domingo, 23 de agosto de 2015

Comportamento moral, será que o temos?



Comportamento moral é um conjunto de atitudes (virtudes) que geram o bem estar do indivíduo, sem que isso coloque em risco a preservação da cultura na qual ele está inserido ou cause prejuízos a outros indivíduos de seu grupo social. É, na verdade, o contrário do que vem ocorrendo atualmente, pois é como se as pessoas fossem estimuladas desde cedo a preocuparem-se mais com obter bons resultados do que a levarem em conta os comportamentos necessários para obtê-los, sem causar maiores danos a outrem. 

Virtudes ou comportamentos pró-sociais seriam formas de comportamentos, tais como: polidez, empatia, obediência, justiça, vergonha e culpa, e a capacidade de perdoar e reparar danos. O oposto disso, ou seja, violência, competitividade, desobediência, desonestidade, entre outros, são chamados comportamentos antissociais, com o sentido único aqui empregado para denominar ações que não contribuem para o avanço saudável de indivíduos e sociedades. 

Mas como estimular a adoção de formas de comportamento moral em uma sociedade que tende a se estruturar cada vez mais de forma a naturalizar a máxima de que os fins justificam os meios?. 

Skinner (1971) precursor da análise do comportamento, enfatiza que devem ser criadas situações sociais que reforcem comportamentos pró-sociais e que controlem os antissociais. Os primeiros devem sempre ser mais intensos e frequentes que os do segundo tipo. 

Os comportamentos de ambos os tipos passam pelos mesmos processos de aprendizagem: imitação, reforçamento, modelagem e aprendizagem por observação. Ou seja, os principais fatores que vão determinar se uma pessoa ou grupo social terá mais comportamentos pró ou antissociais são os modelos que tiveram e o tipo de consequências que seus comportamentos geraram. Neste sentido, as instituições socializadoras como: família, escola, religião e governos são muito responsáveis por esse processo. 

Mas, vamos nos ater aos aspectos que são indispensáveis ao desenvolvimento do comportamento moral. O primeiro deles é o conceito de autocontrole, que é definido por Skinner (1957) como a capacidade do indivíduo de controlar seu próprio comportamento através do manejo das variáveis que o afetam. Quanto maior o conflito entre as variáveis, maior deve ser a capacidade de autocontrole de alguém para conseguir realizar a ação que traga consequências positivas a ele e não prejudique os outros envolvidos. 

Por exemplo: em uma situação onde alguém deve escolher entre mentir ou dizer a verdade. Se essa pessoa vive em um grupo que reforça a honestidade, se ela é capaz de sentir vergonha e culpa e se teve em sua história de aprendizagem, experiências em que foi reforçada a dizer a verdade, ela provavelmente escolherá essa opção, ainda que corra o risco de ser punida pela ação cometida. Assim, fica claro que o autocontrole é importante, mas para que ele exista, a pessoa precisa ter tido uma história de vida que tenha reforçado outros tipos de comportamentos. 

Aprender a obedecer regras e saber reparar os danos causados a alguém também são comportamentos indispensáveis na construção do comportamento moral, pois todos os grupos sociais possuem regras e mesmo que as pessoas se esforcem muito para cumpri-las, em algum momento vão falhar e então, a reparação entra como uma saída possível e muito adequada, uma vez que ameniza situações em que os danos ocorrem, independente de sua gravidade. 

O comportamento moral possui suma importância para a continuidade das relações pacíficas entre as pessoas, mas não se deve alimentar expectativas pouco realistas em relação a como praticá-lo, pois ninguém é perfeito e realiza-lo de forma absoluta e inflexível, além de ser impossível traz prejuízos a quem tenta. Obedecer cegamente a todas as regras sem questiona-las pode tornar as pessoas dependentes de orientação e referência o tempo todo, tornando-as incapazes de encontrar suas próprias saídas e tomar decisões por conta própria; mentir, desde que não se torne um hábito nem prejudique outros, às vezes pode ser a melhor forma de evitar danos maiores. 

O objetivo desse texto foi trazer a reflexão de que o comportamento moral é muito importante para a sobrevivência das sociedades, mas é igualmente difícil de ser ensinado e aplicado, principalmente, quando os grupos sociais acabam priorizando metas como desenvolvimento científico ou individual. Deve ser dado, no mínimo igual importância e espaço para todas essas formas de desenvolvimento ocorrerem, principalmente porque o comportamento moral não impede o avanço de nenhuma delas, podendo até mesmo contribuir para isso. 

Para os que desejam se aprofundar no tema sugiro a leitura do livro "Comportamento Moral: uma proposta para o desenvolvimento das virtudes", organizado por Paula Inez Cunha Gomide, que está na segunda edição, lançada pela editora Juruá Psicologia, no ano de 2012, pois foi a fonte de referência e inspiração para a produção desse texto. 

Outras Referências: 

Skinner, B. F. (1971). O Mito da Liberdade. São Paulo, Martins Fontes. 
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. New York: Appleton Century Crofts.

Por RENATA PEREIRA




-Psicóloga formada pela Universidade Prebsteriana Mackenzie;
 -Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;
-Atende adolescentes e adultos em psicoterapia individual e em grupo.

CONTATOS:
Email: renatapereira548@gmail.com
Twitter:@Repereira548

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo que ajuda a pensar e entender a importância da educação para o comportamento moral saudável !

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