sábado, 14 de novembro de 2020

Leitura: hábito antigo mas não frequente




 Autora: Ianny Lima Maia(*)

Derivado do latim, a palavra ler origina-se da agricultura, que segundo Vânia Maria Resende "retira-se a significação de colher, que pressupõe o intercâmbio de quem colhe com o que se traz em cada ato de colheita (de coisas colhidas momentaneamente a coisas cultivadas com mais tempo e cuidado)". E talvez seja justamente pelo tempo de cultivo que se leva, que o hábito de ler seja tão infrequente, afinal criar hábitos requer disciplina e repetição.

Segundo o Instituto Pró-Livro, 52% dos brasileiros consomem livros, mas apenas 31% leram o livro inteiro. Podemos compreender que nosso país ainda necessita de uma longa jornada para que essas estatísticas possam melhorar nosso desempenho como leitores. Indiscutivelmente o ato de ler melhora nossa escrita, dicção, capacidade de análise, além de nos fornecer esclarecimentos, pontos de vista e conhecimento.

Ler, como vimos em sua etimologia, requer prática e cultivo. Entendemos que gradativamente o uso das redes sociais além do fortalecimento da indústria cinematográfica, cada vez mais tolhe a importância deste hábito, afinal os consumidores encontram mais facilidade em usufruir destes meios, que quase não requerem o trabalho mental. Desta forma trocamos palavras por emoticons ou figurinhas e replicamos fake news para evitar a fadiga de ter que pesquisar e ler a fundo sobre o tema visto.

A pesquisa do instituto concluiu que 67% das pessoas preferem dedicar seu tempo livre para assistir televisão, 66% usar a internet, 62% utilizar o Whatsapp, 51% filmes e vídeos em casa. Estes dados demonstram que não dedicamos nosso tempo para o hábito de ler e que apenas 38% leram o último livro de literatura por gosto. Dos pesquisados, 47% alega não ter tempo para a leitura, mas precisamos urgentemente tentar que leitores e livros se relacionem melhor.

Este ato que nos é tão benéfico e prazeroso deve ser cultivado desde a mais tenra idade, dividindo igualmente a responsabilidade entre escola, professores e pais a missão de criarmos novos leitores, porém assíduos. No que se refere à escola, esta deve investir, quando possível, em uma biblioteca com diversidade literária, novas edições, releituras e local propício e aconchegante para que aluno sinta prazer em realizar suas leituras.

Os professores igualmente aos alunos, devem também manter a prática da leitura buscando novas capacitações, estudos, pesquisas e o refinamento de suas aulas, que por vezes são extremamente teóricas e fogem do interesse do aluno. A título de exemplo, um professor de disciplina de áreas de conhecimento distinto das de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, pode e deve trabalhar e/ou sugerir leituras literárias ou não literárias que sejam complementares a suas aulas. Desta forma, o professor fortalecerá a ideia de que ler é um exercício importante que nos une ao conhecimento e ao mundo. 

Aos pais e familiares cabe a melhor forma de ensinar aos filhos, que é pelo exemplo. Estes devem participar de todo o processo para criar um leitor em casa. Um processo que inicia na trabalhosa alfabetização e que o simples ato de contar histórias já propicia um novo universo de palavras e estímulos para o conhecimento. Hábitos geralmente se criam em casa e pais que leem certamente terão filhos leitores.

Quando se é adulto e o hábito de ler ainda não existe, antes é necessário fazer as pazes com os clássicos que "líamos" na escola ou na preparação para vestibulares. Revisitar a literatura brasileira pode ser uma grande chance de você finalmente compreender Machado, Alencar, Guimarães, Lima Barreto ou se conectar com novos autores. Devemos estabelecer pontes com a leitura para evitar o retrocesso da sociedade e se você já chegou ao final da leitura deste artigo, você já está a um passo mais próximo para criar o hábito de ler, caso ainda não o tenha. 


Referências Bibliográficas 

RESENDE, Maria Vânia. Literatura Infantil e Juvenil: Vivências de leitura e expressão criadora. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997;

Retratos da leitura no Brasil.Instituto Pró-Livro: Fomento à leitura e acesso ao livro, 2020. Disponível em: <https://www.prolivro.org.br/pesquisas-retratos-da-leitura/as-pesquisas-2/#>. Acessado em 26 de outubro de 2020. 

*Ianny Lima Maia




 








-Graduada em Letras - Espanhol pela Universidade Estadual de Montes Claros (2013);

-Mestre em Letras/Estudos Literários no Programa de Pós Graduação em Letras/Estudos Literários (PPGL) pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)(2016);

-Fez parte do projeto de pesquisa Representação feminina e relações de gênero na Espanha do Século de Ouro: Tradição e Modernidade nas Novelas Ejemplares, de Cervantes (2011-2013).

-Desenvolve pesquisa sobre a mulher cigana nas literaturas brasileira, espanhola e francesa. 

Nota do Editor:


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