segunda-feira, 8 de maio de 2017

ENVELHECIMENTO: Por que evitamos falar sobre?




A população mundial tem envelhecido consideravelmente, inclusive a população brasileira. A expectativa de vida saltou e segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015 a população idosa brasileira representava 11,7%, e até 2039 esse número deve dobrar. Porém, a terceira idade não é mais a mesma, o significado de envelhecimento mudou. Os idosos hoje são mais ativos em relação às suas condições de saúde biológica, psíquica e social. Há quem denomine esse novo envelhecer de “envelhecimento ativo”, pois as pessoas que ainda vão viver mais algumas décadas têm uma grande oferta de liberdade e criatividade.

Há pessoas aposentadas que se acomodam, se isolam, e há outras que saem em busca de experiências e realizações.

Apesar de a população idosa ter crescido, por que ainda é um tabu para a maioria das pessoas falar sobre o envelhecimento? E como tem sido para a população lidar com os idosos?

Há diversos fantasmas que rondam a psique das pessoas acerca do envelhecimento: a mudança de papéis sociais, a perda de bens, de entes queridos, de crenças e valores, o abandono, a rejeição, o adoecimento e as consequentes limitações que aparecem diante dessa fase.

As famílias que mais se preparam para o envelhecimento, que discutem o assunto, são as que têm membros que lidam melhor com essa fase da vida. Não só uma preparação financeira, mas psicológica, social e física, proporcionam um envelhecimento com uma melhor qualidade de vida. Há nessas famílias uma cultura do envelhecimento.

Envelhecer, ao contrário do que se pensa, não significa adoecer. O adoecimento nessa faixa etária advém principalmente de um despreparo ao longo da vida para lidar com as consequências dessa fase do desenvolvimento humano, que exige alterações nos hábitos, nos cuidados com a saúde, e que traz limitações físicas e alterações biológicas. Além disso, o adoecimento psicológico é consequência de um estigma social que recai sobre o idoso: não ser mais visto como útil ou produtivo, sendo muitas vezes infantilizado ou desvalorizado; não ser visto como sexualmente ativo, viril ou atraente, sendo que ainda há desejo presente; ser visto como um peso, seja pela sociedade ou seja pela família, devido às alterações advindas da idade. Esses estigmas trazem grande sofrimento mental e emocional, podendo desencadear depressão, suicídio, outros transtornos emocionais e de ansiedade, por exemplo.

Logo, há uma resistência em se falar sobre o envelhecimento e de se deixar ver o idoso. Há uma cultura utópica da juventude e da beleza, do prazer e do imediatismo, que não representa o idoso. Na sociedade de consumo, voyeurista, a imagem é muito importante. Nas propagandas na televisão, nas revistas e na internet, o que se vê, majoritariamente, são pessoas jovens, adolescentes, que não representam a maior parte da população consumidora e produtiva. São modelos que representam uma fantasia do que todos querem ser: juvenis, desejados, poderosos, praticamente imortais e onipotentes, e ser como eles significa poder consumir e ter mais coisas. Praticamente não há representatividade para o idoso, e ele acaba por se sentir fora da sociedade de que antes participou. Ele não é visto mais como pessoa consumidora, logo não é visto mais como sujeito, e passa a se identificar com essa figura. O luto de sua própria identidade se faz presente, e nem sempre é possível elabora-lo, o que pode leva-lo a adoecer. 

Aceitar o fato da própria finitude é urgente. Para que isso ocorra, é necessário aprender a lidar com as perdas e com as mudanças da vida. As perdas são necessárias para que o amadurecimento venha. Como consequência, pessoas que aprendem a lidar com sua própria finitude não mais colocam fora de si aquilo que são delas e que não podem aceitar, não mais rejeitam e ignoram o idoso. Por meio da projeção rejeitam e ignoram seus próprios envelhecimentos, suas próprias limitações e receios. Ao contrário disso, é possível lidar com admiração, respeito e se posicionar com equidade diante da pessoa que está em uma fase da vida mais avançada.

Falar sobre o envelhecimento nas mídias, escolas, famílias, é necessário. É preciso que o idoso apareça mais, que não se deixe intimidar diante dos estigmas impostos a ele. É preciso que a sociedade cuide do idoso, o inclua e o reconheça, o proteja e que possa enxergar a beleza que há nele: maturidade, experiência, conhecimento, novas possibilidades de se exercer a sexualidade e novas possibilidades de produzir, talvez de outras maneiras que não condigam com os meios de produção capitalistas. 

Faço então um convite à reflexão: o envelhecimento é algo que acontece o tempo todo, desde que nascemos. O que tentamos evitar, afinal, ao fugir do avanço da idade? Há inúmeros mecanismos criados, vendidos e consumidos para mascarar e evitar envelhecer. Buscamos um eterno estado de infantilidade, onde não é possível discernir, amadurecer e ter liberdade?

POR DÉBORA GOMES VICTORINO









-Psicóloga na Casa de Rep-Graduada em Psicologia nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU);

-Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein; eouso Sabra em Várzea Paulista, onde atende idosos residentes na instituição.
Atua na área clínica utilizando-se da perspectiva psicanalítica. Consultório em Jundiaí/SP – Rua Capitão Ricardo de Toledo 191 / 10 andar – sala 1002 Chácara Urbana - Edifício Golden Office - Telefone: 11 95341-5813.
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