segunda-feira, 31 de julho de 2017

Brincadeira de Esconde-Esconde






― Para Karol ―
O que eu gostaria de saber é aonde você se escondeu.

Já lhe procurei tanto e por toda parte! E, diabos!... Não pude lhe encontrar! Você não está, por exemplo, nos quatro cantos desta nossa casa tão simplesinha em seu encanto. Não está escondida atrás dos móveis, dentro dos armários, debaixo da cama, nem tampouco enrolada nas toalhas do banheiro.

Você não está escondida, também, nos meses do calendário pendurado na parede da cozinha. Nem nas semanas, nem nos seus dias de segunda a segunda. Onde você está, saco?!...

Já lhe procurei por entre as ramagens delicadas das samambaias nos muitos vasos espalhados no parapeito da varanda, intercalados aos dos jasmins e aos das rosas. E nada!... Não lhe encontrei. Muito menos, claro, nas nuanças de suas cores e, também, na profusão de seus perfumes . Nada. Simplesmente, nada.

Não lhe encontrei entre o alvoroço das abelhas em seus enxames endiabrados. E, lógico, que procurei por você no néctar que elas retiram dos servis lírios do campo do nosso jardim.

Tola tentativa foi vasculhar as montanhas pintadas de azuis e de verdes salpicados de marrons; vivas e arreganhadas aos muitos rios com suas quedas d'água, ou aos muitos riachos com suas pedras roliças, com seus seixos.

Você não se escondeu nas nuvens de desenhos alucinados como se encharcadas de LSD. Também você não se escondeu no clarão ardente do sol de meio-dia, nem nos laranjas amarelados do nascente, tampouco nos magentas agonizantes do poente. Você não estava no brilho opaco da lua, nem no pipocar das muitas, e muitas, e muitas estrelas.

Mas, não desisti! Mesmo exausto, não desisti!... E estava exatamente lhe procurando nas marcas da maré deixadas na praia quando me deu um estalo. Então, sorri, inicialmente. E depois, gargalhei. E gargalhei tão alto que afugentei, para as ondas mansas de todas as manhãs, os incontáveis siris recém despertos.

Aquele estalo que me deu, bastou pra lhe achar.

É que, sapeca, como você sempre foi – e será – achou um lugar que concebia ideal pra se esconder.

Tola e ingênua como também você sempre foi – e será – foi descoberta, por fim, brincando DENTRO DO MEU CORAÇÃO.

POR LUÍS LAGO


















- Acriano, por criação ─ Paulistano, por adoção ─ Cearense, por paixão;
- Cronista, por obsessão ─ Artista plástico e fotógrafo, por distração ─ Psicólogo, por formação e

-Autor de "O Beco" (poesias) e de "São tênues as névoas da vida" (romance EM estilo de "realismo fantástico")

Nota do Editor:


Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário