domingo, 4 de junho de 2023

Não precisa ser tão pesado


Autora: Renata Pereira(*)

"E se ninguém gostar de mim?", "e se quem eu amo me abandonar?", "e se eu começar a perder dinheiro?", "e se eu falhar?", "e se eu ficar doente?". Se você tem pensamentos assim, provavelmente, você sente ansiedade e talvez, sinta seu coração disparar, desconforto no estômago, dificuldade para dormir e se concentrar entre muitas outras sensações desagradáveis; e, talvez, você lide com esses pensamentos e sensações tentando freá-los, abusando de medicação ou álcool, comendo, procrastinando, pedindo reasseguramento as pessoas, preparando-se demais, checando tudo o que faz muitas vezes, tentando ter certeza. Todas essas estratégias acalmam sua ansiedade e seus pensamentos temporariamente, mas não te tiram do ciclo, pois reforçam a ideia de que vai ser, de fato, horrível se essas coisas acontecerem e que você precisa evitar isso a qualquer custo ou será o fim, pois você não será capaz de aguentar se elas ocorrerem.

O ciclo acima ilustra o que pensa e como se sente uma pessoa preocupada, bem como tudo o que ela faz para tentar lidar com a preocupação, pois ela reconhece que seus pensamentos e ações não fazem sentido, mas simplesmente não pode evitar, não consegue fazer diferente e, quando se dá conta, já está pensando, sentindo e agindo assim outra vez. As pessoas ao redor lhe dizem que é besteira, que está exagerando, que precisa parar com isso, pois está se tornando chata e pesada, dão mil conselhos para tentar ajudar, o que muitas vezes, só piora as coisas, pois a pessoa preocupada sente-se incompreendida, pode ficar brava e então, são gerados conflitos no relacionamento, o que traz sofrimento a todos os envolvidos.

Preocupações são úteis somente quando nos ajudam a planejar coisas que são realmente necessárias e quando temos de pensar em soluções para problemas reais. A questão é que as pessoas preocupadas acreditam que, ao se preocuparem estão sendo responsáveis, que a preocupação as prepara para o pior e diminui seu sofrimento se algo ruim acontece, acreditam que a preocupação é o que as motiva a fazer as coisas, que foi graças a ela que chegaram onde estão... mas, o principal motivo pelo qual as pessoas se preocupam é que, enquanto estão fazendo isso, não sentem o medo, a tristeza ou qualquer outra emoção desconfortável gerada pelos pensamentos citados no início do texto e não têm de lidar com a incerteza.

De modo geral, as principais coisas com as quais as pessoas se preocupam são: finanças, saúde, aparência, relacionamentos e rejeição. O que vai levar as pessoas a se preocuparem mais com uma dessas coisas e não com outra é sua historia de vida e as crenças que a pessoa tem sobre si mesma, por exemplo, uma pessoa que passou por muitas dificuldades financeiras na infância ou que cresceu em uma família que se importa muito com status, pode se preocupar muito com fracassar profissionalmente ou ficar sem dinheiro. As crenças que uma pessoa constrói sobre si mesma a partir das experiencias que vivem também vão se relacionar com o tipo de preocupação que ela vai ter: alguém que acredita que só tem valor se tiver um par pode se preocupar muito com não ter um relacionamento ou com a possibilidade de perder o que tem.

Mas, afinal, como podemos lidar com nossas preocupações... aqui vão algumas dicas praticas e que realmente funcionam:

- faça uma lista sobre as vantagens e desvantagens de se preocupar para se motivar a fazer diferente;

- transforme preocupações improdutivas (perguntas sem respostas, uma cadeia de eventos, buscar uma solução perfeita e tentar controlar tudo) em preocupação produtiva (reconhecer o que se pode e não se pode controlar, que não há solução perfeita, que não é possível ter certeza, foque em uma pergunta para a qual há resposta e em um problema que é possível resolver), ou seja, em vez de ficar pensando, tome uma ação efetiva;

- evite evitar; faça agora as coisas que você tende a deixar para depois;

- aceite a realidade: tente ficar no momento presente e troque julgamentos e criticas por descrições, é assim que as coisas são no momento, é assim que você é, não lute contra a realidade, quando você aceita as coisas como são fica mais fácil muda-las;

- marque uma hora para se preocupar: separe de 15 a 20 minutos por dia para pensar nas coisas que te preocupam;

- não tome seus pensamentos como verdades absolutas: sempre se pergunte existem outros modos (positivos) de ver essa situação, pois o que te faz sofrer não é o que acontece, mas a forma como você enxerga o ocorrido;

- você não é seu desempenho: se fracassar em algo, isso não diz nada de quem você é;

- tente reconhecer e vivenciar suas emoções, não tenha medo de senti-las;

- planeje atividades agradáveis; e

- desligue a urgência: a maioria das coisas com as quais nos preocupamos não precisam, de fato, ser resolvidas imediatamente.

Espero que você consiga colocar essas dicas em pratica e que elas te ajudem a se sentir menos ansioso e sobrecarregado, bem como a desfrutar da vida com mais leveza, vivendo bons momentos perto de quem você ama.

REFERÊNCIAS:

Leahy, R.L. (2003). Cognitive Therapy Techniques: a Practitioner¨s Guide. Nova Iorque: The Guilford Press.

*RENATA PEREIRA























-Psicóloga formada pela Universidade Prebsteriana Mackenzie;
-Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; e
Atende adolescentes e adultos em psicoterapia individual e em grupo.
CONTATOS:
E-mail: renatapereira548@gmail.com
Twitter:@Repereira548

Nota do Editor:

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