Mental na Rede de Atenção Psicossocial 
Thelma Domingues CRP 05/56218 
contato@clinicadaponte.com.br www.clinicadaponte.com.br

Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso mesmo A Pedagogia do Afeto é direcionada às crianças até 10 anos de idade. enquanto que a Pedagogia do Cidadão Ecumênico contempla a aprendizagem dos educandos na faixa etária a partir dos 11 anos. Mas "A mocidade deve preparar -se para velhice e para morte."

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