sábado, 15 de fevereiro de 2025

Para que serve o TCC segundo a percepção de estudantes e professores

 


Autora: Maria Thereza Pompa Antunes (*)



"[...] Foi então que o elefante, vendo aquilo, disse-lhe:

– "Você está louco? Acredita que estas poucas gotas de água podem apagar um incêndio tão grande?".

Ao que o passarinho respondeu:

– "Eu estou fazendo o que eu dou conta… estou fazendo a minha parte … e se todo mundo ajudar com o que puder com certeza conseguiremos alguma coisa".

Autoria desconhecida


Em meus três últimos artigos neste blog, ficou mais prementemente evidente a minha preocupação quanto aos rumos que a educação no Brasil está tomando, em tempos: da necessidade de capital intelectual numa sociedade do conhecimento (Antunes, 2023); da fragilidade da escrita em virtude da pouca leitura (Antunes, 2024a) e da introdução da Inteligência Artificial (IA) no dia a dia (Antunes, 2024b).

Motivada pela Fábula do Beija Flor de autoria desconhecida, mas amplamente divulgada pela voz de Herbet José de Sousa, o Betinho - sociólogo e ativista dos direitos humanos (1935-1887), venho nesse curto espaço insistir novamente nessa questão, tornando público aos leitores um projeto de pesquisa que estou coordenando, em que pretendo responder a seguinte questão de pesquisa: Qual é a importância atribuída pelos estudantes e professores dos cursos de administração ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)?

Via de regra, nos cursos em nível de graduação das Instituições de Ensino Superior (IES), a presença do TCC tem sido, ao longo dos anos, uma forma de o estudante ter contato com a aplicação do Método Científico. Ocorre que hoje sabemos que a Monografia/TCC é um componente curricular opcional para os cursos de administração (dentre outros), de acordo com o Parecer CNE/CES 146/2002, ficando a cargo de cada instituição que assim optar, por seus colegiados superiores acadêmicos.

De acordo com o mais recente Censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), das 2457 Instituições de Ensino Superior (IES) do país, 2153 eram privadas e apenas 304 públicas em 2020. Destas, apenas 203 (8,25%) eram universidades, ou seja, somente destas é requerido o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. A maioria absoluta das IES, 2.253 (91,75%), era representada por Centros Universitários, Faculdades, Centros Federais  de Educação Tecnológica (CEFET) e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET), sem compromisso com a realização de pesquisa e extensão. (SORDI, 2022)

Inquietação: Por que algumas IES continuam exigindo? Por que outras passaram a não exigir? Quem são essas IES? O que pensam sobre isso os seus coordenadores? O que pensam sobre isso os professores? E os alunos? A sua não obrigatoriedade é vista pelos estudantes como um alívio (ainda bem que não preciso fazer o TCC), ou como uma perda (não terei a experiência de desenvolver um conhecimento)?

Portanto, partindo-se do princípio que, ao mesmo tempo em que o Método Científico (MC) é fundamental para o desenvolvimento intelectual do estudante, notadamente em uma sociedade denominada por Sociedade do Conhecimento (Drucker, 1993) e que, apesar disso, o TCC passou a ser facultativo nos currículos dos cursos de graduação de algumas áreas do conhecimento (Parecer CNE/CES 146/2002) e, ainda, que, mesmo assim, algumas instituições de ensino optaram, no entender da autora deste estudo acertadamente, por manter o TCC na grade curricular (como é o caso da IES em que sou professora) esta pesquisa se justifica a partir do entendimento de que: onde não há pesquisa, não há leitura; onde não há pesquisa, não há o método científico; onde não há aplicação do método científico não há criatividade, não há espírito crítico e, muito menos, propostas para solução de problemas reais e desenvolvimento de novos conhecimentos.

Em sendo assim, se se pretende reverter esse quadro de deterioração da educação superior no Brasil, notadamente nas Universidades quanto ao item pesquisa inserido no princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, julga-se necessário conhecer o entendimento dos atores envolvidos nessa questão, ou seja, os alunos e os professores, o que é o objetivo do projeto em andamento.

Dessa forma, ao se dar início a essa compreensão no âmbito dos cursos de graduação em administração no Brasil, viso criar uma massa crítica e contribuir, assim, para a formulação de ações e políticas públicas consistentes e bem fundamentadas, que sejam capazes de reverter essa situação.

Reitero: é de se questionar como os estudantes e professores universitários vêm lidando com o Método Científico, considerando a sua associação relevante com o desenvolvimento do pensamento crítico e, consequentemente, com a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.

Concluindo: Àqueles professores e alunos de cursos de administração no Brasil que compartilhem das mesmas inquietações, e que queiram voluntariamente participar contribuindo para este estudo, peço-lhes que entrem em contato.

Tal como o beijo flor devemos fazer a nossa parte, acreditando que esse seja o caminho buscando o envolvimento de professores e jovens que, da mesma forma, acreditam na educação.

AGRADECIMENTO: Gabriela da Silva Gomes, estudante do 20 ano do Curso de Administração da EPPEN-UNIFESP, que acreditando na transformação da sociedade pelo conhecimento, participar deste projeto de pesquisa como orientanda de Iniciação Científica (PIBIC).

Referências

Antunes, M. T. P (2023). Capital Intelectual e Educação na atualidade brasileira, para onde estamos caminhando? Blog do Werneck. Disponível em: https://oblogdowerneck.blogspot.com/2023/07/capital-intelectual-e-educacao-na.html

Antunes, M. T. P (2024a). Se Mário Quintana estivesse vivo, o que diria? Blog do Werneck. Disponível em: https://oblogdowerneck.blogspot.com/2024/03/se-mario-quintana-estivesse-vivo-o-que.html

Antunes, M. T. P (2024b). Da necessidade do pensamento crítico em tempos de Inteligência Artificial (IA). Blog do Werneck. Disponível em: https://oblogdowerneck.blogspot.com/2024/07/da-necessidade-do-pensamento-critico-em.html

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/ Acesso em: 26/05/24.

Drucker, F.P. Sociedade Pós-Capitalista. São Paulo: Pioneira, 1993.

 * MARIA THEREZA POMPA ANTUNES

 
















-Graduação em Administração pela PUC/RJ (1984), com Especialização em Finanças pelo IAG/PUC/RJ (1985), e em Ciências Contábeis pela FEA/USP (2002);

-Mestrado em Ciências Contábeis pela FEA/USP (1999);

- Doutorado  em Ciências Contábeis pela FEA/USP(2004) 

Atualmente é professora de finanças do Curso Graduação em Administração na Escola Paulista de Política, Economia e Gestão (EPPEN) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP);

Tem 26 anos de experiência na área da educação, atuando como docente, pequisadora e gestora.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6278852648499064

 

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