sexta-feira, 10 de abril de 2020

O Dualismo das Emoções


Autora: Mônica Santiago(*)


Palavras-Chave: 
Comportamento; Comoção; Efemérides; Evangelho. 

"Aprendi a viver contente - diz o Apóstolo das Gentes – na dificuldade e na alegria, aprendendo sempre a louvar o Senhor".     
 Filipenses, 4:12 e 13

O mundo ainda experiencia o limiar do Século XXI e o Ano 2020 que apresentava-se promissor em todas as áreas do Conhecimento e da atuação das criaturas, de repente, para a maioria, se transforma num mar revolto de tormentas, medos, ansiedades, impaciências, pânico e histeria, enquanto outros, inflam toda essa tragédia pessoal e coletiva com falácias noticiosas do caos, e outros ainda, porque investidos de algum poder temporal, se arvoram em instituir decretos arbitrários com bases em premissas carecedoras de comprovação, que apenas geram mais temores e insatisfações resultando em confusão e desordem.

Naturalmente, quando variáveis exógenas, quais as ameaças surgidas de uma pandemia, atingem os anseios, os sonhos e os projetos das pessoas, estendendo-se para toda a comunidade e para o País e para o mundo inteiro, instintivamente, há a reação por meio dos fatores perturbadores da paz que desestabilizam emocionalmente os indivíduos e, por conseguinte o todo, levando ao adormecimento da razão lúcida e do bom senso que, se despertados, permitiriam encontrar-se as técnicas e os meios devidos para a superação das inconveniências e dos desconfortos eventuais, na direção de respostas positivas aos desafios da vida, ao encontro de roteiros seguros visando alcançar aquilo que seja o melhor para o progresso almejado no campo individual e coletivo. 

A emoção é um estado de ânimo despertado por um sentimento qualquer, seja filosófico, religioso, político, estético, social, que se move moralmente, numa reação intensa e breve do organismo por um lance inesperado, e que vem acompanhado de um estado afetivo que pode ter uma conotação penosa ou agradável. 

Essa emoção advinda de situações diversas pode causar uma variação ou perturbação no espírito humano que se manifesta, por exemplo, pelas dicotomias de alegria ou tristeza, de raiva ou mansidão, de rancor ou complacência, podendo ainda resultar em abalo moral ou comoção individual ou coletiva.  

No dualismo das emoções exacerbadas pelas contingências afligentes, ao perceber que seus projetos e sonhos de vida em todas as situações, sejam quais forem, na instância da economia material, dos negócios, de trabalho, de investimentos, de aquisições de bens e valores; sejam nas instâncias políticas ou sociais, na sanha de poder mais, de aproveitar a situação e desejar o quanto pior melhor para que esse indivíduo se dê bem na sua concepção e cegueira egoística; a criatura que não é totalmente boa nem má, é mediana, medíocre, valoriza com maior destaque as perdas do que os ganhos. 

Assim tem sido desde há dois mil anos quando o Cristo de Deus curava as dores de enfermos do corpo e da alma, libertava obsessos e endemoniados, e enquanto aquele que tinha sido curado deslumbrava-se de alegria e contentamento, outros, cuja inveja e o desprezo não permitiam as bençãos alheias, vociferavam agressivos, maldizendo a cura e o Curador. 

Aconteceu no crepúsculo de um dia em Gadara, uma importante cidade no território de Decápolis, na Transjordânia a meio caminho entre o Mar Morto e o Mar da Galileia, conforme anotado nos Evangelhos sinóticos de Marcos, 5:1-20; Mateus, 8:28-34; Lucas, 8:26-39, que um homem, desgrenhado que habitava entre os sepulcros, corre ao encontro do Senhor Jesus bradando em alta voz: "Que tenho eu Contigo, Jesus, Filho do Altíssimo? Conjuro-Te por Deus, não me atormentes."

O Mestre Divino, conhecedor das mazelas no íntimo das criaturas, no ensejo de libertar o sofredor que tendo sido preso por inúmeras vezes com cadeias e grilhões, quebrava e despedaçava tudo e, ninguém podia subjugá-lo tal o grau da força física que lhe impunham "Legião", como ele próprio nominou os espíritos que o martirizavam ao ser questionado pelo Senhor, então, ordena, com a força moral da qual se achava investido o Filho de Deus, que "Legião", os espíritos imundos, abandonassem aquele homem.

Completamente perdidos, porque atormentados se compraziam em atormentar sem despertar para a própria dor e sofrimento, aqueles espíritos, conforme as Escrituras, "entraram" nos porcos e a vara, cerca de duas mil cabeças, assustados, precipitou-se no despenhadeiro para o mar onde se afogaram perdendo-se todo o rebanho. 

A cura fora instantânea e comovedora, deslumbrara a todos os circunstantes. Porém, as reações daqueles que perderam seus animais de criação, aturdira-os sobremaneira, pois, os gerasenos, coléricos, bradando agressivamente, expulsaram o Mestre e Seus Discípulos daquelas terras. Não pensaram no enfermo que tivera a saúde restaurada. E, como se preocupavam mais com os suínos do que com o próximo, expulsaram também o homem recuperado sob a acusação de ser o responsável intermediário pelo prejuízo dos porcos que se atiraram ao Mar... 

O que é perceptível aos olhos do observador atento, é que no uso do livre-arbítrio, quando o indivíduo defronta as opções para agir com segurança, corretamente ou não, ele, invariavelmente, escolhe a opção perniciosa por encontrar-se aturdido por paixões e ilusões desgovernadas a respeito da vida verdadeira e real num mundo de temporalidades que ele busca sofregamente, a tudo e a todos enxergando por lentes distorcidas. Assim, aqueles gerasenos expulsaram de “suas” terras o Senhor da Vida e perderam, então, a oportunidade de compreender e se converter à espiritualização de suas próprias almas, único alvo que deve a criatura mirar ante a impermanência da vida neste mundo. 

Reflexionando junto ao Apóstolo dos Gentios, como na epígrafe deste artigo, Paulo, o doutor de Tarso, escreveu também aos irmãos de Corinto em Coríntios, 9:25: "O gladiador, o atleta preparam-se tenazmente para vencer NO mundo, mas, aquele que desejar vencer O mundo, à semelhança de um atleta, prepare-se para adquirir a coroa incorruptível da paz." 

Em tempos de incertezas, medos, angústias e comoções, o melhor mesmo é buscar a paz! 

 Referências Bibliográficas - Obras e Livros consultados:


Bíblia Sagrada – 64ª Edição – Editora Ave Maria Ltda;

Evangelhos Segundo São Marcos; São Mateus, São Lucas;

Atos de Paulo – Epístola aos Filipenses, 4: 11-14;

Atos de Paulo – Epístola aos Coríntios, 9:25;

Livro: Princípios Quânticos no Cotidiano – A Dimensão Científica da Consciência, Espiritualidade, Transdisciplinaridade e Transpessoalidade. Wallace Liimaa. Ed. Aleph Ltda – 2011;

Livro: A Tempestuosa Busca do Ser. Stanislav e Christina Grov – Ed. Cultrix – 10ª Ed. 1998;

Livro: O Problema do Ser do Destino e da Dor – Léon Denis. FEB Editora. 15ª Ed.- 1989; e

Livro: A Doença Como Caminho – Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke – Ed. Cultrix – 1983.

* MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO




















-Advogada. Especialidades: 
   -Direito de Família e Sucessões, 
  - Direito Internacional Público, 
  - Direito Administrativo; 
 - Lato Sensu em Linguística e Letras Neolatinas; 
 - Degree in English by Edwards Language School – London - Accredited by the British Council, a member of English UK and a Centre for Cambridge Examinations; 
 -Escreve artigos sobre Direito; Política; Sociologia; Cidadania; Educação e Psicologia. 
Nota do Editor:

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12 comentários:

  1. Minha doce amiga, sempre nos brinda com a lucidez de suas reflexões, me fez pensar ainda nos encontramos com as características dos gerasenos muito gritantes em nós, agimos no calor da emoção deixando o instinto falar mais alto, embora portadores do livre-arbitrio mas na maioria das vezes sem responsabilidade nenhuma para usa-lo assim seguimos protagonista de atitudes inconsequentes a gerar situações nada confortadora para nós mesmo e para o próximo.
    Penso que precisamos despertar para a inteligencia emocional e com isto seriamos muito mais útil na batalha a que somos convocados a travar entre o bem e o mal ( dentro de nós mesmos) e tornarmos doadores de uma energia mais qualificada a contagiar a nossa Mãe Terra, só assim teremos força para mergulhar e vencer no mundo , ou seja estar no mundo sem ser do mundo.......
    Obrigado por nos fazer refletir

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  2. Obrigada a você, Marilaque!!
    Pela gentileza de tão generoso comentário!
    Não é mesmo verdade que ainda temos muito das gentes dos primeiros tempos do Cristianismo?!!
    Que o Senhor da Vida tenha misericórdia de todos nós!! Paz!!

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  3. Parabéns pelo artigo. Gostei muito.
    Francisco.

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  4. Sra Monica, fica aqui a minha admiração por uma pessoa extremamente qualificada, que fala com propriedade e lucidez.
    Precisamos ter muito equilíbrio, para ñ termos atitudes como os gerasenos.
    Brasil acima de tudo, e Deus acima de todos.

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    1. Obrigada, Daniel !!
      Por seu comentário generoso! Sim, que Deus nos dê sabedoria para não repetirmos os mesmos erros de há dois mil anos.
      Feliz Páscoa de bençãos pra vc!!

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  5. Parabenizar pela sua lucidez e propriedade na narrativa.
    Precisamos ter equilíbrio para ñ agirmos como os girasenos.

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  6. Parabéns Mônica pela explanação, traduz todo o nosso pensamento e traduz o que se passa com o ser humano nos dias de hoje também, muito esclarecedor e educativo.

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  7. Obrigada, JCP!!
    Por seu comentário gentil, graças!!
    Paz e bençãos!!

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  8. Parabéns Monica, muitos elementos para muitas reflexões, muito bem colocado o dualismo que nos cerca... Será que somos, a humanidade, os modernos gerasenos tangidos para o mar pelo COVID-19?

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    1. Prezado amigo, Assaruhy!

      É uma grande honra contar com a atenção de sua leitura e com a gentileza de seu comentário!
      Creio que sim, somos os Gerasenos dos tempos modernos, tangidos para o afogamento nas próprias torpezas do orgulho, do orgulho ferido, das paixões atormentantes e das ilusões na ganância das superfluidades.
      Gratidão por maiores reflexões!!
      Paz e bençãos ao seu coração generoso!!

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