segunda-feira, 26 de junho de 2023

Crônicas e Coisas de Criança


 Autor: Luiz Antonio Sampaio Gouveia (*)

Não sou um bom cronista em que pese já ter escrito algumas crônicas. Sou emotivo e amoroso, sensibilizo-me com as coisas humanas e tenho por muitos que não vejo tanto amor como tenho por aqueles que comigo estão. Certamente meu maior amor é o que tenho pela Humanidade, um amor coletivo que não vê caras, mas que quer ver corações. Sinceramente não sei odiar e aprendo muito com meus inimigos, se é que os tenho, embora eles digam que sim.

Posso emocionar-me por opera, mas o jazz me encanta tanto quanto a música caipira que erroneamente muitos chamam sertaneja; nada melhor que um bom sambinha ou um bolerão de fim de noite, para encantar um amor perdido na mesa de um bar que nessa hora é todo o universo. Cultivo a beleza da mulher da minha principalmente; o "black is beatifull"; me fascinam as rainhas de sabá, que hoje, estão no Brasil por todos os lados. Mas é apenas uma questão cultural porque sou feliz no amor e no sexo monogâmico.

Aí é que digo não sou um Rubem Braga nem um João do Rio, para cronicar como se fosse Rui Castro; entretanto ultimamente com o mundo virando de ponta cabeça, estou mais para compreender a cibernética ou a inteligência artificial e aí alguém dirá, cadê a poesia seu babaca?

Vão lá umas horinhas do Pessoa, muito do Castro Alves e do João Gilberto, sem ser muito do Vinicius, de um pouco que vira muito. Mas as crianças sempre me encantaram pela naturalidade delas e pela maneira como enfocam a realidade.

Certa feita, um neto brincava com uma prima, ainda lá nos seus cinco anos. Ela tivera um pai que os desvios da vida o levara alemão de volta para a Alemanha, sem jamais ver a família. A menina amava o pai, sentia lhe falta, como se fosse um espírito. No auge de uma disputa, sei lá se por um folguedo ou brinquedo, o cara sacou: Ah! Volta lá para a Alemanha!

Uma vez, minha casa foi assaltada; os ladrões no clássico exemplo da Medicina Legal, do larápio que não encontra o que procura, deixou seu registro fecal sobre a mesa da sala de jantar. Vinda a Polícia, chamada para a perícia do seguro, subíamos eu e minha filha, então, com cinco anos, as escadas da casa para adentrá-la. O policial virou-se para mim e disse, doutor, isto é ladrãozinho. Minha filha atalhou-o – ladrãozinho? – Vá ver o que ele fez lá em cima...

Outra neta, já moça bonita, ainda com dois anos, sacava o mau humor da mãe e a desarmava (tá bava?) e a mãe dela se derretia em amor. Mais tarde, aos dez anos, brincava de cirquinho com as amigas e eu perto, quis entra no picadeiro e ela me disse, careca não entra...

As crianças assim têm a sutileza de retratar a realidade em suas palavras com singela simplicidade, mas impactadas por realidades concretas, que a ver as manifestações delas, me fazem crer em duas coisas.

Primeiramente, no Direito Natural e segundamente, na transcendência na alma porque existe uma sintonia do ser humano com o natural que a criança exprime com muita acuidade, sem ter a vivencia social de que nós que já estamos velhos.

Não sei se isto é uma crônica? Talvez falte nela a fluidez da ternura. Mas isto tem a ver com nosso espirito de cada dia. Hoje, Advogado briguento, estou furioso com um magistrado injusto.

Aqui, sim, está uma crônica com tudo!

Obrigado pela chance de escrever! Como dizia o Pessoa, escrevo para me desopilar, mas nunca fui mal-educado como ele, que arrematava, leiam-me os que queiram.

Eu, sempre quis ser lido...

* LUIZ ANTÔNIO SAMPAIO GOUVEIA




      

 

 

 







-Advogado graduado em Direito pela Faculdade de Direito da USP (Arcadas) (1973);
-Mestre em Direito Público (Constitucional) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;
- Especialista pela FGV, em Finanças (EAESP) e Crimes Econômicos (GVlaw);
-Orador Oficial e Conselheiro do Instituto dos Advogados da São Paulo e
 -CEO de Sampaio Gouveia Advogados.


Nota do Editor:

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Um comentário:

  1. Crônica é escrever o que vai na alma. Todos somos capazes.apenas olhando prá dentro. Gostei

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