quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Antídoto à Crise Pós-Moderna: Busca pelas Virtudes Cristãs


Diversos filósofos e sociólogos conceituam nossa época como sendo a pós-modernidade. Uma era instável, na qual o sujeito está submetido à sua própria capacidade para se realizar.

Zygmunt Bauman chamou nossa época de modernidade líquida, na qual todas as estruturas que antes davam substrato à vida humana, uma orientação e solidez se liquefazerem, se adaptando constantemente ao desejo individual. 

O projeto de vida administrada e orientada pela ciência que a modernidade pregoou não se concretizou, gerando uma lacuna no sentido da existência do projeto humano, no qual essa utopia moderna se estabelecia como um tipo de superação do medieval.

Não há mais nada que limite o indivíduo e sua liberdade, não há padrões ou censuras nas quais ele deve se adaptar. Cabe ao indivíduo olhar a realidade que o cerca e adaptar-se a ela, identificando condutas e assumindo posturas de acordo com o lugar em que se situa.

As referências que antes orientavam o sujeito se esfacelaram diante da autoconstrução individual. A modernidade líquida é marcada por esse primado do indivíduo, que age e move-se com rapidez e não se prende a nada sólido. Nem a estruturas que antes o condicionava como o tempo e o espaço são barreiras, pois ele é “nômade” e “extraterritorial” e se move na velocidade do sinal eletrônico. 

A percepção do mundo nos faz perceber a história e a realidade sem uma perspectiva de finalidade. As gerações mais jovens cada vez mais desconfiam da possibilidade de se criar um Estado capaz de regular a vida dando uma orientação sólida, justa, boa, sem conflitos ou ambivalências, isso parece ser uma quimera romântica. 

O indivíduo percebe-se como responsável por encontrar-se e realizar-se. Aquilo que era confiado a humanidade enquanto tal, agora é dado a administração do indivíduo e seus recursos.

Não se pode ficar parado, o mundo é veloz e eu devo ser também. Devo estar num processo de atualização constante, quem para logo é marginalizado, substituído. O processo é contínuo, mas não é claro o caminho a ser seguido, somente que devemos correr em direção a algo.

Reside certa angústia neste constante processo de individualização, pois os sujeitos estão somente justapostos. O indivíduo tem empatia pelo problema do outro, pois ele sofre de coisas semelhantes, mas isto não gera um problema coletivo, cada qual tem a obrigação de resolver suas próprias questões. "A única vantagem que a companhia de outros sofredores pode trazer é garantir a cada um deles que enfrentar os problemas solitariamente é o que todos fazem diariamente – e, portanto – renovar e encorajar a fatigada decisão de continuar a fazer o mesmo" (Bauman, Z. Modernidade Líquida. Zahar, 2000. p.49).

O ego está nu e só, caminha sem direção. Toda esta autodeterminação do sujeito gerará uma enorme angústia, parafraseando a Freud em sua famosa obra "o mal-estar na civilização".

Bauman fala sobre o mal-estar da pós-modernidade, onde homens e mulheres abdicaram de um tanto de sua segurança em nome de mais liberdade e autonomia, na busca do prazer e que possibilita uma pequena segurança individual. E este estado é permanente, a "individualização é uma fatalidade, não uma escolha" (idem, p.47), na qual o indivíduo está condenado a tatear em busca de si.

Nesse cenário difuso e confuso, parece que a humanidade deve recorrer a tradição ocidental que começou a ser perdida a partir do humanismo. 

Reencontrar a finalidade do homem que ocidente elaborou na junção entre a percepção clássica, dada pelos gregos e o embate da moral cristã.  E a tradição católica compreendeu que há um ideal de homem a ser buscado, que viver guiado pela satisfação dos desejos e paixões conduzem o ser humano ao vício e ao pecado, e consequentemente a se perder em si mesmo e a danação eterna.

A vida humana individual é confusa e incapaz de orientar o sujeito eficazmente, pois o intelecto individual é incapaz de dar finalidade a si mesmo.

Naturalmente, nós humanos sentimos uma atração a ordem, beleza, verdade, bondade ... que percebemos fora de nós. Esses elementos que não estão dados a alma individual, mas antes, devem ser buscados. Essa compreensão confere finalidade ao homem, não uma finalidade reduzida, que se esvaece com o desejo individual, mas uma finalidade que confere ao indivíduo a participação no projeto de humanidade. 

Dessa maneira, longe dessa confusão pós-moderna na qual grande parte da humanidade se encontra.

E para tal processo, a tradição católica compreendeu que existem virtudes que o sujeito deve buscar para que viva sua vida com propósito, rompa com o egoísmo de suas paixões, alcance um ideal de humanidade e cumpra com sua vocação à vida eterna e sobrenatural. As virtudes são sempre disposições individuais, não é uma característica, mas uma inclinação, um esforço constante para ter hábitos que conduzam ao bem.

A tradição católica definiu dois tipos de virtudes: teologais e humanas.

As virtudes teologais são virtudes infusas na alma humana por Deus para fazê-lo viver com um filho de Deus. Elas são a fé, a esperança e a caridade.

A fé "é a virtude teologal pela que cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe" (Catecismo, 1814). Pela fé o homem entrega-se inteira e livremente a Deus, e se esforça por conhecer e fazer a vontade de Deus: "O justo vive da fé" (Rm 1,17).

A esperança “é a virtude teologal pela que aspiramos ao Reino dos céus e à vida eterna como felicidade nossa, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas nos auxílios da graça do Espírito Santo” (Catecismo, 1817).

A caridade "é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo e a nosso próximo como a nós mesmos por amor de Deus" (Catecismo, 1822). Este é o mandamento novo de Jesus Cristo: "que vos ameis uns a outros como eu vos amei" (Jo 15,12).

"As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais do entendimento e da vontade que regulam nossos atos, ordenam nossas paixões e guiam nossa conduta segundo a razão e a fé. Proporcionam facilidade, domínio e satisfação para levar uma vida moralmente boa" (Catecismo, 1804). Estas "se adquirem mediante as forças humanas; são os frutos e os gérmenes dos atos moralmente bons" (Catecismo, 1804).

Entre as virtudes humanas há quatro chamadas cardeais porque todas as demais se agrupam em torno delas. São a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança (cf. Catecismo, 1805).

A prudência "é a virtude que dispõe a razão prática a discernir em toda circunstância nosso verdadeiro bem e a eleger os meios retos para o realizar" (Catecismo, 1806). É a "regra reta da ação".

A justiça "é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido" (Catecismo 1807).

A fortaleza "é a virtude moral que assegura nas dificuldades a firmeza e a constância na busca do bem. Reafirma a resolução de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza faz capaz de vencer o temor, inclusive à morte, e de fazer frente às provas e às perseguições. Capacita para ir até a renúncia e o sacrifício da própria vida por defender uma causa justa" (Catecismo, 1808).

A temperança "é a virtude moral que modera a atração dos prazeres e busca o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos" (Catecismo, 1809). A pessoa temperada orienta para o bem seus apetites sensíveis, e não se deixa arrastar pelas paixões. No Novo Testamento é chamada "moderação" ou "sobriedade" (cf. Catecismo, 1809).

Dessa forma, regressar a essa tradição sobre a compreensão do ser humano, sobre o propósito de sua existência, desvela-se como uma maneira de se viver neste momento caótico em que vivemos. Essa orientação de vida mescla suas raízes no período clássico e funde a reflexão de sábios e santos homens, que interpretaram e conduziram ao longo da história inúmeras almas diante as vicissitudes da vida. A busca pelas virtudes eleva o sujeito a humanidade, o que condiz com a graça de ser Filho de Deus.

POR FÁBIO DA FONSECA JÚNIOR



-Católico, professor de filosofia e história.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

2 comentários:

  1. A humanidade se esqueceu dos ensinamentos bíblicos e de jesus; as virtudes que ela almeja foge das virtudes divinas...😂😂🇧🇷🇧🇷🤗🤗

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  2. A humanidade se esqueceu dos ensinamentos bíblicos e de jesus; as virtudes que ela almeja foge das virtudes divinas...😂😂🇧🇷🇧🇷🤗🤗

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