quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A sociedade conectada




Esses dias uma amiga me perguntou se eu tinha visto a notícia do menino sírio que morreu na praia. E eu falei que não, porque sou dessas sensíveis demais. Então pedi pra ela me contar delicadamente o que tinha acontecido. Logo percebi que ela também não leu a matéria, somente o título. E mesmo assim, considerou como lido e entendido. Acho que hoje sofremos desse mal. Somos a sociedade do imediatismo.A sociedade conectada 7 dias na semana e 24 horas por dia, mas que curte sem ler, compartilha sem concordar e veste a camisa sem entender. Somos uma sociedade totalmente hipócrita, que compartilhou a notícia do menino sírio e se comoveu, sem nem entender o que está acontecendo.

É sério que somos assim? Sabemos como mudar para melhor, salvar os cachorros abandonados, ter uma barriga sarada em uma semana e criticar um governo do qual somos omissos. Sabemos tudo sobre o que acontece nas redes sociais, mas não entendemos o que acontece com a prefeitura da nossa cidade. Nos preocupamos tanto em participar e estarmos ativos digitalmente, que esquecemos de dar bom dia para o padeiro – mesmo que a gente faça check-in na padaria. Somos tão fúteis que curtimos uma foto no Instagram, mas não sabemos fazer um elogio pessoalmente para o amigo.









Postamos tantas e tantas informações inúteis, que paramos de nos preocupar com o que realmente é válido. Será que a lei ainda é válida ou fazemos justiça publicando tudo virtualmente? Nos tornamos justiceiros online e alienados offline? Sinto que temos preguiça de ler, entender, questionar e opinar. Acredito que todos podemos acrescentar algo para alguém, mas estamos ocupados demais para isso. Ingressamos na faculdade para irmos às festas e nunca deixamos a vida de universitários passar, vamos a congressos porque a empresa paga, vivemos em um modo automático porque é mais fácil, nos contentamos do jeito que está porque fazer algo diferente dá trabalho.

Estamos deixando o nosso cérebro atrofiar cada vez que jogamos Candy Crush. Não temos energia para toda essa conectividade. Eu sei que você lembrou do meu aniversário porque o Facebook te notificou. Mas sabe, as coisas perdem um pouco a importância exatamente por isso. Um parabéns no nosso mural não significa nada hoje em dia. Temos preguiça de manter contato e queremos ficar conectados o tempo inteiro. Temos preguiça de nos doarmos um pouquinho para saber como o outro está, e queremos ver o que todo mundo postou. Temos preguiça de ficar online para a vida, porque precisamos checar as nossas notificações. Achamos bonitas fotos de natureza no Instagram com a hashtag #naturemas não olhamos pra outro lugar, se não a tela, quando estamos na rua, na praia, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Queremos acompanhar em tempo real o que não precisamos com o tempo que não temos. 

As coisas perdem a graça se a gente não compartilha, eu sei. Então vai para o bar e conta para os amigos o que aconteceu, o que você pensa sobre a Dilma, o que você entendeu do livro que leu, o que rolou na festa e como foi sua viagem. Construam diálogos inteligentes, sejam decentes e ajudem ao próximo sem nada em troca – sem qualquer registro, foto ou vídeo. Usem mais a sua própria memória do que a memória do celular.

Vamos fazer mais bilhetes no guardanapo pra avisar que chegaremos tarde ou que tem comida na geladeira? Vamos ligar para a pessoa e ouvir a voz dela. Quem não se encanta com pessoas que atendem o telefone sorrindo? Não conhecemos mais a letras das pessoas e nem as suas casas. Vamos voltar a assistir filmes juntos? Eu levo a pipoca e você a Coca-cola. Vamos nos ver e nos abraçarmos mais. Existe conexão melhor do que essa?

Nunca antes visto na história da humanidade uma sociedade tão hipócrita quanto a nossa. 

Só conseguimos ser felizes nas redes sociais porque no dia a dia não dá tempo, não tá bom, ta chovendo, estamos sem maquilagem e sóbrios. Vivemos uma vida falsa para conseguirmos postar e nos sentirmos pertencentes a esse circo deprimente. Quando o assunto é offline, não temos tempo e somos tão frustrados com nós mesmos porque não sabemos pra onde estamos indo.

Vivo em um mundo onde o digital está caracterizando o que será o futuro. E eu não gosto do que vejo.

Vivo em um mundo onde vivemos para termos o que postar e ganharmos curtidas, e isso é mais do que triste. Vivo em um mundo que não se olha nos olhos, mas que se sabe como salvar a humanidade: é só compartilhar ideias, notícias e memes mal lidos e esperar que algo aconteça. Uma pena que ninguém compartilhou nada antes do menino sírio morrer não é?

NOTA DO ADMINISTRADOR DO BLOG: 

Sei que não são todas as pessoas que agem da forma referida no texto mas se repararem vão ver que existem muitas que agem assim.

Comunicar com os outros não é só digitar pelo WhatsApp, não é   só curtir e dar RT pelo Twitter, não é só postar textos e fotos pelo Facebook e Instagram.

Quantas vezes vi tweets do tipo "Sigam que eu sigo de volta" "Me sigam estou com quase 10000 seguidores".

Para muitos ter seguidores é "status"! Está certo isso? Entendo que não! Sou adepto da qualidade e não da quantidade!!

Concluindo digo para quem se enxergou no texto: Que tal mudar isso?

Que tal procurar interagir mais com quem tweeta ou se comunica pelo Face ou pelo Instagram! Que tal deixar de ser automâto e ser mais humano?

Postado originariamente no dia 17.09.2015 em http://www.verdadeescrita.com/

Por REBECA STIAGO CESTARI

Rebeca Stiago Cestari



-Bacharel em Comunicação Social;
-Blogueira e
- Entusiasta das novas tecnologias
Email:@RebecaStiago

3 comentários:

  1. Excelente e oportuno texto sobre a incomunicabilidade das pessoas na era digital. A falta de conteúdo suprida pelos aplicativos e programas disponibilizados na rede. A desumanização a serviço da informação fast food. Leitura que recomendei e recomendo.

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  2. Muito bom e verdadeiro! Um ótimo texto para reflexão e ajustes nessa ansiedade louca de todos, como se não fosse dar tempo de viver, e enquanto isso se vive mais no virtual, e a vida mesmo, vai passando...

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  3. Discordo apenas da conceituação de "hipócrita".

    Vejamos o conceito, do bom e velho Houaiss:

    hipócrita


    adjetivo e substantivo de dois gêneros ( sXIV)

    que ou aquele que demonstra uma coisa, quando sente ou pensa outra, que dissimula sua verdadeira personalidade e afeta, quase sempre por motivos interesseiros ou por medo de assumir sua verdadeira natureza, qualidades ou sentimentos que não possui; fingido, falso, simulado

    ‹ não creia em ninguém dessa família, são muito h. › ‹ o h. finge que te preza, mas por trás está armando o bote ›


    adjetivo de dois gêneros

    que contém hipocrisia

    ‹ elogio h. › ‹ demonstrações h. de afeto ›
    Etimologia

    gr. hupokritḗs,oû 'o que dá uma resposta, esp. intérprete de um sonho, de uma visão; adivinho, profeta; ator, comediante; velhaco, hipócrita'; f.hist. sXIV hipocrita, sXIV ipocrita, sXV ypocrita
    Sinônímia e Variantes

    como adj.: ver antonímia de sincero; como adj.2g.s.2g.: ver sinonímia de enganador, fingido e santarrão
    Antonímia

    leal, sincero; como adj.2g.s.2g.: ver sinonímia de sincero e antonímia de trapaceiro

    Hipócritas, não ! Alguns, talvez. Mas, a maioria, apenas descuidados,

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